
Congresso fica 71% mais caro em dez anos. Orçamento do Legislativo será de R$ 7,7 bilhões em 2009. Em 1999, era de R$ 4,49 bilhões, em valores atualizados - Rodolfo Stuckert/Ag.Câmara e Eduardo Militão - Congresso em Foco - 10/12/2008
O orçamento do Legislativo será de R$ 7,7 bilhões em 2009. Essa é a proposta aprovada na semana passada pela Comissão de Orçamento, ao votar o relatório setorial que trata, entre outros setores, das despesas da Câmara, do Senado e do Tribunal de Contas da União (TCU).
Apesar de representar um aumento de 2% na comparação com 2008, o valor significa um acréscimo orçamentário de 71% em relação a dez anos atrás. Em 1999, o orçamento do Legislativo era de R$ 2,46 bilhões, ou R$ 4,49 bilhões, em valores atualizados pelo IPCA, do IBGE. As despesas com pessoal subiram de R$ 1,95 bilhão (R$ 3,57 bilhão atualizados) para R$ 5,97 bilhões, segundo o relatório aprovado.
Não é mesmo de se desprezar o orçamento dos três órgãos, onde trabalham 594 deputados e senadores, nove ministros do TCU e 23.681 servidores. A previsão de despesas é maior do que a de cinco das oito maiores cidades brasileiras: Salvador (BA), Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR) e Manaus (AM). Só São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília têm orçamentos maiores que o Legislativo federal.
No ano passado, o orçamento da Câmara, do TCU e do Senado foi fixado em R$ 7,547 bilhões. Agora, com o aumento, vai passar para R$ 7,688 bilhões. A maior parte do dinheiro (78%) vai para pagar funcionários. Para investimentos, sobram apenas 6%, ou R$ 428 milhões.
O salto nos gastos é alvo de crítica de parlamentares. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) avaliou que o aumento de R$ 4,49 bilhões para R$ 7,7 bilhões é alto demais. "Eu acho um absurdo. Eu não vejo explicação. Prometo tomar providências", disse ele ao Congresso em Foco ao tomar conhecimento dos números.
Austeridade na CâmaraO relatório setorial aprovado na semana passada indica que a Câmara vai reduzir suas despesas em R$ 127 milhões, principalmente na área de pessoal. Já o Senado, apesar de aumentar os gastos em 4,65%, desistiu de tentar tirar o Anexo III do papel.
Segundo o relator setorial, deputado Guilherme Campos (DEM-SP), a redução das despesas está diretamente ligada à austeridade imposta pelo presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Criticado pelos funcionários, o petista foi apelidado de “um para as sete”, por encerrar as sessões sempre pouco antes das 19h, a fim de evitar os gastos com horas extras dos funcionários.
Em 2007, a economia nessa área foi de R$ 10 milhões. Consultores ouvidos pelo Congresso em Foco avaliam que o adicional de especialização dos servidores deve ter ficado de fora da proposta de 2009, já que, neste ano, a Mesa Diretora acabou não aprovando a proposta.
Por meio de assessoria, a Diretoria Geral da Câmara disse que a redução das despesas é fruto de uma gestão mais eficiente. "Diminuição nos custos com energia elétrica, água, luz, devido a investimentos como, por exemplo, torneiras automáticas e equipamentos com menor consumo", citou. A instituição prefere não comentar se os cortes de horas extras ou a falta do adicional de especialização dos funcionários pesaram na economia. "Não está nada definido até agora", resumiu a Diretoria Geral.
De todo modo, o relator está satisfeito. Guilherme Campos elogia a postura de Chinaglia. “Eu o parabenizo por essa austeridade. Isso tem pressão orçamentária”, afirma o deputado do DEM, partido que cobra constantemente redução das despesas na máquina pública.
Anexo VApesar disso, a Câmara reservou R$ 321 milhões para investimentos. Entre as obras contempladas, a construção do Anexo V, ao custo de R$ 56 milhões, e a ampliação do Anexo IV, orçada em R$ 148 milhões. A idéia é acomodar os gabinetes dos deputados do Anexo III (menores e sem banheiro) na estrutura do Edifício IV. O Anexo V abrigará a biblioteca e o museu da Câmara, a ser criado. A Casa aguarda receber licenças ambientais das duas obras para fazer a licitação.
