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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

GOVERNO PT - Cientista político projeta administração de Tarso e analisa eleição no RS

Cientista político André Marenco projeta administração do petista, recém eleito. Guilherme Kolling e João Egydio Gamboa, Jornal do Comercio, 10/10/2010.

O cientista político André Marenco projeta que o governador eleito, Tarso Genro (PT), fará uma administração mais moderada do que a primeira gestão do Partido dos Trabalhadores, com Olívio Dutra. Ele observa que o ex-ministro apreendeu com as experiências que teve no governo Lula (PT) e deu mostras de que tentará formar uma ampla coalizão e um governo de diálogo.

Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Marenco diagnostica os fatores que levaram Tarso à inédita vitória no primeiro turno, aponta o PMDB como maior derrotado do pleito e faz uma projeção da disputa do segundo turno pela presidência da República. O acadêmico entende que as campanhas de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) terão mais peso para definir o resultado do que um eventual apoio do Partido Verde (PV), que foi representado por Marina Silva e obteve quase 20% dos votos válidos.

Jornal do Comércio - Como se explica a vitória inédita, em primeiro turno, de Tarso Genro, na disputa ao Piratini?
André Marenco - José Fogaça (PMDB) era o favorito, numa condição de centro. Mas dois fatores explicam esse resultado excepcional. Um deles é a avaliação do presidente Lula (PT), que está acima de 70%. É interessante observar que Tarso tem picos acima de 60% em cidades em que há forte investimento do governo federal. Um segundo aspecto é que ele ganhou por W.O., porque não teve rivais. A governadora (Yeda Crusius, PSDB) tem uma rejeição muito alta. E Fogaça expôs na campanha fragilidades que ele tinha neutralizado na campanha para a prefeitura.

JC - Quais?
Marenco - Uma inconsistência, ausência de ter o que dizer. O PMDB e Fogaça - com todos esses episódios bem-sucedidos de uma candidatura mais ao centro, com (Germano) Rigotto (PMDB) em 2002, Fogaça em 2004 e 2008 - tentam replicar isso, mas confundindo centro com ausência de identidade. Vai entrar para o anedotário político nacional aquela “neutralidade ativa”. As pesquisas qualitativas mostraram que as pessoas não conseguiam associar Fogaça a nada, foi uma campanha anódina, sem gosto. Então, foi uma combinação da subida da avaliação positiva do presidente, a capacidade de Tarso de se colar ao governo federal e a fragilidade dos adversários.

JC - O que o PMDB poderia ter feito para mudar o quadro?
Marenco - Talvez ter se descolado do governo Yeda antes. E se associado mais ao governo federal. Lula tem uma grande aprovação, e não é necessariamente o PT. Então, nesse espaço o PMDB poderia ter entrado, até porque o PMDB nacional está no governo e na campanha de Dilma. Poderia se associar ao governo federal, mas se distanciar do PT, e aí sim se apresentar como uma versão mais moderada, de diálogo.

JC - A governadora atingiu um índice superior a todas as pesquisas, obtendo 18,4% dos votos válidos. Se a reação da campanha tivesse iniciado antes, o quadro seria diferente?
Marenco - Acho difícil, porque ela tem um limite. É excepcional uma governadora com essa rejeição. Imagino que no início da campanha o cenário dos sonhos do PT fosse o seguinte: Tarso no segundo turno com a governadora. Faz quase um ano que o PT resolveu deixar Yeda de lado, para preservá-la, pensando na possibilidade de que ela pudesse ir para um segundo turno. Seria uma adversária mais fácil, com níveis de rejeição. Mas o que explica um pouco essa subida é a fragilidade de Fogaça e a nacionalização da campanha.

JC - E o antipestismo? Até 1998, o PT teve votações crescentes. A partir daí, houve quedas sucessivas. É possível verificar o momento desta virada?
Marenco - Se marca uma virada, vai depender do governo Tarso, da estratégia do PT para a prefeitura e de um eventual governo Dilma. O PT começa a crescer em 1994, em 1998 ganha, chega a um pico em Porto Alegre em 1996 e 1998 e aí a curva reverte. Em 2006, pela primeira vez, Lula perde a eleição no Estado. E em 2008 o PT perde de novo a prefeitura de Porto Alegre. A reversão visível é a da curva de aprovação do governo Lula. Até 2008 era minoritário. Na época da disputa pela prefeitura, era 44%, agora ultrapassa 70%. Isso dissolve o antipetismo. E a campanha do Tarso foi hábil. Se o governo for bem-sucedido, o PT vai ter um período de crescimento.

