VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

RENOVAÇÃO?

Flávio Tavares, jornalista e escritor - Zero Hora, 06/02/2011

Dias atrás, em três capitais brasileiras, perguntei a diferentes grupos de pessoas em quem haviam votado para deputado federal e estadual e praticamente ninguém recordou o nome sufragado. Em São Paulo, na sala de espera de um hospital, lembravam-se do número do palhaço Tiririca, mas a esmo, pois ninguém o votara. No Rio, numa barbearia, nem de números sabiam. Em Porto Alegre, num hospital, entre 12 adultos, só um sabia do voto para deputado estadual, não do candidato à Câmara Federal. Outros, só “anotaram o número, para facilitar”, mas já não o recordavam.

Em apenas três meses, a parafernália de folhetos, cartazes e promessas na TV virou irrecuperável amnésia. O eleitor não sabe do eleito, desconhece o conteúdo e o fim do próprio voto. E os eleitos não reconhecem o povo que os elegeu. Trocado em miúdos, isto é a crise da representatividade na democracia atual. Vota-se por obrigação, não por opção política. A lei nos obriga e levamos uma “colinha” com números, pois a urna eletrônica parece operação aritmética.

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Nessa engrenagem, nossos representantes já não nos representam. Ninguém crê no parlamento. Em qualquer grupo social, “fazer política” é tido como atividade desprezível. As fraudes e escândalos dos últimos anos ampliaram o desdém.

Mas a política nos governa e nessa contradição está o perigo. A descrença na democracia se amplia à medida que vampiros e corruptos dominam o cotidiano. “Um fraco rei faz fraca a forte gente”, já dizia Camões.

Assim, a eleição do deputado Adão Villaverde, do PT, para a presidência da Assembleia Legislativa gaúcha deve ser vista como tentativa de reabilitar a política. Engenheiro e professor universitário, íntegro e lúcido na vida pública e pessoal, Villaverde tem credibilidade para mudar o rosto e as entranhas do Legislativo após anos de sucessivos escândalos envolvendo altos funcionários e até deputados.

A fraude dos selos foi o caso mais notório, mas não o maior nem o único. Falta conhecer seus tentáculos. A própria inoperância do Legislativo, com discursos vazios e projetos inócuos, é um escândalo que os vícios da política dificultam mudar, mas que Villaverde promete enfrentar.

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Em Brasília, o gaúcho Marco Maia preside agora a Câmara Federal. Lá, porém, a escolha seguiu os desprezíveis métodos da política nacional. A barganha, a troca de favores, a oferta de vantagens acima dos compromissos públicos o levaram à presidência. No final de 2010, ele começou a caçar votos ao articular o escandaloso aumento da remuneração dos deputados e senadores – uma sangria de R$ 125 milhões ao ano nos cofres públicos. Logo, aproximou-se do chamado “baixo clero” – os deputados só interessados em favores pessoais.

Nenhuma promessa de restaurar a dignidade do Legislativo se ouviu do ex-torneiro mecânico de Canoas, que entrou à política e ao PT pela via sindical. Prometeu, porém, novos gabinetes com banheiros pessoais para os deputados e, mais ainda, interceder para liberar o pagamento das escandalosas “emendas ao Orçamento”, com que os deputados alimentam os currais eleitorais.

Esta é a renovação do Congresso em Brasília?

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