EDITORIAL INTERATIVO
Embora a presidente Dilma Rousseff nunca tenha pronunciado publicamente a expressão, a badalada “faxina ética”, que consistiu no afastamento de ministros e assessores acusados de irregularidades, acabou se consolidando como uma das marcas de sua administração. Além de ser reconhecida como gerente eficaz, ela teve sua popularidade aumentada por conta dessa aparente demonstração de intolerância com a corrupção, no que foi inequivocamente apoiada pela maioria da população brasileira. Agora, no início do terceiro ano de seu governo e na antevéspera de um novo processo eleitoral, a presidente surpreende ao mudar o discurso e ao promover a reabilitação de personagens e partidos políticos que transitam na contramão da decência.
Para justificar algumas alianças espúrias, Dilma Rousseff diz que “nenhuma força política sozinha é capaz de dirigir um país com esta complexidade”. A história tem realmente mostrado isso, mas até mesmo o pragmatismo exercido em nome da governabilidade deve ter limites. É fácil de entender – embora difícil de engolir – a recente manobra presidencial de reaproximação com o PR, do ex-ministro Alfredo Nascimento, e com o PDT, do polêmico Carlos Lupi, ambos defenestrados da administração em 2011. Na visão dos atuais ocupantes do poder, é melhor fechar os olhos para o passado recente do que permitir uma eventual aliança desses partidos com opositores.
A campanha eleitoral, infelizmente, está deflagrada. Neste clima, o governo sequer se constrange em criar o seu 39º ministério para acomodar o PSD no momento em que o líder da agremiação, o ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab, ensaiava um flerte com o PSDB. Ao colocar Guilherme Afif Domingos no comando da inexplicável pasta da Micro e Pequena Empresa, a presidente neutraliza o movimento de aproximação entre Kassab e os tucanos. Já não parece haver dúvida de que a chefe da nação está se deixando envolver pela ala mais fisiológica do Partido dos Trabalhadores, a mesma que empurrou a agremiação para o abismo do mensalão.
Esse vale-tudo eleitoral não desmerece apenas o governo e aliados que fazem qualquer negócio para ocupar espaço à sombra do poder. Também fragiliza a própria oposição, que sequer consegue articular uma crítica convincente porque invariavelmente se vale das mesmas estratégias nas administrações que comanda. Ninguém se preocupa com identidade programática ou mesmo com uma linha política coerente. Talvez esteja aí, nesta confusão de alianças, a origem do desencanto dos cidadãos com a política. Como acreditar em governantes e homens públicos que colocam interesses pessoais e partidários acima do mais elementar compromisso com a coerência?
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