REVISTA ISTO É N° Edição: 2135 | 08.Out.10 - 21:00 | Atualizado em 25.Nov.12 - 08:34
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE
Um homem ficha limpaDono da maior votação proporcional do País, José Antônio Reguffe chega à Câmara disposto a reduzir o salário dos deputados e o número de parlamentares no Congresso
Adriana Nicacio, Hugo Marques e Sérgio Pardellas
Aos 38 anos, o economista José Antônio Reguffe (PDT-DF) foi eleito deputado federal com a maior votação proporcional do País – 18,95% dos votos válidos (266.465 mil) no Distrito Federal. Caiu no gosto do eleitorado graças às posturas éticas adotadas como deputado distrital. Seus futuros colegas na Câmara dos Deputados que se preparem. Na Câmara Legislativa de Brasília, o político desagradou aos próprios pares ao abrir mão dos salários extras, de 14 dos 23 assessores e da verba indenizatória, economizando cerca de R$ 3 milhões em quatro anos. A partir de 2011, Reguffe pretende repetir a dose, mesmo ciente de que seu exemplo saneador vai contrariar a maioria dos 513 deputados federais. Promete não usar um único centavo da cota de passagens, dispensar o 14º e 15º salários, o auxílio-moradia e reduzir de R$ 13 mil para R$ 10 mil a cota de gabinete. “O mau político vai me odiar. Eu sei que é difícil trabalhar num lugar onde a maioria o odeia. Quero provar que é possível exercer o mandato parlamentar desperdiçando menos dinheiro dos cofres públicos”, disse em entrevista à ISTOÉ.
Istoé - O sr. esperava ter quase 270 mil votos?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE - Nem no meu melhor sonho eu poderia
imaginar isso. O resultado foi completamente inesperado. Foi um
reconhecimento ao mandato que fiz como deputado distrital. Cumpri todos
os meus compromissos de campanha. Enfrentei a maioria e cheguei a votar
sozinho na Câmara Legislativa.
Istoé - O que foi diferente na sua campanha para gerar uma votação recorde?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE - A campanha foi muito
simples, gastei apenas R$ 143,8 mil. Não teve nenhuma pessoa remunerada,
não teve um comitê, carro de som, nenhum centavo de empresários. Posso
dizer isso alto e bom som. Foi uma campanha idealista, da forma que acho
que deveria ser a política. Perfeito ninguém é. Mas honesta toda pessoa
de bem tem a obrigação de ser. Não existe meio-termo nisso. Enfrentei
uma campanha muito desigual. Só me elegi pelo trabalho como deputado
distrital.
Istoé - O que o sr. fez como deputado distrital?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE - Abri mão dos salários
extras que os deputados recebem, reduzi minha verba de gabinete,
eliminei 14 vagas de assessores de gabinete. Por mês, consegui
economizar mais de R$ 53 mil aos cofres públicos, um dinheiro que
deveria estar na educação, na saúde e na segurança pública. Com as
outras economias, que incluem verba indenizatória e cota postal, ao
final de quatro anos, a economia foi de R$ 3 milhões. Se todos os 24
deputados distritais fizessem o mesmo, teríamos economia de R$ 72
milhões.
Istoé - O sr. pretende abrir mão de todos os benefícios também na Câmara Federal?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE - Na campanha, assumi alguns
compromissos de redução de gastos. Na Câmara, vou abrir mão dos salários
extras de deputados, como o 14º e o 15º, que a população não recebe e
não faz sentido um representante dessa população receber. Não vou usar
um único centavo da cota de passagens aéreas, porque sou um deputado do
DF. Não vou usar um único centavo do auxílio-moradia. É um absurdo um
deputado federal de Brasília ter direito ao auxílio-moradia. Vou reduzir
a cota interna do gabinete, o “cotão”, e não vou gastar mais de R$ 10
mil por mês.
Istoé - Com essa atitude na
Câmara Legislativa, o sr. recebeu uma pressão dos colegas. Não teme
sofrer as mesmas pressões na Câmara Federal?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE - É verdade. Eu fui
investigado, pressionado. Mas não quero ser mais realista que o rei, sou
um ser humano como qualquer outro, erro, falho, mas quero cumprir os
compromissos com as pessoas que votaram em mim. Uma pessoa que se propõe
a ser representante da população tem que cumprir sua palavra. O mau
político vai me odiar. Eu sei que é difícil trabalhar num lugar onde a
maioria o odeia. Quero provar que é possível exercer o mandato
parlamentar gastando bem menos e desperdiçando menos dinheiro dos cofres
públicos.
Istoé - Quando houve a crise do mensalão do DEM em Brasília o sr. realmente pensou em abandonar a política?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE - Houve alguns momentos em
meu mandato que pensei em não ser candidato a nada, por uma decepção
muito grande com a classe política. E uma decepção quanto à forma como a
sociedade enxerga a política, da sociedade achar que todo político é
corrupto.
