ENTREVISTA - “Estão fazendo dívida outra vez”
Yeda Crusius - Ex-governadora
Culpada por Tarso Genro pela atual crise financeira do Estado, Yeda Crusius rebateu ontem as críticas. Por telefone, defendeu o déficit zero, revelou que está terminando um livro sobre os bastidores do Piratini e afirmou que o governo petista precisa assumir os seus atos.
Também citado por Tarso, Antônio Britto disse a ZH, por e-mail, que não irá se manifestar sobre “debates que são próprios de período eleitoral”.
Zero Hora – Como a senhora avalia o saque de R$ 4,2 bilhões feito pelo governo Tarso da conta dos depósitos judiciais do Estado?
Yeda Crusius – Isso é decisão do governo. Só posso dizer que é desnecessária. No nosso governo, provamos que dava para ter equilíbrio nas finanças e pagar as contas. O déficit zero é um caminho para investir, para fazer políticas sociais e econômicas. Nunca havia se gastado tanto, mas gastávamos de acordo com o que arrecadávamos. Não me venham falar de dívida. Isso é lero-lero. Isso é enrolation. Houve uma reestruturação de dívida que permite ao Estado pagar menos. Trocamos dívida de sete anos por uma de 30 anos, com taxa de juros infinitamente menor. O problema é que estão fazendo dívida outra vez. Esses R$ 4,2 bilhões são dívidas. Alguém vai ter de pagar.
ZH – Acredita que as políticas financeiras do seu governo foram engolidas pelas circunstâncias atuais?
Yeda – Mas esse era o propósito: tentar apagar as estatísticas de boa gestão. O futuro haverá de dizer.
ZH – O PT diz que o déficit zero se efetivou pela falta de investimento.
Yeda – Não preciso analisar isso. A história já registrou. Isso é manobra diversionista.
ZH – Tarso culpou o seu governo e o de Britto pela atual crise.
Yeda – Mas senti falta de uma coisa: faltou o dom Pedro I na crítica dele.
ZH – O atual governo deveria promover reformas estruturais para diminuir a dívida?
Yeda – Não é o objetivo deles fazer reformas. A causa do saque não se deve a nenhum problema estrutural.
ZH – A senhora já decidiu se voltará a concorrer em 2014?
Yeda – Não, ainda não. Primeiro preciso acabar de escrever meus livros.
ZH – Qual o tema dos livros?
Yeda – O primeiro é pessoal, com uma experiência de vida que permitiu o sucesso do governo. Fomos reconhecidos pelo Rio Grande do Sul, pelo Brasil e pelo mundo. O outro é um conjunto de inovações feitas no nosso governo. Uma delas é o déficit zero, que precisa ser esmiuçado. Mas, principalmente, o Gabinete de Transição que fiz para enfrentar a crise da gravação apresentada (o vice-governador Paulo Feijó gravou o então chefe da Casa Civil, Cezar Busatto, dizendo que Banrisul e Daer financiavam partidos) na CPI. O livro explica que as inovações respondem pelo sucesso do governo. Entramos com caixa zero e nunca culpamos ninguém. Não venham agora querer colocar a culpa em alguém. Que respondam pelo que fazem, assim como eu respondi pelo que fiz.
ZH – O que a senhora pretende contar do Gabinete de Transição?
Yeda – Vivi como governadora um período de “news of the world”. Venderam muitos escândalos. Foram 15 mil horas gravadas e saíram 15 segundos, escolhidos a dedo. Quando foi apresentada parte daquela gravação o Estado parou. Era preciso tomar uma atitude. Resolvi, como parlamentarista que sou, fazer um Gabinete de Transição até acabar a CPI para mostrar à população que (o Estado) tinha governo.
ZH – A senhora mantém a convicção de que conexões de Brasília conspiraram contra seu governo?
Yeda – Ninguém nos impediu de nada, apesar do jogo político. A gente poderia ter 360 quilômetros de rodovias duplicadas, com pedágio, desde 2009, 30% mais barato. Por que nos impediram de pagar 30% mais barato com o Duplica RS?
ZH – Quem impediu: o PT ou o governo federal?
Yeda – O governo federal simplesmente atende ao interesse dos seus aliados. O ministro dos Transportes, que era do PR, disse que não ia aceitar o Duplica RS. O Rio Grande se atrasou. Impediram um novo sistema prisional e também a ERS-010, coisas de um país desenvolvido.
carlos.rollsing@zerohora.com.brCARLOS ROLLSING
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