ZERO HORA 23 de novembro de 2015 | N° 18364
CLÁUDIO BRITO*
Quando não mais toleramos o quadro horrendo da imoralidade nacional, quando estouram os noticiários dando conta de uma delação premiada a desvendar os desvios milionários cometidos por políticos e empreiteiros, mais ou menos poderosos, com facilidade bradamos que é tudo uma barbaridade e que assim o Brasil vai mesmo à bancarrota. É bom refletirmos um pouco. Até onde somos membros de uma sociedade honesta representados por corruptos incorrigíveis?
Temos que admitir que parlamentares, governadores, prefeitos, ministros, colaboradores diversos e secretários, todos eles, nos representam. Sejam bons ou ruins, trabalhadores ou sugadores dos recursos públicos, chegaram aos cargos eletivos levados pela cidadania, cabendo dizermos a mesma coisa a respeito daqueles que os eleitos conduziram aos lugares de confiança.
É bom percebermos que estacionar indevidamente na vaga do idoso ou do portador de necessidades especiais é transgressão do mesmo jeito que oferecer ou receber propina. Pode-se discutir os preços das atitudes indevidas, mas, antes de quaisquer julgamentos, é indispensável que saibamos que estão em jogo exatamente os mesmos valores. Furar a fila, surrupiar um objeto esquecido sob a escusa de que “achado não é roubado”, é tudo a mesma coisa. Condutas indecorosas idênticas, seja nas licitações das obras públicas, seja no cotidiano prosaico de nossas vidas.
Ultrapassagens perigosas nas rodovias, só para passar à frente de quem tem os mesmos direitos que o transgressor, aceitar vantagens indevidas e prometer um voto, outras vezes pedir ou extorquir esses adiantos, todos são comportamentos indevidos. É triste concluir que o Congresso Nacional, que tantas vezes nos decepciona, está repleto de pessoas que nos representam. Sim, exatamente assim. Ninguém assumiu um gabinete e uma cadeira em Brasília sem o voto de cada um de nós. E todos os elegemos, sabendo muito bem em quem votávamos. Estar representado por quem segue a cartilha do bem não foi resultado da sorte, como não foi por nosso azar que os maus chegaram até lá. Quem faz gato na luz ou na TV a cabo, quem compra celular com procedência duvidosa, faz pirataria com música e cinema ou vai ao Paraguai agir como qualquer muambeiro perde a legitimidade de bradar contra os corruptos ou contra seus corruptores. Não se trata mais de falarmos em telhado de vidro. Estamos sem cobertura, a céu aberto com essa gente que nos representa.
*Jornalista
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