ZERO HORA 07 de abril de 2016 | N° 18493
LUIZ ANTÔNIO ARAUJO*
Aproxima-se o dia da votação da admissibilidade do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, e há cada vez menos a comemorar. O governo ergue a bandeira de “Não vai ter golpe” com a mão esquerda, enquanto com a direita oferece ministérios, cargos e verbas a partidos como PP – não custa lembrar, o mais encalacrado na Operação Lava-Jato –, Pros e PTN em troca de votos para salvar o mandato presidencial. Durante anos, os mais honestos simpatizantes do leque de forças hoje no poder engoliram sapos de tamanhos e texturas variados – José Sarney, Fernando Collor, Roberto Jefferson, Michel Temer, Kátia Abreu e outros Eduardos Cunhas – em nome de algo vagamente definido como “continuidade do projeto”. Se resta dúvida sobre qual projeto teve continuidade, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, lembrou que o governo federal efetuou no ano passado o maior corte orçamentário da história, de R$ 78 bilhões. É difícil encontrar na observação do ministro algum mérito além da sinceridade.
Do lado da oposição, descortina-se cenário igualmente tenebroso. Reportagem de Fábio Schaffner em Zero Hora de quarta-feira mostrou que metade dos deputados da comissão do impeachment são investigados em inquéritos, ações criminais ou cíveis, incluindo oito réus no Supremo Tribunal Federal. Dificilmente uma decisão benéfica para o país poderá brotar de semelhante valhacouto. Até o momento, tudo indica que o impeachment tem grandes chances de ser aprovado no Congresso, dando origem a um eventual governo Michel Temer, sobre o qual o ministro do Supremo Luís Roberto Barroso (“Meu Deus do céu!”) já disse tudo.
É por isso que a decisão de segunda-feira, República da Cobra x República do Reteté, tem tudo para degringolar num triste espetáculo. Como dizem os uruguaios: que pierdan los dos.
*Jornalista
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