ZERO HORA 14 de abril de 2016 | N° 18499
ARTIGO
ANTONIO MARCELO PACHECO*
É certo perceber que há no ar uma expectativa que culmina no dia 17 de abril, depositada esta nos ombros da Câmara dos Deputados, que decidirá sobre a autorização ou não ao impeachment. Contudo, mesmo entre os que defendem esse processo contra a presidente Dilma e aqueles que lhe são contrários, se observa uma insuficiência, uma superficialidade quanto aos dramas que nos carregaram precipitada ou cansativamente a esta teatralização nacional.
Contrários ao projeto ou à falta de um, do PT, contrários ao ex-presidente Lula e à presidente Dilma deixam claro que eles também não têm um para o Brasil. O que buscam é derrotar, no momento mais oportuno neste interregno de quase 14 anos, o partido que efetivamente alterou o campo social brasileiro, mas virtualizou essas conquistas num processo cirúrgico tão eficiente, que tal plástica, somente encontrada na sua própria propaganda, é tão ou mais exponencial do que aquilo que é real. É efetiva e significativa uma série de avanços sociais promovidos, contudo, o custo do que está maquiado e corrompido tem a mesma intensidade, infelizmente, para todos os que demonstram um ressentimento político contra o PT. Entretanto, os que defendem esse projeto, sua reflexividade romântica e eficiente em setores intelectuais e artísticos, bem como nos movimentos sindicais, demonstram a mesma cegueira e a mesma irresponsabilidade quanto ao país após esta votação. O discurso do “não vai ter golpe”, estratégia de luta política na qual a capacidade de sedução dá sinais de força e valentia subjetiva aos seus percursores, não permite saber o que será para depois do dia 17 de abril a retomada do projeto que, avariado e maculado pelas contradições, gerava entre membros históricos do PT críticas que silenciaram ante a necessária retomada da união.
Pertence a essa natureza da crise que uma decisão que esteja ainda pendente, mas ainda não tomada, exale uma indefinição assustadora, na medida em que esta decisão, ainda não tomada, permaneça aberta, gerando de forma angustiada a insegurança geral desta crítica condição de crise que se sabe que de uma forma ou de outra, sem bem se poder ainda definir, espera-se que solução esteja próxima. Para o Brasil, a crise que permanece aberta invoca uma espera, um olhar, uma expectativa histórica de que mais do que o poder político, que é o que parece importar, o amanhã, incerto, resgate talvez um quê de esperança e cidadania.
*Professor de Direito Constitucional, sociólogo e membro do Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania da UFRGS
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