VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

domingo, 11 de outubro de 2015

POBRE SUÍÇA POBRE



ZERO HORA 11 de outubro de 2015 | N° 18321


FLÁVIO TAVARES*



A ansiedade doentia da sociedade de consumo, que nos leva a desejar ter mais e mais a cada instante (comprando e vendendo até o impossível), atingiu, dias atrás, até um dos ícones da vida moderna. Na Alemanha, a Volkswagen confessou publicamente ter instalado um falso sistema antipoluição em 11 milhões de veículos espalhados pelo mundo, e assim lançou a dúvida sobre centenas de outras falcatruas similares com que o consumismo nos presenteia mundo afora.

Aqui, já nos acostumamos com as facilidades da trapaça. Medicamentos e universidades se propagandeiam pela TV em meio a programas que só oferecem vulgaridade. Os políticos nos mentem, mas, a cada eleição, voltamos a crer nas mentiras de amanhã. Empresários desonestos se misturam a empreendedores corretos. A burocracia do serviço público, desde a ditadura direitista, virou ameba que se alimenta do que faz e pouco faz na vida em si.

A diferença, porém, é que, na Alemanha, a própria VW tornou público o erro, puniu os culpados diretos e seu intocável presidente mundial se demitiu. Aqui, até os “delatores premiados”, que dizem “contar tudo”, poupam os “grandes” que ordenaram tudo.

Ou não é assim no assalto à Petrobras? Nossas leis são tão benignas com o crime, que, em duas semanas , Paulo Roberto Costa, que, em nome do PP, organizou a roubalheira com o PT e o PMDB, deixará a “prisão” em seu apartamento de luxo no Rio e sairá à rua, livremente. Com a “delação premiada”, sua pena terminou de fato: usará só uma tornozeleira eletrônica, sistema caríssimo pago por nós, o povo esfaqueado por impostos.

E ainda nem sequer apareceu toda a engrenagem de corrupção na Petrobras! Os extratos das “contas ocultas” na Suíça do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, do PMDB, já estão com a Polícia Federal, mas ele continua a negar que existam. E que seja dinheiro de suborno na compra de navios-sonda da Petrobras.

Mas não só tenho pena do Brasil. Tenho pena da Suíça!

Mais do que dos relógios, a Suíça vive das contas secretas dos bancos onde a trapaça mundial deposita o que desviou em silêncio. Lá está a grande lavanderia financeira, inexpugnável por anos e anos. Agora, porém, centenas de milhões de dólares repatriados de lá pela Operação Lava-Jato devem ter descapitalizado os sólidos bancos da Confederation Helvética...

Nesta semana, finalmente a Suíça repatriou US$ 19,4 milhões, parte do que o juiz Rocha Mattos (condenado em 2015) roubou da construção do prédio do Tribunal do Trabalho paulista, do qual foi presidente. Do desvio total de duas vezes mais, foi o que sobrou das meritíssimas gastanças.

Além do roubado à Petrobras pelo trio de empresários, políticos e burocratas, falta repatriar o que sumiu da construção da usina nuclear de Angra, sem contar o que milhares de brasileiros têm imobilizados por lá e que poderiam investir aqui.

Andarão pela Suíça os milhões desviados da Espanha e pagos por lá a Neymar e Messi?

Os bancos suíços são sólidos, porém, e resistirão a eventuais descapitalizações! O mundo inteiro se lava neles. Poderão estar por lá os US$ 50 milhões que nosso João Havelange recebeu em propinas da empresa ISL, entre 1992 e 2000, quando presidiu a Fifa?

Estarão por lá outros milhões de dólares que o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira teria recebido também como propina? A denúncia contra ambos partiu do coreano Chung Mong Joon, principal acionista da Hyundai e um dos pré-candidatos à presidência da Fifa antes de que ele próprio fosse envolvido no grande escândalo suíço de agora, que chuta direto ao gol.

Ainda nem investigamos os bilhões da Copa de 2014 no Brasil, mas já tenho pena da Suíça.

Jornalista e escritor*

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