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quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O MILITANTE É CHATO


ZERO HORA 3 de novembro de 2015 | N° 18344



DAVID COIMBRA



Todo militante é um chato. Não importa a justiça da causa que ele defenda, no momento em que começa a carregar uma bandeira por onde anda, torna-se um importuno.

O militante não se transforma em advogado de defesa de um ideal; transforma-se em juiz. Ele passa a dividir os outros seres humanos entre os que estão contra e os que estão a favor do que ele pensa. Ou entre os que ele acha que são contra e os que ele acha que são a favor. E, é claro, condena os que são contra.

Infelizmente, o mundo do século 21 dispõe de uma fartura de militâncias jamais registrada na história da humanidade. Você está sempre cometendo algum erro, sob o ponto de vista de alguém.

Eu, aqui, eu cometo erros. Tenho cometido erros durante toda a minha vida, mesmo que tome cuidado. Minha lista de defeitos é interminável. Eu não sei dar tope, sabia? Tope, que digo, é laço. No sapato. No cadarço, quer dizer.

Pois não sei.

Mas, se você olhar para o cadarço do meu sapato, ele estará amarrado em um belo laço clássico e bastante harmônico. É que desenvolvi um método heterodoxo de dar tope. Assim: primeiro dou o nó comum. Depois, dobro pela metade cada lado do cadarço. Em seguida, ato mais um nó entre essas duas metades dobradas. Presto! Ninguém nunca desconfiou que aquele meu laço tão bonito não é feito do jeito convencional. Tenho vivido toda a minha vida assim. É uma fraude? É uma falsidade? Talvez. Mas não vou mudar agora, só porque você acha que o seu jeito de dar tope é o certo. Danem-se, você e seus nós de marinheiro!

Tenho muitos outros defeitos. Dezenas. Talvez centenas. Não duvido que milhares. E não será você que vai me julgar por eles. Agora, o que nós podemos fazer, eu e você, é julgar um militante. Sim, sim, coisa bem boa é julgar um militante e, evidentemente, condená-lo. Porque ele fica julgando os outros, ele fica enchendo o saco de todo mundo com aquela consciência dele, aquele seu discursinho em favor de alguma vítima de alguma coisa. Então, se ele cometer um erro, seja qual for, vamos endurecer o dedo indicador e apontar firmemente para ele. Ele vai ver o que é bom. Porque ele vai cometer erros. Ah, vai.

O militante, o que ele não entende é que todas as causas justas só serão atendidas quando houver respeito não pelo coletivo, mas pelo indivíduo. Uma coletividade só vive bem quando respeita o indivíduo. Parece uma contradição; não é. Quando uma sociedade se desenvolve no respeito à individualidade, ela não se torna individualista. Ela se torna uma comunidade de seres humanos que compreendem os limites da convivência. Eles sabem que a necessária convivência só funciona com a indispensável privacidade. Com a inestimável garantia do direito do indivíduo.

Quando o direito de um só é violado pela causa de milhares, a causa de milhares perdeu.

Viva o “Eu” heroico, digno, que resiste sozinho ao egoísmo dos coletivos! Viva! Só não me torno um militante do individualismo porque, bem, você sabe: todo militante é um chato.

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