EDITORIAIS
É preocupante constatar que o vice-presidente da República, Michel Temer, na iminência de assumir o comando do país, já recua na intenção inicial de montar um governo enxuto sob o ponto de vista do tamanho da equipe e, em consequência, austero no que diz respeito aos gastos. Num primeiro momento, chegou a ganhar ênfase a ideia de reduzir de 31 para 20 o número de ministérios, o que significaria uma sinalização positiva para a sociedade, em sua maior parte inconformada com o gigantismo do setor público. As pressões de aliados políticos, porém, deixam cada vez mais distante a possibilidade de que uma provável mudança de governo livre o país de práticas nefastas como a ocupação da máquina e o fisiologismo.
A perspectiva frustra, mas não chega a surpreender num país submetido a um presidencialismo de coalizão baseado na troca de favores e ainda hoje à espera de uma reforma política que seus homens públicos não se dispõem a enfrentar. A situação se agrava pelo fato de não estar em disputa apenas a cadeira ocupada hoje pela presidente Dilma Rousseff, mas pelo menos 107 mil cargos comissionados na esfera federal. A mudança desse quadro vai exigir mais que discursos bem-intencionados de representantes da chamada velha guarda da política, que forma o chamado núcleo duro do vice-presidente.
Num momento de transição como o atual, a possível mudança de governo deveria garantir uma equipe inquestionável sob os aspectos técnico e político. Não basta apenas substituir os atuais ocupantes da máquina por amigos de quem assumir o comando para mudar o país. É preciso corrigir deformações crônicas, ou o resultado poderá ser uma frustração de consequências imprevisíveis.
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