ZERO HORA 08 de junho de 2016 | N° 18550
+ ECONOMIA | Marta Sfredo
Há uma divisão de poder no Planalto Central, e não se trata do presidente interino, Michel Temer, e da presidente afastada, Dilma Rousseff. Uma parte da gestão provisória causa dor de cabeça e outra permite acalentar esperanças. No primeiro caso, estão os envolvidos em investigações. No segundo, estão integrantes da equipe econômica, a exemplo do indicado para a presidência do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn.
Na sabatina feita ontem no Senado, Ilan não enfrentou exatamente um desafio – cascas de banana foram previsíveis e quase ingênuas –, mas também não tropeçou nas próprias palavras, mais do que se pode dizer de muitos colegas de governo. Mesmo em um dia que começou incendiando os ânimos com o polêmico pedido de prisão de Romero Jucá, ministro por 11 dias, e dos presidentes do Senado, Renan Calheiros e afastado da Câmara, Eduardo Cunha, além de um adereço para o calcanhar para José Sarney, o mercado não se estressou. Preferiu confiar nas palavras melodiosas, ao ouvido dos investidores, do futuro presidente do BC: mais autonomia para a instituição, reconstituição do tripé macroeconômico – metas de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal – e a explicação óbvia para o fato de ser “sócio” do Itaú Unibanco.
Como funcionário graduado, o economista tinha ações como parte da remuneração, como ocorre na grande maioria das companhias de capital aberto. Não era um acionista relevante da instituição financeira.
É verdade que o governo Temer foi “ajudado” pelo cenário externo. Outro banco central, o Federal Reserve, dos Estados Unidos, havia dado sinais de adiamento da alta do juro prevista para este mês. Isso reduz a pressão sobre o dólar comercial, que ontem caiu para R$ 3,45, menor cotação desde a véspera da votação do impeachment no Senado. Na bolsa, o que auxiliou foi a melhora nas cotações das commodities.
Na aparência, o governo Temer tem sorte. Correu riscos desnecessários ao escolher ministros investigados – e outros ao respaldar nomes que terão futuro curto no governo caso as investigações da Operação Lava-Jato não sejam interrompidas. Teve sorte ao convencer um grupo de profissionais que acena com credibilidade, em um país com escassez dessa virtude, a aceitar cargos em seu governo. Ainda tem tempo de decidir com qual metade quer caracterizar seu período na Presidência.
Insistir em fazer de conta que limpou o Planalto de respingos da Lava-Jato pode ser mais cômodo politicamente, mas ameaça comprometer a gestão da economia, que selará seu futuro.
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