JC - Como o senhor projeta este governo do PT no Estado?
Marenco - O PT aumentou em 40% sua bancada, fez 14 deputados. Tarso tem tudo para não repetir os erros do governo anterior (Olívio Dutra, 1999-2002). Tem condições de ter maioria (na Assembleia) se incorporar o PDT e o PTB. Tarso tem uma visão menos de conflito do que Olívio. Tudo indica que o PT tenha absorvido as lições da derrota em 2002, da criação de um forte antipetismo, relacionado à experiência do governo do Estado.

JC - Como?
Marenco - Naquele momento, Olívio se elegeu com uma coalizão de esquerda, com o apoio do PDT, PSB, PCdoB. Fez o cálculo de que poderia governar com minoria, apostando em movimentos sociais. E num quadro bem diferente do atual, de forte polarização com o (Antonio) Britto, a marca vai ser de conflito. Conflito com a Assembleia, com a Ford. Uma ideia de impor uma marca de governo de esquerda, com certas rupturas.

JC - E agora?
Marenco - O governo Lula produz outra experiência em termos de coalizões. E deve ter constituído um aprendizado para Tarso e o PT. Tudo indica na direção de dialogar com partidos que não o apoiaram no primeiro turno. Só com os partidos que o apoiaram, tem 18 deputados. Se incorporar o PDT, chega a 25 deputados. Não é maioria, mas já dá para fazer um governo, dialogando com a oposição. Agora, há uma interlocução com o PTB. Então, Tarso pode montar uma coalizão com maioria na Assembleia. Colado às experiências pragmáticas do governo Lula, e pela campanha, Tarso parece que fará um governo muito mais moderado do que foi o primeiro do PT.

JC - É viável o discurso de fazer projetos e investir com recursos do governo federal?
Marenco - O Rio Grande do Sul tem esse quadro de agravamento financeiro. E hoje há um padrão muito mais forte de relação do governo federal com municípios do que com os estados. Aqui mesmo há um crescimento grande, do polo naval de Rio Grande, as universidades, como a Unipampa na Fronteira-Oeste, uma região que estava estagnada. Então, a cooperação entre governo do Estado e União com investimentos federais pode ser um elemento de alavancagem.

JC - Essa tese se mantém se Serra for eleito?
Marenco - Talvez complique pela agenda do Serra e suas prioridades. Normalmente o PSDB tende para o equilíbrio fiscal, com redução de investimentos. Vários economistas chamaram a atenção para o desequilíbrio das contas, a expansão do gasto público. Imagino que um governo Serra vá priorizar mais isso aí.

JC - Retomando o PMDB gaúcho. Como o partido sai desta eleição?
Marenco - Muito esfacelado. Perdeu a prefeitura, em primeiro lugar, o Senado e deixou de ganhar uma eleição ao Piratini em que Fogaça era o favorito. Lideranças importantes saíram muito quebradas, sobretudo a de Eliseu Padilha. O senador (Pedro) Simon saiu muito enfraquecido. No Rio Grande do Sul, com certeza, foi o partido que mais perdeu. E 30% de diferença (entre Tarso e Fogaça) é algo fora dos padrões.

JC - O PMDB gaúcho vai apoiar Dilma ou Serra?
Marenco - Dilma não. A tendência é que boa parte dos deputados vai manifestar preferência pelo Serra. Sem Simon, sem Rigotto, sem Fogaça, sem Padilha, talvez o (deputado) Osmar Terra pode surgir como liderança. E ele se posicionou ao lado do Serra.

JC - Como o PMDB pode se reinventar pós-Simon?
Marenco - O PMDB vai ser, nos próximos quatro anos, o principal partido da oposição. O tempo para se recompor vai depender de variáveis como o desempenho do governo Tarso e o quadro nacional. Vai levar algum tempo e provavelmente vai perder um pouco de espaço.

JC - O quê, por exemplo?
Marenco - Porto Alegre. Não vejo alternativa de em 2012 o PMDB voltar, porque o espaço está ocupado. Talvez se mantenha se vier uma candidatura no campo que elegeu Tarso, como Manuela (D’Ávila, PCdoB). O (prefeito José) Fortunati (PDT) vai tentar costurar um campo com o PMDB, que não terá o protagonismo que teve com Fogaça.

