EDITORIAL
Os resvalos morais de Lula não apagam a sua biografia, mas evidenciam a visão e o comportamento de um político inapto para ocupar cargos públicos na administração do país.
Talvez o juiz Sergio Moro tenha mesmo cometido algum excesso ao autorizar a divulgação de grampos telefônicos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em que aparecem outros interlocutores que não estavam sendo investigados. Caberá aos órgãos corregedores da Justiça e ao Supremo Tribunal Federal examinar o procedimento do magistrado de Curitiba e corrigir alguma eventual ilegalidade por ele praticada. Mas não há dúvida de que o conteúdo das gravações é de interesse fundamental para os brasileiros, especialmente por revelar imoralidades protagonizadas por homens públicos que detêm posições importantes no governo, na administração e na política do país, a começar pelo líder petista recém guindado à condição de ministro-chefe da Casa Civil.
Lula, utilizando-se uma linguagem do seu gosto, pisa feio na bola ao ofender outros poderes, ao desconsiderar as instituições republicanas e ao pressionar autoridades para favorecê-lo e protegê-lo das investigações. Ninguém forçou Lula a dizer o que disse. Ainda que ele alegue na carta aberta divulgada na sexta-feira que palavras ditas em particular não devem ser tratadas como ofensa pública antes de se proceder a um exame “do levantamento ilegal do sigilo de informações”, é impossível ignorar o que ele disse, com voz clara e de forma espontânea, embora não soubesse que os diálogos estavam sendo gravados e que seriam retransmitidos para todo o país.
Os resvalos morais de Lula não apagam a sua biografia, mas evidenciam a visão e o comportamento de um político inapto para ocupar cargos públicos na administração do país. Se ele cometeu as irregularidades pelas quais está sendo investigado, entre as quais a de ter se beneficiado de propina dos saqueadores da Petrobras, caberá ao Judiciário julgar, garantindo- lhe, conforme a Constituição, amplo direito de defesa. Porém, sem prejulgamentos, já se pode concluir que o ex-presidente não está em condições de exercer plenamente as atribuições que a presidente Dilma Rousseff conferiu-lhe ao empossá-lo como ministro-chefe da Casa Civil – ainda que já pareça claro que o verdadeiro motivo do seu retorno ao governo foi outro. Como poderá Lula articular com o Congresso depois de se referir tão depreciativamente aos parlamentares e aos presidentes das duas casas legislativas? Como poderá representar o governo junto a instituições que considerou acovardadas e das quais já recebeu duras respostas?
Lula, o agora contestado ministro Lula, por seus atos e palavras, transformou-se num deprimente arremedo daquilo que foi como presidente e como uma das principais lideranças políticas do país. Ainda assim, merece ser tratado com a isenção que a Justiça do país tem que dispensar a todos os brasileiros.
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