ZERO HORA 30 de junho de 2015 | N° 18210
DOAÇÕES SOB SUSPEITA
“Não respeito delator”, diz Dilma sobre acusações de empreiteiro
PRESIDENTE FALOU PELA PRIMEIRA VEZ após vazamento e negou que tenha recebido dinheiro ilícito em sua campanha de reeleição em 2014
Em sua primeira fala após o vazamento de informações que fariam parte da delação premiada do dono da UTC Ricardo Pessoa, a presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que não respeita delator. Em entrevista em Nova York, onde começou sua visita aos EUA (leia mais na página 10), Dilma negou que tenha recebido dinheiro ilícito em sua campanha.
– Eu não respeito delator, até porque estive presa na ditadura militar e sei o que é. Tentaram me transformar numa delatora. A ditadura fazia isso com as pessoas presas, e garanto para vocês que resisti bravamente. Até, em alguns momentos, fui mal interpretada quando disse que, em tortura, a gente tem que resistir, porque senão você entrega seus presos (companheiros) – disse.
Em delação premiada, Pessoa teria revelado que repassou R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma por temer prejuízos em seus negócios com a Petrobras. O montante foi doado legalmente. Em seus depoimentos, ele teria mencionado ainda doações ilegais de R$ 15,7 milhões a ex-tesoureiros do PT e da campanha de Dilma.
– Não tenho esse tipo de prática. Não aceito e jamais aceitarei que insinuem sobre mim ou sobre minha campanha qualquer irregularidade. Primeiro, porque não houve. Segundo, porque se insinuam, alguns têm interesses políticos – reiterou Dilma.
– Na mesma época em que recebi os recursos, no segundo turno, o candidato que concorreu comigo (Aécio Neves, PSDB) recebeu também, com uma diferença muito pequena de valores.
Ainda assim, a presidente disse que a delação de Pessoa deve ser investigada. E afirmou que tomará providências se o empresário a citar nos depoimentos.
Nova York
Janot define corrupção na Petrobras como “descomunal”
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, saiu em defesa de sua gestão no comando do Ministério Público Federal (MPF) e sustentou que fez alterações estruturais que permitiram ao órgão atuar com “profissionalismo” e “maturidade” para investigar o esquema de corrupção da Petrobras. Janot classificou os desvios na estatal, que envolvem políticos e as maiores empreiteiras do país, de “descomunal caso de corrupção”:
– Quando deparamos com este enorme, descomunal caso de corrupção, a instituição (MPF) não era a mesma de há dois anos. As mudanças estruturais realizadas nos permitiram enfrentar a questão com profissionalismo e maturidade.
As declarações foram dadas ontem durante debate promovido pela Associação Nacional dos Procuradores da República com os quatro candidatos ao cargo de procurador-geral da República. Janot concorre à indicação dos colegas para permanecer no comando da instituição por mais dois anos – seu mandato termina em setembro. Os procuradores votam uma lista tríplice que é encaminhada à Presidência da República, responsável por definir o ocupante do cargo.
LAVA-JATO PROVOCA EMBATES NA DISPUTA
O procurador-geral também incluiu em seu discurso referência à histórica divergência entre o MPF e a Polícia Federal sobre poder de investigação, que inclusive chegaram a suspender a tomada de depoimentos da Lava-Jato diante da briga pela condução dos rumos da investigação. Janot disse que o Supremo Tribunal Federal reconheceu o poder de investigação do MPF e que, agora, cabe à instituição desenvolver práticas e modelo.
O escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras tem feito parte das plataformas dos candidatos e municiado até provocações nos bastidores para tentar desqualificar rivais. Concorrem ainda ao cargo Carlos Frederico Santos, Raquel Dodge e Mário Bonsaglia.
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