ZERO HORA 04 de outubro de 2016 | N° 18651
POLÍTICA + | Rosane de Oliveira
O recado das urnas não poderia ser mais claro: o eleitor brasileiro está descontente com os rumos da política e expressa sua insatisfação deixando de participar do processo eleitoral ou votando nulo ou em branco, mesmo que esse protesto não tenha qualquer efeito prático. O elevado índice de abstenção na maioria dos municípios brasileiros sugere que o fenômeno é generalizado e que tende a se agravar no segundo turno, se os finalistas da eleição não se reciclarem.
Se em Porto Alegre, com nove candidatos disputando a prefeitura e 600 concorrendo a uma das 36 vagas na Câmara, 382 mil não se sentiram representados, o que esperar do segundo turno, quando será preciso escolher entre dois? Conquistar esses corações e mentes desencantados é o desafio número 1 de quem foi para o segundo turno, não só em Porto Alegre, mas também em Canoas, Caxias do Sul e Santa Maria.
Ainda que parte dessa abstenção deva ser debitada à desatualização do cadastro e outra às pessoas que estavam foram do seu domicílio, os números são chocantes se comparados aos votos dados aos candidatos. Nelson Marchezan, o primeiro colocado, que teve 213.646 mil votos. O total de abstenções acima da votação do melhor colocado se repetiu em outras 10 capitais, incluindo São Paulo, onde João Doria venceu no primeiro turno. Os brancos e nulos somaram 135 mil em Porto Alegre, número superior à votação do terceiro colocado, Raul Pont.
Em comparação com 2012, o crescimento das abstenções e dos votos brancos e nulos foi significativo em Porto Alegre. Há quatro anos, foram 199 mil ausentes e 82 mil brancos e nulos.
O desencanto dos eleitores coincide com um momento de descrédito dos partidos e das instituições relacionadas à política. Pesquisa recente do Ibope mostrou que em uma lista de 18 instituições, os partidos estão em último lugar na escala de confiança dos eleitores. Nessa lista, encabeçada por bombeiros, Igreja e Forças Armadas, os governos, o Judiciário e o Congresso estão na parte de baixo.
Líderes de diferentes partidos reconhecem que o recado das urnas é inequívoco e que o eleitor exige uma resposta. A maioria, incluindo o presidente Michel Temer, acha que essa resposta é a reforma política.
Ainda que seja compreensível o desencanto dos eleitores com a política em tempos de Lava-Jato, de impeachment e de promessas vazias, o voto branco ou nulo é um protesto inútil. Além de terceirizar a decisão, quem se omite pode estar contribuindo para a eleição de um candidato menos qualificado.
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