JC - Esse tabuleiro político de 2012 pode constranger Tarso, tendo em vista que ele quer atrair o PDT, mas ao mesmo tempo já tem o PCdoB? Manuela e Fortunati se configuram como possíveis protagonistas de 2012 em Porto Alegre.
Marenco - Tarso tem que ter a capacidade de administrar isso, como Lula e Dilma fizeram nos casos estaduais. Até pelo fato de o PT não ter um nome forte para concorrer.

JC - E a questão de valorizar os aliados, pesa?
Marenco - É fundamental. Talvez equilibrar-se, ficar neutro entre Fortunati e Manuela, pode ser um bom negócio para Tarso. Não é muito da tradição do PT, mas pode ser interessante (o partido não lançar nome à cabeça de chapa). Se Tarso conseguir isso, pode ser uma condição para ele - paralelo a um governo bem-sucedido – catapultar-se para uma reeleição. Para construir um campo amplo, como o Lula fez.

JC - E o segundo turno na disputa presidencial, foi uma surpresa?
Marenco - O quadro chegou a ser consolidado para uma vitória de Dilma no primeiro turno. Na primeira semana de setembro, tem um dia em que Dilma bate nos 56% de intenção de votos. Nos votos válidos chegaria a 60%, 61%. Com as denúncias, o índice desce um pouco. Nos últimos dez dias o cenário muda. Em parte por erros do PT e em parte por erros de campanha.

JC - Quais?
Marenco - A campanha do PT foi bem-sucedida na TV nos primeiros 15 dias. Apresentou Dilma, mostrou a relação com o presidente Lula e os êxitos do governo. E ela deu uma disparada, pulou para 47% e o Serra caiu para 30%. Foi abrindo vantagem. Porém, em setembro, mudou a agenda e a pauta da campanha, mas isso foi subestimado pelo PT. Nos primeiros dias as denúncias não produziram efeito. Talvez nunca tenham produzido uma migração de eleitores da Dilma para o Serra. Os votos vão para Marina. O eleitor também quis dar um puxão de orelhas, como já havia feito em 2006 - no finalzinho tem o episódio dos “aloprados” e o eleitor leva para o segundo turno. Depois tudo volta para Lula, porque (Geraldo) Alckmin (PSDB) fez menos votos no segundo turno do que no primeiro.

JC - É bom para a democracia o segundo turno?
Marenco - O segundo turno tem esse sentido de produzir oportunidade para que o presidente não seja eleito por uma margem pequena, mas que venha com um apoio mais significativo. Se Dilma tivesse feito 3% a mais, sairia enfraquecida.

JC - E o tamanho de Marina, equivale aos 20 milhões?
Marenco - Certamente não. Tem pelo menos três grandes componentes: a Marina, de 8% a 9%, um componente ambiental, pela importância do tema, e uma outra parte expressiva que é o eleitor que era da Dilma e ficou incomodado. São 19% dos votos que podem decidir a eleição. Dilma tem condições muito mais favoráveis para atrair esse eleitor, que era dela até pelo menos 10 dias antes da eleição.

JC - Qual a chance de Serra buscar uma virada?
Marenco - Um bom desempenho nos debates, mas ele não tem tido. A única situação favorável que ele poderia ter seria desconstituir Dilma, através da dúvida, denúncias na Casa Civil do governo, que foi um pouco o que ele conseguiu fazer. Uma agenda republicana. E atrair um eleitor conservador, que esteve com a Marina. O PV é inexpressivo. Há uma grande distância entre os 19 milhões de votos que a Marina fez e os 15 deputados federais que o PV elegeu. O eleitor da Marina não votou no PV, votou na Marina, pelo que ela significa.

Perfil

O cientista político André Marenco, 47 anos, é natural de Tupanciretã (RS). Cursou a faculdade de Ciências Sociais e fez mestrado e doutorado em Ciência Política, todos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Hoje, ele trabalha na universidade que o formou como professor no Programa de Pós-graduação em Ciência Política. Também atua no Centro de Estudos sobre Governo. Publicou artigos em periódicos científicos nacionais e internacionais sobre instituições políticas, campanhas eleitorais e reforma política.

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