Por R$ 49 milhões, os deputados querem reformar e fazer reparos nos imóveis funcionais da Casa. "Serão entregues até maio ou junho quatro prédios. Estão em processo de licitação mais cinco prédios na 302 Norte", informa a Diretoria Geral da Câmara. Há ainda a previsão de um centro de tecnologia (R$ 7 milhões) e de um canal de TV internacional (R$ 1 milhão).
Folha à vistaO Senado deixou de incluir o Anexo III no orçamento deste ano por falta de recursos. A assessoria da Casa diz que a Primeira Secretaria não fechou a proposta de “vender” a folha de pagamento para o Banco do Brasil e a Caixa Econômica. É com esses recursos que a o Senado espera tocar o projeto.
Para a reforma estrutural do prédio do Serviço de Processamento de Dados do Senado (Prodasen), o orçamento prevê um gasto de R$ 5,1 milhões. Mas a obra é uma reivindicação antiga, que não sai do papel há mais de cinco anos.
Para implementar o Programa Interlegis II, a previsão é de que sejam gastos R$ 2 milhões. Na quinta-feira (4), o Congresso aprovou um crédito adicional de R$ 75 mil para bancar uma parcela do empréstimo internacional que financia parte do projeto de interligar os legislativos do país.
O túnel sob o Eixo Monumental não aparece textualmente mais na proposta orçamentária. Mas, segundo a assessoria de imprensa do Senado, quatro empresas já apresentaram propostas para o edital de licitação lançado este ano.
A obra, de R$ 2,7 milhões, vai criar uma passagem de pedestres subterrânea entre o estacionamento da Casa e o do Palácio do Planalto. Um pedido de crédito adicional não apreciado pelos congressistas na quinta-feira passada alocava R$ 1,1 milhão para a obra. Segundo Pedro Simon, a proposta não deve prosperar, graças a uma decisão da Mesa a ser tomada hoje (10). "Eles vão retirar isso de votação", aposta o senador. "E ninguém sabia disso."
A assessoria do Senado indicou um técnico da Casa para explicar o aumento das despesas da instituição entre 1999 e 2009, conforme a previsão orçamentária do relatório aprovado pela Comissão de Orçamento. Mas não houve resposta ao Congresso em Foco até o fechamento deste texto. A assessoria da Câmara também não pôde prestar esclarecimentos sobre a evolução das despesas na Casa nos últimos dez anos.
InstitutoO Tribunal de Contas da União terá R$ 40 milhões em investimentos se a proposta for totalmente executada. Para o Instituto Sezerdello Corrêa, foram destinados R$ 18,9 milhões. Para a criação de secretarias de controle externo no Acre, Amapá e Roraima, R$ 1 milhão cada uma.
A compra de terrenos para futuras obras está prevista no valor de R$ R$ 2,5 milhões, em Salvador, e R$ 1 milhão, em Fortaleza.
Sem garantiaO relatório de Guilherme Campos ainda será submetido ao relator-geral, senador Delcídio Amaral (PT-MS), e depois à Comissão de Orçamento novamente. A seguir, a proposição seguirá para o Plenário do Congresso.
Mesmo aprovados, os gastos podem continuar no papel, principalmente os investimentos. É que o orçamento é apenas autorizativo. As administrações da Câmara, do Senado e do TCU podem alegar falta de recursos para executar as obras e não fazer as licitações ou firmar os contratos.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Está na hora do povo brasileiro criar coragem e entrar com uma ação popular inominada pedindo a redução do número de parlamentares e corte na verba orçamentária para o Congresso. Só assim, os parlamentares criariam vergonha e assumiriam seu papel nesta república democrática, ao invés de continuarem praticando costumes de regime absolutista e monarquico. Estão enriquecendo com a gama de privilégios com dinheiro público que se proporcionam. Brasilia está sendo o palácio de Versalles brasileiro.