ZERO HORA 05 de março de 2016 | N° 18465
EDITORIAL
Lula não é intocável. Até se pode questionar se havia necessidade de condução coercitiva para ouvi-lo, mas motivos para suspeitas existem de sobra.
Por mais chocante que seja ver um dos presidentes mais populares da história do país ser conduzido coercitivamente pela Polícia Federal para prestar esclarecimentos, a 24ª fase da Operação Lava-Jato, que teve como foco principal o depoimento do ex-presidente Lula, colocou em evidência dois pressupostos da democracia. O primeiro é o de que a verdade deve ser perseguida sempre – e não por coincidência a operação foi batizada de Aletheia, que em grego significa exatamente a busca da verdade. O segundo é o de que todos são iguais perante a lei – sem distinção de qualquer natureza, como reza o artigo 5º da Constituição Federal.
Nesse contexto, é perfeitamente natural que o Judiciário, a Receita Federal, o Ministério Público e a Polícia Federal estejam investigando todas as pessoas suspeitas de envolvimento com o monumental esquema de corrupção em torno da Petrobras, que vinha sendo saqueada há décadas por empresários gananciosos, servidores desonestos e políticos aproveitadores. Não é por outro motivo que já se encontram presos empreiteiros e diretores da estatal.
Lula não é intocável. Até se pode questionar se havia necessi- dade de condução coercitiva para ouvi-lo, pois, aparentemente, ele sempre se dispôs a colaborar com as investigações. Mas motivos para suspeitas existem de sobra: o sítio em Atibaia, o triplex no Guarujá, as relações promíscuas com empreiteiras que roubavam a Petrobras (e o povo brasileiro) e patrocinavam suas palestras, financiavam suas viagens e mobiliavam os imóveis que ele frequentava ou frequenta.
Lula continua sendo um orador notável. Ao se dirigir aos militantes do partido, depois de voltar do depoimento, manifestou sua indignação pelo envolvimento de familiares na investigação, enalteceu a própria biografia, lembrou as realizações sociais de seus governos, criticou a imprensa e apelou para a velha fórmula de se colocar como defensor dos pobres contra uma suposta elite exploradora. Não chegou ao extremo de convocar a militância para manifestações que possam degenerar em atos violentos, como irresponsavelmente fizeram algumas lideranças petistas ao longo do dia. Mas foi enfático na tese de que o seu interrogatório fará o PT levantar a cabeça e recomeçar sua luta pela recuperação.
Lula é convincente, mas não infalível nem inimputável. Mesmo que ele tenha sido o melhor presidente do país, como se considera, não está acima da lei. Ninguém está.
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