ZERO HORA 09 de abril de 2016 | N° 18495
GUILHERME MAZUI | RBS BRASÍLIA
CRISE EM BRASÍLIA. GOVERNO E OPOSIÇÃO negociam apoio parlamentar com promessas de nomeações e liberação de emendas
Até a votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff no plenário da Câmara, fica aberta a temporada de negociações em Brasília. Cargos, emendas e viagens são oferecidos por governistas a deputados, na tentativa de barrar o processo, enquanto emissários do vice-presidente Michel Temer, reforçados pela oposição, sinalizam espaço em uma eventual gestão do PMDB.
O clima é de feirão, com suspeitas, boatos e acusações de promessa de dinheiro. Dono da caneta, o Planalto faz negociações individuais, a fim evitar que a oposição conquiste os votos de 342 dos 513 deputados, passaporte para o processo chegar ao Senado.
O alvo preferencial é o “centrão” (PP, PR, PSD, PTB e PRB), que soma 164 parlamentares. Com a votação, aguardada para domingo, 17, os partidos não assumem ministérios, mas são alimentados com cargos de segundo e terceiro escalões. Desde o anúncio de desembarque do PMDB, Temer perdeu afilhados na Funasa e na Caixa. Ao frear a saída da base, o PP ganhou o Dnocs. Ministro do Gabinete de Dilma, Jaques Wagner justificou:
– O PMDB abriu mão da participação. Se abriu mão, sai de ministérios. É assim na política de coalizão.
A estratégia gerou o protesto do ex-ministro Moreira Franco, escudeiro de Temer. No Twitter, ele afirmou que o governo repete a prática do mensalão. “Deputados e senadores estão indo ao hotel falar com Lula e dividir o botim (sic)”, escreveu.
Um deputado do PR revela ter recebido ligação do ministro Ricardo Berzoini:
– Pensou em ser ministro? Tem espaço no governo.
A proposta ficou na gaveta. No PR, que comanda o Ministério dos Transportes e cobiça a Agricultura, a tendência é de maioria contra o impeachment, conforme acerto com o mensaleiro Valdemar Costa Neto (SP). As ofertas também ocorrem no plenário, cafés e corredores da Câmara. As conversas se iniciam com gracejos, que deixam dúvida se a tratativa é séria ou bravata. Foi o caso de Covatti Filho (PP-RS), procurado por um colega, que chegou aos risos.
– Covattinho, dizem que cê tá indeciso. Fala lá com Lula que acaba a dúvida.
– Vou de impeachment. Se votar contra, meu eleitor me exila no Uruguai – riu o gaúcho.
Nem tudo é piada. Enquanto apresentava o Salão Verde a dois vereadores, José Stédile (PSB-RS), que defende a saída de Dilma, foi abordado por um petista interessado na sua ausência na votação, benéfica ao governo:
– Stédile, você não vai viajar ? É só dizer o lugar.
O socialista pediu para não ser mais procurado.
– Não mudo meu voto – garante.
O cerco também teria chegado a Heitor Schuch (PSB- RS). Ele não quis comentar, apenas garantiu voto a favor do afastamento. As insinuações contrariam petistas, a exemplo de Dionilso Marcon (PT-RS), apontado como emissário do Planalto por integrantes da bancada ruralista.
– Não tenho dinheiro nem para mim, como vou oferecer alguma coisa a alguém. Não faz sentido – diz Marcon.
Algumas aproximações tentam reconquistar aliados. Secretário no governo Tarso Genro, Luiz Carlos Busato (PTB-RS) apoia o impeachment. A posição lhe custou o cargo de Paulo Ricardo Nunes Osório no Inmetro-RS.
– O governo me procurou, eu disse que não mudaria meu voto e fui avisado que meus indicados seriam demitidos – reconhece Busato.
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