VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

JARDEL, CUNHA E DILMA



ZERO HORA 15 de outubro de 2015 | N° 18325



DAVID COIMBRA




Lincoln era bom de discurso. Um dos melhores oradores da História em todos os tempos. Mas, ao contrário de um Fidel ou de um Chávez, que passavam seis horas arengando, ele era objetivo. Seu discurso mais famoso durou menos de dois minutos. É o histórico Discurso de Gettysburg, realizado depois de uma vitória importante na Guerra Civil. Nesse pronunciamento, Lincoln definiu numa única frase o que é a democracia e o que significa a função do homem público:

“É o governo do povo, pelo povo e para o povo”.

Irretocável.

É por isso, por estar lá pelo povo, a fim de trabalhar para o povo, que o político eleito tem mais obrigações e deve mais satisfações do que aquele que trabalha na esfera privada. Quem recebe o voto recebe também a confiança da população e um conjunto de deveres. Se você não quiser ter esses deveres, se não quiser ser cobrado e vigiado, não se candidate.

O político eleito não pode nem se esconder atrás do cinismo da lei, do que “não é ilegal, mas é imoral”. Ou, pelo menos, suspeito.

No caso de Eduardo Cunha, por exemplo, há indícios de sobra de que ele tem na Suíça contas que dizia não ter. Ele é presidente da Câmara dos Deputados, um cargo relevante, que mais relevante está sendo agora, quando a presidente do Brasil pode sofrer processo de impeachment. Cunha, obviamente, devia se afastar do cargo, até que a situação fosse esclarecida. Obviamente.

Já a presidente ameaçada discursou na terça-feira sobre as pedaladas fiscais. Esse recurso é proibido por lei. Dilma não negou que se valeu dele. Quer dizer: não negou que infringiu a lei. Mas justificou. Disse que fez isso para pagar o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida. Isto é: para atender aos mais pobres.

Trata-se de uma demagogia e de uma falsidade. Em primeiro lugar, porque, se ela infringiu a lei, infringiu a lei. Pouco importa o fim, se foi esse o meio. Em segundo lugar, porque, se faltou dinheiro para os mais pobres, é porque o dinheiro dos mais pobres foi utilizado antes, em outras finalidades. Notoriamente, no esforço para a reeleição.

Se eu passar 30 dias em Paris, hospedado no George V, jantando em restaurantes três estrelas do Guia Michelin, depois vai faltar dinheiro para o leite do meu filho. Aí vou ali no Trader Joe’s, roubo um litro de leite e grito: “É por uma causa justa! É para alimentar o meu filho!”. Coitadinho de mim, não é?

Não. Não é.

Não acho que pedaladas fiscais sejam razão para derrubar o governo, mas não vá a Dilma posar de defensora dos necessitados porque as fez. Ela as fez por irresponsabilidade fiscal. Obviamente.

Por fim, no Rio Grande amado, temos o deputado Jardel. Todos sabemos que Jardel deu o voto decisivo para a aprovação do projeto do governo de aumento de impostos, ainda outro dia. Todos sabemos também que ele não tinha convicção desse voto. Que ficou indeciso até o último momento. E agora, depois de garantir a vitória ao governo, Jardel viaja com um assessor pela Europa, com despesas de quase R$ 40 mil pagas pela Assembleia.

Essa viagem é necessária? Vale o investimento, sabendo-se que o Estado está em situação precária?

Se Jardel e a mesa diretora da Assembleia não forem convincentes ao explicar essa viagem, a desagradável suspeita de que houve negociação do voto do deputado recairá sobre eles. Obviamente.

Jardel, Cunha e Dilma. Por favor, isso não é ser do povo, pelo povo e para o povo.

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