ZERO HORA 23 de outubro de 2015 | N° 18333
GUILHERME MAZUI | RBS BRASÍLIA
ESCÂNDALO DA PETROBRA. CPI que não indiciou políticos custou mais de R$ 1,5 milhão
COMISSÃO VIAJOU ATÉ A EUROPA em busca de provas, mas encerrou os trabalhos sem enxergar as contas secretas de Cunha
Oito meses de trabalho, 132 pessoas ouvidas, 1,1 mil requerimentos, uma viagem a Londres, na Grã-Bretanha, e mais de R$ 1,5 milhão em gastos. São números da CPI da Petrobras na Câmara, encerrada por um relatório que blindou políticos e fez críticas à Operação Lava-Jato.
– Foi o relatório possível, pois a CPI foi excessivamente truncada e politizada, com a tentativa de atacar o governo. Ela não avançou – reconhece a deputada Maria do Rosário (PT-RS).
O resultado levanta dúvidas sobre a necessidade das despesas. O relatório de Luiz Sérgio (PT-RJ) foi o epílogo de uma comissão criada em fevereiro, sem avanços em relação às investigações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF).
– Há muito tempo as CPIs se tornaram inúteis, viraram um Gre-Nal político. Elas ficam caras porque não levam a lugar algum – diz o economista Gil Castello Branco, da ONG Contas Abertas.
Zero Hora solicitou, ontem, à Câmara informações sobre o custo da comissão e despesas com diárias, passagens, alimentação e hospedagem de parlamentares e número de servidores envolvidos na CPI. Segundo a Casa, os dados são fornecidos mediante pedido via Lei de Acesso à Informação, norma que determina prazo de até 30 dias para resposta.
Das despesas conhecidas, a maior remete ao contrato de R$ 1,18 milhão com a empresa americana Kroll, que deveria rastrear contas no Exterior ligadas à Lava-Jato. No relatório final, o trabalho da empresa é resumido em duas páginas, sem detalhes do que apurou. Deputados estranharam que a Kroll foi dispensada em agosto e, semanas depois, vazaram informações sobre as contas secretas na Suíça do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Os gastos da comissão foram engordados por viagens estimadas em R$ 370 mil. Alguns deputados receberam diárias, enquanto outros usaram a verba indenizatória dos gabinetes, prática que não implica em custo extra à Câmara. Onyx Lorenzoni (DEM-RS) utilizou R$ 976 da cota de gabinete para ir de Porto Alegre a Curitiba em agosto para rodada de depoimentos. Já o presidente da comissão, Hugo Motta (PMDBPB), recebeu R$ 3,1 mil em seis diárias extras (R$ 524 cada) para duas missões.
Também houve viagem a Londres para ouvir o ex-diretor da SBM Offshore Jonathan Taylor. A comitiva de oito deputados e um servidor consumiu R$ 59 mil em diárias. O grupo embarcou num sábado, na segunda-feira almoçou com o embaixador do Brasil e o depoimento do ex-funcionário ocorreu na terça.
– O gasto com as viagens a Curitiba são normais, muita gente está presa lá. Grave foi ter poupado os políticos. Nenhum deputado investigado foi convocado, e temos muitos na Casa – critica Ivan Valente (PSOL-SP).
DEPUTADO DO DEM QUER NOVA APURAÇÃO
Já Onyx sustenta que o custo foi legítimo. O fracasso se deve ao relatório, que classificou como “absurdo”. O parlamentar planeja coletar assinaturas para abrir outra comissão.
– Assassinaram a CPI por um acordão entre PT e PMDB, e com beneplácito do PSDB. As delações de Ricardo Pessoa (dono da empreiteira UTC) e Fernando Baiano (operador do PMDB) atingem Lula e Dilma, e ficaram de fora porque são recentes. É preciso investigar mais – diz.
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