ZERO HORA 04 de março de 2016 | N° 18464
EDITORIAL
Suposta confissão do senador Delcídio Amaral lança suspeitas sobre a presidente Dilma Rousseff e reativa as engrenagens do processo de impeachment.
O documento preliminar de colaboração atribuído ao senador Delcídio Amaral, uma espécie de minuta de delação premiada, lança uma grave suspeita sobre a presidente Dilma Rousseff, com potencial para reacender a fogueira do impeachment. De acordo com cópias divulgadas ontem pela revista IstoÉ, a presidente Dilma e o ex-presidente Lula teriam participado diretamente de ações para interferir na Operação Lava-Jato e para promover a soltura de empresários acusados de corrupção. A denúncia foi contestada com indignação por parte dos porta-vozes do governo, os ministros Jaques Wagner e José Eduardo Cardozo.
Ainda que o delator seja visto como uma pessoa “sem credibilidade”, como alega o ministro Cardozo em defesa própria, pois também foi acusado de atuar contra a Lava-Jato, não se pode ignorar que o parlamentar era até pouco tempo atrás o líder do governo no Senado e que realmente participava de reuniões importantes no Palácio do Planalto. Seriam desses encontros as informações que Delcídio repassou à Procuradoria-Geral da República para conquistar o direito de passar à prisão domiciliar depois de três meses de encarceramento, por ter sido flagrado articulando a fuga do réu Nestor Cerveró.
O que impressiona são os detalhes das articulações supostamente feitas pelo governo para boicotar uma investigação que, publicamente, reivindica como prova de seu comportamento republicano e democrático. A própria presidente Dilma Rousseff já disse várias vezes que em seu governo não há “engavetador- geral da República” e que os órgãos policiais e judiciais têm plena autonomia para investigar. Esse discurso contrasta com informação de que teria nomeado um desembargador amigo para o Superior Tribunal de Justiça com o propósito de facilitar os trâmites de habeas corpus e recursos dos réus da Lava-Jato.
Ainda que o senador Delcídio Amaral não reconheça o documento com suas declarações, não é crível que se trate de pura invenção, pois a própria Procuradoria-Geral da República denunciaria uma eventual fraude. Ficam, portanto, em débito com a verdade e com a nação todos os envolvidos nesse confuso duelo de versões, delações e suspeições.
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