ZERO HOA 28 de setembro de 2015 | N° 18308
DAVID COIMBRA
Sou dos que sentem medo da possibilidade de Lula voltar à Presidência. Admito. Seria horrível e, sim, pode acontecer. Coisas horríveis acontecem. Mais quatro anos andando para trás. Mais quatro anos de atraso. O Brasil vai demorar muito tempo para se recuperar desses governos petistas. Se se recuperar. O PT, com seu discurso de “Elite Branca x Pobres Pretos”, conseguiu instaurar no país um clima de animosidade irracional que não será desfeito tão facilmente. E o pior é que a disputa não é entre a Elite Branca e os Pobres Pretos. A disputa é bem mais rasa, entre governistas e antigovernistas. Não é disputa por ideologia. É por poder.
Lula gosta de se comparar a Getúlio, e ele tem razão. Ambos foram responsáveis por rompimentos do natural processo evolutivo da democracia brasileira. Getúlio deu um golpe num processo democrático regular que vinha desde Floriano Peixoto. Cada vez que escrevo isso, os getulistas modernos, que (assombrosamente) os há, gritam que na época havia fraude eleitoral e que a política “café com leite” revezava as elites paulista e mineira no poder. É verdade. Nenhuma democracia nasce pronta. Nenhuma democracia talvez nunca fique pronta. Prontas são as ditaduras. As democracias vão se aperfeiçoando com o exercício democrático, que não é só exercício do voto, é o exercício da convivência das diferenças.
É por isso que o impeachment de Dilma, se aprovado, será um golpe. Porque ainda não há provas provadas, sólidas o bastante, contra ela. Arranjem provas primeiro, para depois derrubá-la, se for o caso.
Aliás, quanto a isso, há um elogio que deve ser feito a Dilma: seu comportamento é absolutamente respeitoso com a democracia. Por mais acuada, por mais agredida, por mais ameaçada que esteja, ela nunca deu uma única declaração que arranhasse a normalidade da regra democrática, como Lula faz amiúde.
Natural. Lula está muito mais comprometido com o projeto de poder do seu grupo do que Dilma. Afinal, o grupo é DELE. Ele é o capo de tutti capi. Foi nessa condição que Lula golpeou a democracia brasileira, embora de forma muito menos contundente do que Getúlio.
O método foi quase o mesmo.
Externamente, Getúlio se associou aos ditadores da época, como Perón. Tentou até se consorciar a Hitler e Mussolini, mas foi dissuadido pelos dólares americanos. Já Lula se associou aos cubanos, à Venezuela, à Argentina.
Internamente, Getúlio fundou o peleguismo sindical. Que é um dos pontos de apoio de Lula.
Lula conseguiu chegar ao poder pelo voto, como Getúlio em 1950. Lula começou bem, com a ampliação do Bolsa Família e a manutenção da política econômica estabelecida pelo Plano Real. A impressão era de que o Brasil havia entrado num caminho de melhora sistemática e de possível solução de seus dramas históricos.
Aí se deu a traição. Nesse momento. Um presidente operário, simpático à população, com prestígio em todo o mundo, comandando um país com economia em ascensão, com uma indústria diversificada e uma agricultura poderosa, esse presidente e esse país podiam empreender as difíceis e necessárias reformas da escola pública, dos sistemas federativo, tributário, previdenciário e penal, poderiam, com muito esforço e pouco sacrifício, construir uma nação.
Mas Lula tinha o seu projeto particular. Tinha o seu grupo. Foi a eles que Lula dedicou seu empenho. E o Brasil ficou para trás. Esse tempo perdido não será recuperado sem dor. O Brasil perdeu muito por causa de Lula. E o pior nem foram as perdas na economia e na política. O pior foi a perda de esperança.
Sim, tenho medo de Lula. Não, não quero que ele volte. Nunca mais.
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