VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O VOTO CORROMPIDO

ZERO HORA 02 de novembro de 2012 | N° 17241

EDITORIAIS

É estarrecedor, pela forma como os corruptores agiam, o caso da compra de votos em Jaquirana, tornado público com a divulgação das vozes dos próprios envolvidos, em telefonemas grampeados pela polícia. Uma pequena comunidade da serra gaúcha torna-se, repentina e tristemente, célebre como exemplo de maracutaia eleitoral no último pleito municipal. O episódio choca pela revelação de detalhes escabrosos, denunciadores da promiscuidade entre candidatos e eleitores, mas é enganoso pensar que se trata de uma raridade. Há consenso de que se trata de uma prática generalizada no Estado e no país, com a diferença de que poucas vezes há flagrantes, com a interceptação de conversas sobre a troca de votos por favores financeiros.

O que as gravações revelam é que eleitores em dificuldades, ignorantes ou interesseiros não hesitam em trocar o direito de escolha assegurado pela Constituição por pagamentos na forma de pneus, gasolina para o carro ou eletrodomésticos. No outro lado, políticos e cabos eleitorais compram votos como quem busca vantagens numa liquidação. O esquema montado pelos criminosos não existiria se alguns eleitores não se dispusessem a negociar o voto. Merece atenção, no entanto, o fato de que os grampos identificam claramente, em muitos casos, o drama pessoal de moradores que pedem alimentos e oferecem as suas adesões e as de parentes às candidaturas indicadas pelo corruptor. É evidente que a quadrilha se organizou para tirar proveito político de eleitores fragilizados socialmente, mesmo que nem todos estejam nessa situação.

Há imoralidade nesse e em certamente outros dos 32 casos sob investigação no Estado, todos envolvendo possíveis delitos cometidos na eleição municipal. O que esses episódios caracterizam é o total desrespeito de pretendentes a cargos públicos pelo eleitor e pela comunidade. São ofendidos os que votaram supondo participar de uma eleição limpa e também os que, como candidatos – na condição de adversários derrotados pelos corruptos –, foram coadjuvantes de uma disputa fraudada. Os pretensos líderes partidários e seus asseclas atentaram contra a democracia e desprezaram as vontades dos cidadãos que pretendiam representar.

Como as provas divulgadas não deixam dúvida sobre a caracterização dos crimes, é também condenável a reação de parte da população de Jaquirana, que questionou a ação policial. Espera-se que a parcela descontente represente uma minoria insignificante, porque a polícia, o Ministério Público, o Tribunal de Contas e a Justiça não podem ser desrespeitados, como instituições que têm a missão de zelar permanentemente pela legalidade. Políticos que se consideram imunes a controles, que cometem a façanha de administrar municípios com mais eleitores do que habitantes, que usam verbas públicas para corromper e tratam suas comunidades como currais deveriam estar atentos ao que vem acontecendo, em nome da moralidade, em Brasília e, agora, também em Jaquirana. Antigos e recentes compradores de votos foram flagrados porque subestimaram as vigilâncias. Merecem o julgamento e o destino dos que se valem da democracia para delinquir.

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