ZERO HORA 18 de setembro de 2015 | N° 18298
DAVID COIMBRA
Já houve políticos adultos no Brasil. Ou talvez o Brasil todo fosse mais adulto, não sei. Talvez a infância da nossa democracia nos tenha infantilizado. Ter de lidar com essa novidade, que é o exercício integral da cidadania, nos atrapalhou.
Hegel diria que é um processo dialético: surge uma tese e, em reação, é apresentada uma antítese. A antítese, como diz o nome, é o oposto da tese. Elas se confrontam e, desse embate, é formada uma síntese, que é o meio-termo entre as duas: mais do que a tese, menos do que a antítese. Só que essa síntese se transforma em nova tese, contra a qual aparece uma nova antítese, e da luta entre as duas nasce outra síntese, que vira mais uma tese. Dessa forma o mundo evoluiria, segundo a dialética.
O problema é que do enfrentamento nem sempre decorre a evolução. Às vezes, anda-se para trás.
Em qualquer sociedade, a involução se dá quando as regras são quebradas. Você perde o critério e, perdido o critério, não tem mais parâmetros, não tem mais rumos.
Os brasileiros decidiram que queriam viver sob uma República democrática, e assim foi do final do século 19 até o ano 30 do século 20, quando do golpe de Vargas. As tentativas de derrubar Dilma, hoje, são reflexos daquele golpe de 85 anos de idade. Porque, naquele momento, a regra democrática foi quebrada e, se é quebrada uma vez, pode ser quebrada sempre. Essa é a lógica dos seres vivos. Até os cachorros precisam de critérios. Se você os cria sem critérios, eles se confundem.
Desde o exemplo de Vargas, os brasileiros vivem tentando quebrar as regras. Quando os militares as quebraram, em 1964, o fizeram com força inédita e, assim, mantiveram-se no poder por ainda mais tempo do que Vargas. O Brasil, então, vivia a tese do autoritarismo, da repressão, da dureza da caserna. A antítese foi a Constituição de 1988, uma Constituição liberal e humanitária, ideal para uma Suécia, só que aplicada a um Brasil.
Do autoritarismo passamos à leniência. Antes, nada podia; agora, tudo pode.
E o Brasil tornou-se um país de libertários, quase anarquistas, em que ninguém se compromete com os deveres e todos estão sempre prontos a cobrar os direitos.
De quem se cobram os direitos? Do Estado. Dos governos. De quem mais?
Então, quando um partido está no governo, vê-se na pedregosa exigência de ser responsável. Só que, do outro lado, encontram-se oposições manhosas e birrentas, como se ainda estivessem esperneando contra a ditadura, quando qualquer travessura virava heroísmo.
Criou-se um padrão na política brasileira: um grupo tenta crescer ao diminuir o opositor. Não se faz nada de bom no lado de cá, apenas se mostra o que existe de ruim no lado de lá. A oposição não critica para corrigir, critica para destruir.
Se no Brasil inteiro é assim, no Rio Grande é pior. A marcha dos deputados de oposição, saindo da Assembleia durante a votação do projeto de aposentadoria, nesta semana, foi de desanimar. “Não brinco mais!”, pareciam dizer os deputados. E é isso que às vezes dá a impressão de ser: brincadeira de criança. Quando é que vamos começar a agir como adultos?
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