ZERO HORA 16 de março de 2016 | N° 18474
EDITORIAIS
O inusitado convite para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumir um ministério, com superpoderes para atuar na articulação política e na recuperação da economia, tem significados que não podem ser dissociados de um período potencialmente explosivo para os rumos tomados pela política no país. A volta do ex-presidente ao centro do poder, numa espécie de terceiro mandato, convém antes de mais nada a ele próprio, desde que se transformou em alvo da Operação Lava-Jato, e à presidente Dilma Rousseff, às vésperas de enfrentar um processo de impeachment na Câmara. E tudo isso coincidindo com a recém-homologada delação premiada do senador Delcídio Amaral, que alega inclusive tentativas do Planalto de calá-lo, por intermédio do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, um dos mais próximos da chefe da nação.
Nesse esforço marcado por um verdadeiro salve-se quem puder em Brasília, a ideia de conceder foro privilegiado ao ex-presidente – investigado por suspeita de ocultação de patrimônio e de recebimento de vantagens indevidas – tem aspectos que não podem ser desconsiderados. O primeiro deles é, sem dúvida, o de se tratar de um desafio ao Judiciário, pois, ao blindar o investigado, a presidente da República aposta na benevolência ou na morosidade do Supremo Tribunal Federal. O segundo reflete o desespero da presidente da República, na véspera da definição pelo próprio Supremo do rito do processo de impeachment do qual é alvo.
Ao convocar o ex-presidente para integrar seu governo, Dilma terá que se submeter à sua orientação, inclusive em relação ao seu projeto econômico, que tem sido criticado por seu antecessor no cargo. Acima de tudo, a inusitada manobra de proteção ao ex-presidente afronta a vontade de parcela expressiva da população brasileira, manifestada no histórico protesto do último domingo, que não deveria ser menosprezada.
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