ZERO HORA 27 de maio de 2016 | N° 18536
POLÍTICA + | Rosane de Oliveira
Os brasileiros que acreditam na importância da Operação Lava-Jato serão eternamente gratos a Sérgio Machado, o ex-senador sem escrúpulos que gravou os companheiros de partido e causou uma pororoca no PMDB. Depois de escancararem as manobras dos caciques para esvaziar a Lava-Jato, as gravações acabaram por reforçar a equipe que trabalha para desmantelar o maior esquema de corrupção já descoberto no Brasil. Como reconheceu o presidente do Senado, Renan Calheiros, agora eles são intocáveis.
Demos graças aos delatores, mesmo sabendo que não têm caráter. Sem covardes como Sérgio Machado e Delcídio Amaral, que entregam os amigos para livrar a própria pele, as pessoas de boa-fé continuariam acreditando nos discursos de que todos são a favor da Lava-Jato e que desejam, sinceramente, a elucidação de todas as denúncias.
Machado expôs Renan Calheiros, José Sarney e Romero Jucá, todos partidários da tese de que a Lava-Jato foi longe demais e que é preciso fazer manobras para deter o juiz Sergio Moro, para evitar que o ex-presidente da Transpetro “desça para Curitiba” e para proteger os companheiros acuados. As gravações revelam o apreço por aliados como o senador Aécio Neves, chamado de “o mais vulnerável do mundo, vulnerabilíssimo”, ou pelo líder do DEM, Pauderney Avelino, sobre quem Machado diz: “Um cara mais corrupto que aquele não existe”.
Que ninguém se iluda achando que esse pensamento é exclusividade da cúpula do PMDB. Lembremos que o ex-presidente Lula foi flagrado em grampos telefônicos dizendo coisas muito parecidas a companheiros do PT. A gravação de hoje não se sobrepõe à de ontem. Juntas, formam um mosaico do pensamento político da esquerda, do centro e da direita. Não era Lula que culpava a Lava-Jato pela paralisia do país e pelo desemprego? Não foi o PT que várias vezes pediu a cabeça do então ministro José Eduardo Cardozo, culpando-o por não interferir nas investigações e por ter perdido o controle da Polícia Federal? Por acaso eram diferentes as manifestações de Lula em relação ao juiz Sergio Moro? Não venha agora o PT se fazer de santo e tentar vender a ideia de que só os outros querem minar a Lava-Jato.
Renan, Sarney e Jucá não estão sendo originais quando conversam sobre a estratégia de se aproximar do ministro Teori Zavascki, o relator que “não é próximo de ninguém”. Em uma das gravações, Lula ordenava que a ministra Rosa Weber fosse procurada.
Ministros do STF não vivem em redomas. Recebem as partes, vão a reuniões sociais, conversam. É do jogo. O que não se pode achar normal é falar em pacto para aliviar os investigados na Lava-Jato, dizendo que o Supremo tem de estar junto num acordão com ares de anistia ou na implantação casuística de um sistema parlamentarista que, no plebiscito, a população rejeitou.
EM CASA, DILMA SE DEFENDE
Em Porto Alegre desde a tarde de ontem para passar o feriadão com a família, a presidente afastada Dilma Rousseff manifestou-se sobre as gravações divulgadas na imprensa nesta semana.
No Facebook, Dilma focou a explicação em trechos em que é citada pelo ex-presidente José Sarney. No diálogo com Sérgio Machado, ele comenta sobre os pagamentos ao marqueteiro João Santana e alerta: “Vão pegar a Dilma”.
Na postagem, a petista afirma os R$ 70 milhões pagos a João Santana foram devidamente registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Dilma afirmou também que a tentativa de envolvê-la em “situações das quais ela nunca participou ou teve qualquer responsabilidade são escusas e direcionadas”.
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