ZERO HORA 06 de janeiro de 2016 | N° 18406
EDITORIAL
Interessa também à América Latina, e não só aos venezuelanos, o ambiente de radicalização do autoritarismo governista diante da ameaça concreta de perda de poder com a formação da nova Assembleia Nacional. A legislatura que se iniciou ontem expôs ainda mais os receios do presidente Nicolás Maduro e seus seguidores diante das novas possibilidades criadas pela eleição de 6 de dezembro. A truculência foi a resposta à ampla maioria conquistada pela oposição. Os parceiros de Mercosul não podem ignorar as várias iniciativas do governo no sentido de tentar esvaziar o poder do novo parlamento.
A tentativa de impugnar a posse de três deputados através de recurso na Suprema Corte, o decreto que retira da Assembleia a prerrogativa de rejeitar nomes indicados para o Banco Central e a possibilidade de Maduro emitir moeda sem qualquer fiscalização do parlamento são alguns dos gestos de desespero dos herdeiros do bolivarianismo. O que o governo tenta atingir não é apenas a oposição, mas os valores da democracia. Por isso, o cenário na Venezuela deve inquietar os vizinhos do Mercosul, em especial o Brasil, que vinha reagindo timidamente aos movimentos do presidente que perde sustentação política e não consegue impedir a deterioração da economia.
Vacilante, a presidente Dilma Rousseff, que cobra respeito ao resultado das urnas no Brasil, demorou para exigir o mesmo do colega Maduro. Ontem, finalmente, o Itamaraty emitiu uma nota pedindo que seja acatada a vontade soberana do povo e se respeitem as prerrogativas constitucionais da nova Assembleia. Cabe aos venezuelanos a vigilância interna, para que se cumpra o que as urnas determinaram em dezembro. E também é atribuição das nações do continente o acompanhamento crítico do comportamento do governo em relação ao novo cenário do país. É preciso denunciar e conter os retrocessos ensaiados pelo chavismo, para o bem da Venezuela e da América Latina.
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