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sexta-feira, 18 de abril de 2014

BUROCRACIA E BUROCRATIZAÇÃO


ZERO HORA 18 de abril de 2014 | N° 17767


ARTIGOS

SANCHOTENE FELICE*



Deixando de lado a origem etimológica do termo, a burocracia é comumente entendida como sistema de práticas técnico-administrativas regulamentadas ou consagradas pelo uso a serviço do homem. Acompanham-na, sempre, ideias de papel, requerimento, tramitação, funcionalismo público, processo, deferimento, indeferimento, registros de toda ordem. Mas, apesar de não estimular fácil adesão espiritual, é a burocracia, em sua essência ordenadora, indispensável instrumento de controle social, destinado a conciliar justos interesses coletivos e individuais.

O Estado, em sua precípua missão de promover o bem comum, a institucionaliza e exercita, dela recebendo diversificadas influências, passíveis de permanente avaliação e correções. Mas, em todos os países do mundo, em especial nos que experimentam rápidas mudanças socioculturais e econômicas, a burocracia ameaça transformar-se num fim em si mesmo, eis que se vai enredando nos tentáculos enfermos de seu próprio sistema. Convém chamar esse estado patológico de burocratização, momento em que os meios se sobrepõem aos fins e a simpatia aos valores, descortinando triste elenco de distorções e injustiças.

Ressalte-se que a burocratização é defendida, com intransigência, pelo seu criador, o burocratizado ou burocratizador, agente cujo papel se opõe ao do burocrata. Enquanto este, vital à burocracia, resolve problemas, dentro do possível, aquele cria problemas, tornando tudo ou quase tudo impossível. Em síntese, o burocratizado é alguém que se autoafirma pela negação.

Senhor dos detalhes da engrenagem processual, tão estranho e negativo personagem inventa expedientes para ser temido, bajulado, prestigiado, sem o que engaveta, informa contra ou protela, valendo-se de inverdades e sofismas ameaçadores que se agigantam frente à ignorância ou paciência alheias.

Há burocratizado que o é há vários lustros, figura quase sempre obesa, míope, com crises hepáticas e intestinais, ranzinza, vítima da rotina que herdou ou fez nascer, cultua e aprimora. Há ainda o burocratizado decaído por covardia; o que não se anima a assumir responsabilidades e sistematicamente as transfere, via de regra a outro de índole semelhante, formando um rodízio embriagado pela mediocridade moral ou depauperado pela incompetência funcional.

Através dessa ou de outras formas comportamentais, o burocratizado exterioriza seu desajustamento, vingando-se, consciente ou não, da escassa margem de progresso, que a organização burocrática tradicional lhe possibilita. Eis um estudo que merece ser realizado. Conhecer a mobilidade social, econômica e cultural que graça no universo da burocracia, de ontem e de hoje, será vital ao enfrentamento sistemático do problema.

No Brasil temos bons burocratas, burocratas apenas e burocratizados. Apoio e estímulos devemos aos primeiros; oposição enérgica aos últimos, posto que se arrolam entre os maiores obstáculos ao desenvolvimento nacional.

*Sociólogo e economista


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