Istoé -O sr. já tem projetos para o seu mandato? A reforma política é um deles?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE - Sim. Vou apresentar uma
proposta de reforma política em cinco pontos. A população não se
considera representada pela classe política e é preciso modificar isso. O
primeiro ponto é o fim da reeleição para cargos majoritários, como
prefeito e governador, e o limite de uma única reeleição para cargos
legislativos. Tem gente que é deputado há 40 anos. Mas a política deve
ser um serviço e não uma profissão.
Istoé - E os outros quatros pontos?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE - Vou propor o fim do voto
obrigatório. A eleição do Tiririca, em São Paulo, é o resultado do que
ocorre quando se obriga a população a votar. Ela vota em qualquer um. O
terceiro ponto é o voto distrital. A quarta proposta é um sistema de
revogabilidade de mandato, no qual o eleitor poderia pedir o mandato do
candidato eleito, caso ele não cumpra seus compromissos. Por fim,
defendo o financiamento público de campanha.
Istoé - Nos moldes do que tramita no Congresso?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE - Não. Minha proposta é
totalmente diferente. Se der dinheiro ao político, ficará pior do que
está, porque vai ter gente virando candidato só para ganhar dinheiro. Na
minha proposta, a Justiça Eleitoral faria uma licitação e a gráfica que
ganhasse imprimiria o panfleto de todos os candidatos, padronizado e em
igual quantidade para todos. A pessoa teria que ganhar no conteúdo. O
TSE pagaria a gráfica. A produtora que ganhasse gravaria programas na
tevê para todos os candidatos. A campanha ficaria mais chata, mas
acabaria a promiscuidade entre público e privado.
Istoé - Como o sr. vê as propostas que aumentam o número de deputados e vereadores?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE - É importante a existência
de um Legislativo forte. Mas as casas legislativas no Brasil são muito
gordas e deveriam ser bem mais enxutas. A Câmara não precisa de 513
deputados, bastariam 250.
Istoé - O mesmo vale para o Senado?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE - Deveria ser como era antes,
com apenas dois senadores por Estado. Assim sobrará mais dinheiro para a
educação, a saúde, a segurança pública e os serviços públicos
essenciais. É muito difícil aprovar essa mudança, mas não é por isso que
deixarei de lutar por minhas ideias.
Istoé - Como será seu comportamento diante das propostas do Executivo?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE - Os parlamentares que votam
sempre sim ou sempre não, porque são da base do governo ou da oposição,
não têm a menor consciência de suas responsabilidades. Eu tenho. Vou
agir da mesma forma como agi na Câmara Legislativa, vou analisar o
mérito do projeto e algumas vezes votar contra o meu partido. Ideias a
gente debate ao extremo, mas a pessoa de bem não pode transigir com
princípios. Ceder um milímetro em matéria de princípio é o primeiro
passo para ceder um quilômetro.
Istoé -O sr. não teme se tornar um personagem folclórico ao apresentar propostas que dificilmente terão apoio dos outros 512 deputados?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE - A primeira tentativa é de
folclorizar quem enfrenta o sistema, quem luta pelo que pensa e quer
sair dessa prática da política convencional. Eu faço a minha parte. Não
assumi o compromisso com nenhum eleitor meu de que vou conseguir aprovar
os meus projetos. Mas assumi o compromisso com todos os meus eleitores
de que vou fazer a minha parte e disso eu não vou arredar um milímetro.
As pessoas fazem uma série de confusões na política. Uma delas é
acreditar que governabilidade é sinônimo de fisiologismo. É trocar votos
por cargos ou por liberação de emendas. É claro que existem outros 512.
Se eu for minoria, fui, mas vou votar como acho que é certo.
Istoé - O PDT hoje tem o
Ministério do Trabalho na mão, o sr. concorda com isso? O sr. acha que
os partidos devem ter indicações no governo?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE - Como cidadão eu gostaria de
ver uma nova forma de fazer política, um novo conceito de administração
pública. O partido deveria ter uma atitude de independência. Eu
respeito a decisão da maioria. Mas a contribuição à sociedade seria
maior se fosse independente, elogiando o que é correto e criticando o
que é errado.
Istoé - No primeiro turno, o sr. foi contra o PDT e votou na Marina Silva. E no segundo turno? Vai liberar seus eleitores?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE - Ainda tenho que ouvi-los.
Mas, a princípio, sinto que estão muito divididos. Tive votos em todas
as cidades do Distrito Federal, nos mais diferentes perfis de
escolaridade e renda. Onde eu tive mais votos foi na classe média.
Istoé - Quais são seus outros projetos?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE - Quero criar a disciplina
cidadania nas escolas. Tão importante quanto ensinar matemática e
português é ensinar a criança a ser cidadã. O aluno precisa aprender os
princípios básicos da Constituição Federal. Uma população que não
conhece seus direitos não tem como exigi-los. As pessoas não sabem qual é
a função de um deputado. Isso é muito grave. A gente constrói um novo
país investindo na educação.
