ZERO HORA. 05 de dezembro de 2015 | N° 18376
DAVID COIMBRA
Cunha pode salvar Dilma
Acho que o Cunha salvou a Dilma.
Se você luta contra o Coringa, obviamente você é o Batman; se você luta contra o Lobo Mau, você é um dos Três Porquinhos.
Cunha é o Coringa, é o Lobo Mau. Cunha é o malvado preferido da política brasileira. É o tipo perfeito de vilão. Tem a cara angulosa da fuinha e a fala mansa da serpente, parece dotado de poderes extraordinários e reage a cada denúncia contra a sua conduta com uma serenidade pérfida que dá a impressão de que ele tem alguma arma secreta pronta para ser usada.
Cunha representa o político ladino, escorregadio e oportunista pelo qual todos sentem ojeriza.
Existe inimigo melhor?
Um homem sábio haverá de ter mais critério na escolha de seus inimigos do que na de seus amigos.
O governo está certo ao colocar no processo de impeachment o carimbo de “Essa é mais uma do Cunha”.
Ser o contrário de Cunha é um grande trunfo.
O grande problema de Dilma é a própria Dilma. Quando Dilma fala, é terrível. Quando age, é pior. Dilma, até por falta de experiência, não tem traquejo político, nunca pisou nos carpetes do Congresso, sente dificuldades para negociar inclusive com seus aliados.
Os aliados de Dilma, aliás, são outro tormento para ela. O PT, mais do que desgastado, é um partido odiado por grande parte da população. Não sem motivos: dois tesoureiros do PT foram presos, sua eminência parda, José Dirceu, foi presa, o líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral, foi preso. Os escândalos de corrupção nos governos do PT são referência de roubalheira em todo o mundo, tipo os sapatos de Imelda Marcos. Meia dúzia de delatores acusam Dilma de ter feito campanha com dinheiro ilícito. O TCU condenou o governo por improbidade administrativa. Ninguém menos do que Lula declarou, publicamente, que Dilma mentiu durante a eleição. E, para arrematar, um dos juristas que assinam o pedido de impeachment é fundador do PT.
Não é pouco.
Eu diria que a defesa de Dilma é frágil, mas o ataque de Cunha gerou um contragolpe que deu a ela certa vantagem no placar.
É por isso que o governo clama pela rapidez do processo. O impeachment, agora, tem o perfil de ave de rapina de Cunha. Tendo essa imagem, talvez seja possível evitar que a população saia de casa gritando “fora, Dilma” nas próximas semanas. Porque (não tenho um milímetro de dúvida a respeito disso) o que vai decidir o impeachment é a voz das ruas. O Congresso pode votar sim ou não, pode ser levado para lá ou para cá. O Congresso, hoje, só olha e espera.
A pressa é toda do governo. Dezembro é um mês bom para isso. As pessoas estão distraídas, é mais difícil de mobilizá-las. É preciso encerrar o jogo de uma vez, antes que o estigma de Cunha seja apagado do impeachment, antes que estourem mais revelações da Lava-Jato e, sobretudo, antes que Dilma possa falar e agir.
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