ZERO HORA 16 de abril de 2016 | N° 18501
EDITORIAL
Senhoras e senhores deputados federais, o futuro do Brasil está em suas mãos.
Como detentores de mandato parlamentar e representantes dos 200 milhões de cidadãos deste país, vocês têm legitimidade e poder para definir como vamos sair deste momento doloroso da nossa história. O que se decide neste domingo, no plenário da Câmara Federal, não é apenas a admissibilidade do processo de impeachment da presidente da República, que ainda dependerá da chancela do Senado. Decide-se, acima de tudo, se um país que vem sendo sistematicamente mal gerido, saqueado, vilipendiado e humilhado poderá recuperar a sua dignidade e ser devolvido mais íntegro aos seus verdadeiros donos, os cidadãos brasileiros.
Com ou sem impeachment, temos o direito de viver num outro Brasil – um Brasil mais justo, mais seguro, mais desenvolvido, com menos corrupção e mais oportunidades para todos.
Senhoras e senhores deputados, vocês nos representam, mas não confiamos totalmente em vocês.
Infelizmente, muitos parlamentares e algumas das principais lideranças do Legislativo são suspeitos de envolvimento em graves irregularidades, que vão do uso de recursos provenientes de propina em campanhas eleitorais até a venda de votos em CPIs. Não são todos, reconhecemos. E também sabemos que os acusados têm direito à presunção de inocência. Mesmo contaminado por indecências e ilicitudes, o parlamento como um todo mantém a sua prerrogativa de poder legítimo e autônomo para cumprir a sua função constitucional, que neste momento se resume em votar pela permanência ou pela substituição da presidente da República.
Senhoras e senhores deputados, o que os brasileiros esperam de vocês, neste momento decisivo para o país, é que respeitem a Constituição e a inequívoca opção de nosso povo pela democracia.
Todos sabemos que o julgamento deste domingo foi precedido por intensa movimentação política, por pressões de toda ordem e também pela execrável oferta de ministérios e cargos públicos em troca de apoio, tanto por parte de quem está no poder quanto por quem pretende assumi-lo. Essas negociatas ferem a democracia. O loteamento político da administração pública, infelizmente, tornou-se uma prática comum em nosso país, abrindo espaço para o empreguismo, para a ineficiência e para a corrupção. Esse governo que está sendo questionado é um exemplo escandaloso de incompetência, omissão e descompromisso com a ética: deixou o país afundar numa crise econômica sem precedentes, deixou a Petrobras ser expropriada por corruptos e corruptores, e colocou seu projeto de poder acima dos interesses nacionais. Mas, a bem da verdade, a corrupção vem minando o país há décadas e em todas as instâncias da administração.
Pois a virada do país – com ou sem impeachment, reafirmamos – tem que incluir um ataque permanente à cultura da corrupção. A Operação Lava-Jato, senhoras e senhores, passa a ser um estandarte de honra para os brasileiros, não pode ser interrompida, não pode ser desconsiderada, não pode ser transformada em instrumento político ou partidário. Independentemente de haver troca de comando no Executivo, os demais poderes e instituições republicanas, como o Supremo Tribunal Federal, o Ministério Público e a Polícia Federal, têm que continuar sendo valorizados, defendidos e respeitados.
Senhoras e senhores deputados, votem e aceitem o resultado da votação, mesmo que contrarie seus interesses.
O Brasil precisa sair deste processo pacificado e vocês podem dar o exemplo para desarmar os ânimos dos setores mais radicais da sociedade. Se vamos reconstruir este país, precisamos antes de tudo de paz – a paz da democracia, que permite debates, contestações e críticas, mas não pode permitir a violência.
Senhoras e senhores deputados, devolvam o Brasil para os brasileiros.
Pois o Brasil que sairá deste processo doloroso, seja qual for o resultado da votação do pedido de impeachment, não pertence à senhora Dilma nem ao senhor Temer e muito menos a figuras carimbadas da política nacional como os senhores Lula e Eduardo Cunha. Pertence a todos nós.
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