ZERO HORA 23 de janeiro de 2016 | N° 18423
POLÍTICA + | Rosane de Oliveira
O que se viu ontem no PDT está longe de ser inédito: o partido reuniu-se em convenção para reafirmar o apoio à presidente Dilma Rousseff, fechar questão contra o impeachment e lançar Ciro Gomes como candidato ao Planalto em 2018, mas parte dos seus líderes boicotou o encontro por discordar das decisões. A acusação dos dissidentes é de que o presidente Carlos Lupi manobrou para aprovar o apoio ao governo, sem dar ouvidos às vozes discordantes.
Entre os descontentes está o senador Lasier Martins, que defende exatamente o contrário do que o partido anunciou. Lasier prega a saída do governo, defende o impeachment e não simpatiza com a ideia de ter Ciro como candidato a presidente. Lasier diz que o governo Dilma é sinônimo de “recessão, inflação e corrupção”, mas seus companheiros discordam. Com mais sete anos de mandato pela frente, Lasier diz que não passa pela sua cabeça deixar o PDT. Vai continuar votando com a oposição, mesmo correndo o risco de sanções por parte do comando nacional.
No bloco dos descontentes, destaca-se, entre outros, o senador Cristovam Buarque (DF), que está com os dois pés fora do PDT por discordar das posições de Lupi e da entrada de Ciro. Cristovam queria ser candidato a presidente, mas foi desbancado por Ciro.
A divisão não é privilégio do PDT. Até o partido de Dilma, o PT, está dividido entre os que apoiam as políticas do governo e os que exigem uma guinada radical à esquerda.
Um abismo separa o PMDB que defende a continuidade do apoio a Dilma e o PMDB que trabalha para derrubar a presidente.
Movidos por interesses, deputados e senadores tratam de salvar a pele ou os cargos, quando os têm. No momento em que a disputa torna-se insustentável, migram para outro partido ou criam um para chamar de seu.
Longe de atestar a saúde da democracia, a proliferação de novos partidos é sintoma da falência do sistema partidário. Como é bom negócio fundar um partido, em vez de tentar a conciliação ou de ganhar uma disputa pelo convencimento, os descontentes correm para criar uma agremiação, como quem cria uma microempresa da qual será presidente e mandachuva.
O problema atinge até quem não está no poder e tem remotas perspectivas de chegar lá. A ex-prefeita de São Paulo Luzia Erundina trabalha para criar um novo partido, batizado de Raiz Movimento Cidadanista. Erundina era do PT, brigou para ser ministra de Itamar Franco, foi para o PSB, migrou para a Rede e se desencantou quando Marina Silva declarou apoio a Aécio Neves (PSDB).
O Brasil tem 35 partidos registrados e outros tantos tentando se viabilizar. Raros são os que têm propostas claras ou que se diferenciam pelas ideias. A última aberração atende pelo nome de Partido da Mulher Brasileira – como se em política fizesse algum sentido separar homens de um lado e mulheres do outro. A maioria não passa de arranjos para satisfazer o ego dos seus líderes, que se eternizam candidatos, como Levy Fidelix (PRTB), José Maria Eymael (PSDC).
CORPORAÇÕES REAGEM A LEI
Aprovada na convocação extraordinária, a Lei de Responsabilidade Fiscal Estadual está ameaçada de se tornar letra morta. Entidades que representam juízes, promotores e auditores do Tribunal de Contas pediram formalmente ao procurador-geral de Justiça, Marcelo Dornelles, que entre com ação direta de inconstitucionalidade contra a lei que limita gastos.
As entidades alegam que a nova lei afronta o princípio da independência dos poderes.
NA SEGUNDA-FEIRA, QUANDO RETORNAR DAS FÉRIAS, MARCELO DORNELLES TERÁ REUNIÃO COM DIRIGENTES DAS ENTIDADES PARA OUVIR OS ARGUMENTOS CONTRA A LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL ESTADUAL.
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