VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A MANIPULAÇÃO DO CONSENSO

 
ZERO HORA 08 de novembro de 2012. ARTIGOS

Túlio Martins*

No Século de Péricles, a cidade de Atenas não tinha um governo semelhante ao que hoje vemos nas principais democracias do mundo, formado através da eleição dos governantes pelo voto. No sistema de então, os representantes do povo eram escolhidos entre a população pelo critério do sorteio. Quando algo importante acontecia, os arautos espalhavam a notícia pela cidade, a Assembleia do Povo se reunia e todos podiam fazer uso da palavra. A função das grandes lideranças políticas, entre as quais Péricles, mas também Efialtes, Temístocles e tantos outros, era argumentar junto à população tentando convencê-la a tomar uma ou outra decisão.

A sinceridade e o improviso dominavam os debates, pois havia pouco espaço para articulações políticas, ocultação de informações ou troca de favores. A necessidade de cativar os ouvintes através de uma argumentação consistente fazia com que os principais atributos de um líder fossem a credibilidade e a capacidade de convencimento. As deliberações da administração – o Conselho dos Quinhentos – eram levadas à assembleia, que proferia a palavra final e decidia sobre as proposições das lideranças e, também, de qualquer um do próprio povo. O modelo político ateniense era tão sofisticado, que permitia, por tal processo, que todo cidadão apresentasse, caso quisesse, propostas que deveriam ser discutidas pelos demais. Tomada a decisão, os arautos a comunicavam pelas ruas, anunciando a deliberação como um ato da cidade e dos atenienses.

Contudo, o sistema corria o risco de inviabilizar-se se não houvesse um controle mínimo sobre a razoa-bilidade das proposições, evitando perda de tempo com ideias bizarras ou questões irrelevantes. A solução encontrada foi a aplicação de penalidades àqueles que abusassem do direito com tolices ou sugestões disparatadas.

Um outro perigo era o controle da população, levada em algumas ocasiões a deliberar de forma inconsequente e emocional, deixando de lado convicções e interesses em troca de uma expectativa irreal ou de falsas soluções. Este aspecto perverso da democracia era explorado de forma implacável por políticos que compreendiam facilmente as carências, fraquezas e aspirações das pessoas e tratavam de apenas agradar-lhes, prometendo qualquer coisa, sem o menor compromisso com a verdade. Os atenienses a um só tempo os amavam e os odiavam, sabendo que eram enganados, mas não conseguindo resistir ao pensamento mágico e aos encantos daqueles que eram chamados de demagogos.

Quase tudo o que somos originou-se na inteligência luminosa dos gregos, em seus sábios, médicos, filósofos, físicos, teatrólogos, poetas e matemáticos. Mas deles também herdamos a demagogia, que tanto mal causou a Atenas e continua presente em qualquer cena política; o poder sem escrúpulos, alcançado e exercido pela simples manipulação do consenso, é uma ameaça permanente que somente pode ser enfrentada através da autocrítica e do reconhecimento sincero de nossas próprias fraquezas.


*Desembargador

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