ZERO HORA 15 de junho de 2015 | N° 18194
GILBERTO SCHWARTSMANN*
O Leopardo (Il Gattopardo), filme clássico de Luchino Visconti, premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1963, baseado na obra de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, transporta para o cinema os tumultuados anos que antecederam a unificação da Itália. Na Sicília de 1860, a aristocracia perde poder para uma classe média emergente.
A primeira cena do filme é uma tomada da arquitetura do palácio do príncipe Don Fabrizio Salina, mostrando a família a rezar o terço, temerosa com os rumores do desembarque de Garibaldi na região.
Burt Lancaster faz o papel do príncipe, um nobre que tenta preservar sua família e posição frente aos novos tempos. O sobrinho Tancredi di Falconeri, interpretado por Alain Delon, anuncia ao tio que se unirá aos revoltosos. É a lógica de sustentação do poder.
Perante a possibilidade de mudança, a aristocracia escolhe o mal menor, pactuar com a burguesia, para a sobrevivência de ambas. Tancredi torna-se oficial do exército da nova ordem política. E é dele a mais célebre frase do filme, quando diz ao tio que “as coisas têm de mudar para que permaneçam na mesma”.
A dança do poder em nosso país não é diferente. Tudo é feito para acomodar os interesses mais mesquinhos. Mudam personagens, mas a intransponível barreira do privilégio nunca é quebrada. Basta olharmos os rostos que nos lideram. A maioria tem mentalidade igual à dos velhos caudilhos que dominaram nosso país ao longo da história.
Esquerda, direita, centro, acabamos sempre nas mãos do mesmo tipo de político. Que assume o poder em busca de favorecimentos pessoais e predisposto a saquear o Estado e loteá-lo entre seus pares. Que promove uma negociata após a outra, empobrecendo o país e aumentando de modo inexplicável o patrimônio da família durante o mandato.
Realizar projetos sérios, de curto, médio e longo prazo, que possam mudar a cara do país, promovendo melhorias no ensino, saúde, segurança pública, mobilidade, ou seja, qualidade de vida das pessoas, isto é sempre deixado de lado.
Como se fôssemos idiotas sem memória, não há escândalo capaz de mexer na essência de nossas estruturas. E olhem que o Ministério Público tem fornecido munição de sobra! Mas os maus políticos voltam sempre à cena, travestidos de articuladores de mudança. Como no Leopardo de Visconti, tudo muda no Brasil para ficar exatamente igual.
Médico e professor*
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