Istoé - O sr. é a favor da Lei dos Fichas Sujas já nesta eleição?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE - Sou. Eu sou favorável a tudo que for para moralizar a atividade política.
Istoé - Mesmo contrariando a Constituição? Dentro do STF há quem diga que a lei não deveria retroagir.
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE - A Constituição é que deveria, há muito tempo, vetar pessoas sem estatura moral para representar a sociedade.
Istoé - A Câmara e o Senado têm um orçamento que ultrapassa R$ 5 bilhões. O sr. tem algum projeto para reduzir esse valor?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE - Tudo aquilo que eu fizer também vou apresentar como proposta. Quero, pelo menos, provocar a discussão.
Istoé - O País inteiro ficou
impressionado com a votação da mulher do Roriz, que conseguiu um terço
dos votos. Há quem a chame até de mulher laranja. Como o sr. viu o
resultado em Brasília?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE - Estou apoiando o Agnelo. Mas o voto do eleitor a gente tem que respeitar, mesmo quando não gosta desse voto. Eu respeito.
NOTÍCIAS PARALELAS:
Lauro Jardim . Radar on-line com Gabriel Mascarenhas, Severino Motta e Thiago Prado
VEJA, 28/08/2012 - 6:04 \ Congresso
Os gastadores
O campeão de gastos
Encerrado o primeiro semestre, o amazonense Silas Câmara lidera o ranking dos deputados que mais gastam com a chamada cota de atividade parlamentar nesta Legislatura.
Entre fevereiro do ano passado e junho, Câmara usou 593 000 reais para cobrir as despesas do seu mandato. Ficou na frente de Moreira Mendes (570 000 reais) e Teresa Surita (566 000 reais), irmã de Emílio Surita do Pânico.
Do lado oposto do ranking estão aqueles que fecham a mão na hora de gastar o dinheiro público. José Antônio Reguffe é o que menos gastou no período – 14 000 reais -, seguido de Nice Lobão (46 000 reais) e Miro Teixeira (111 000 reais). Por Lauro Jardim
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Este perfil é o que o Brasil deseja
de um parlamentar. Porém, espero que o poder federal não o corrompa e
que as ideias colocadas aqui não sejam demagogia pura. Em dois anos, deste "esforço prometido" na Câmara Federal, só está registrado o pedido de redução do 14 e 15 salários, mas não tem nada diante do aumentou dos valores das verbas indenizatórias e da semana de três dias.
Infelizmente, o poder federal corrompe e coloca boas ideias no lixo e no arquivo morto do Congresso. Seria bom as redes sociais começarem a exigir deste deputado que tem o perfil que todos queremos no Congresso o cumprimento de todas as suas promoessas e ações mais contundentes contra as imoralidades assim como fez ao pedir a extinção do 14 e 15 salarios. Poderia até solicitar a instalação de uma nova constituinte e se manifestar contra a semana de três dias e contra o aumento dos valores das verbas indenizatórias aprovados durante o seu mandato. Com certeza teria apoio do povo brasilero.
Seria importante o Deputado começar a divulgar mais suas ações e projetos que por certo terão apoio do povo e das redes sociais. O importante desta entrevista foi o reconhecimento que é necessário "reduzir o salário dos deputados e o número de parlamentares no Congresso", acabar com os privilégios, terminar com o voto obrigatório e enxugar a constituição de 1988 para acabar com as imoralidades.
TRANSPARÊNCIA BRASIL:
http://www.excelencias.org.br/@candidato.php?id=8459&cs=1
Infelizmente, o poder federal corrompe e coloca boas ideias no lixo e no arquivo morto do Congresso. Seria bom as redes sociais começarem a exigir deste deputado que tem o perfil que todos queremos no Congresso o cumprimento de todas as suas promoessas e ações mais contundentes contra as imoralidades assim como fez ao pedir a extinção do 14 e 15 salarios. Poderia até solicitar a instalação de uma nova constituinte e se manifestar contra a semana de três dias e contra o aumento dos valores das verbas indenizatórias aprovados durante o seu mandato. Com certeza teria apoio do povo brasilero.
Seria importante o Deputado começar a divulgar mais suas ações e projetos que por certo terão apoio do povo e das redes sociais. O importante desta entrevista foi o reconhecimento que é necessário "reduzir o salário dos deputados e o número de parlamentares no Congresso", acabar com os privilégios, terminar com o voto obrigatório e enxugar a constituição de 1988 para acabar com as imoralidades.
TRANSPARÊNCIA BRASIL:
http://www.excelencias.org.br/@candidato.php?id=8459&cs=1
Nome de batismo: José Antônio Machado Reguffe
Cargo anterior: Deputado distrital (PDT-DF)
Eleito(a) pelo: PDT
e-mail: dep.reguffe@camara.gov.br
Gastos verbas indenizatórias: Telefone tão somente.
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