ZERO HORA 19 de novembro de 2016 | N° 18692
HUMBERTO TREZZI
A noite de quinta-feira terminou com imagens fortes. Desesperado ao saber que teria mesmo de passar uma temporada atrás das grades do temido complexo penitenciário de Bangu, o ex-governador fluminense Anthony Garotinho (PR) grita, esperneia, ameaça fugir. Tenta escapar da ambulância, mesmo de camisolão reservado aos pacientes (quando foi preso, na quarta-feira, alegou doença cardíaca e pediu para ser submetido a tratamento coronariano). O juiz não se comoveu e Garotinho foi mesmo para o presídio, ante gritos de protesto de sua filha.
Cobri para Zero Hora a eleição de Garotinho como governador do Rio em 1998. Ex-comunista na juventude, ele estava brizolista na época em que chegou ao governo fluminense. Passaria depois pelo PMDB e finalmente desembocaria no PR, onde está até hoje, numa encarnação da volubilidade ideológica dos políticos brasileiros. Impressionava sua postura, entre triunfante e debochada, ante qualquer pergunta.
Tinha resposta para todos os problemas do Rio – e conseguiu convencer a população, tanto que emplacou a mulher, Rosinha, como sucessora no governo (eleita em primeiro turno).
Que contraste entre o Garotinho daqueles anos e o homem grisalho que luta para fugir da prisão, filmado na quinta-feira... O segredo por trás dessa mudança atende pelo nome de foro especial (ou privilegiado). Garotinho perdeu essa condição ao não se eleger para cargo político. Foi para a prisão. O mesmo aconteceu, um dia depois, com seu adversário político e também ex-governador (e ex-aliado) Sérgio Cabral (PMDB).
Até pouco tempo atrás, políticos importantes no Brasil tinham direito aos salamaleques reservados para autoridades, na base do ditado “quem é rei não perde a majestade”. Não mais, a se julgar pelos presos da Lava-Jato e outras operações anticorrupção lideradas por policiais federais e procuradores. Garotinho perdeu não só a majestade, mas a altivez e o ar jovial que combinavam com o apelido. É apenas mais um entre os ex-políticos encarcerados – basta lembrar José Dirceu (PT), Eduardo Cunha (PMDB), Antonio Palocci (PT), João Cláudio Genu (ex-tesoureiro do PP), entre outros.
É por isso que muito parlamentar enlameado teme um castigo nas urnas em 2018. Podem se tornar os próximos ocupantes do cárcere.
Nenhum comentário:
Postar um comentário