REVISTA ISTO É N° Edição: 2269 | 10.Mai.13
Marcelo Crivella usa a estrutura do ministério que comanda para desenvolver projeto de criação de peixe em ONG ligada a ele
Marcelo Crivella usa a estrutura do ministério que comanda para desenvolver projeto de criação de peixe em ONG ligada a ele
Josie Jeronimo
Há 13 anos, o bispo e cantor gospel Marcelo Crivella, atualmente ministro da Pesca, decidiu criar no Polígono das Secas um projeto de irrigação. Crivella, então, lançou um CD, vendeu mais de um milhão de cópias e reverteu o dinheiro para a compra de 450 hectares de terras em Irecê (BA). Assim nasceu a ONG Fazenda Nova Canaã. Do terreno seco, o projeto de irrigação fez brotar frutas e hortaliças, usadas para a merenda de mais de 400 crianças que recebem ensino religioso e aulas do currículo regular oferecidas pela obra social. As ações se transformaram no cartão de visita de Crivella em suas campanhas políticas. Agora, o ministro da Pesca quer fazer brotar mais do que frutas e verduras da terra seca. Aproveitando o crescimento do mercado da carne de tilápia na Bahia, Crivella prepara a ONG ligada a ele para criar peixes. Sim, a ONG do ministro da Pesca vai produzir peixe. A iniciativa seria um daqueles casos que transitariam apenas no terreno das estranhas e suspeitíssimas coincidências não fosse um detalhe essencial: para alavancar o projeto de criação de tilápias, o ministro usa a estrutura do próprio ministério. Ou seja, deixou de ser coincidência para virar uma inequívoca utilização do cargo público em benefício pessoal.
NÃO É HISTÓRIA DE PESCADOR - Organização ligada ao ministro da Pesca, Marcelo Crivella,
conta com ajuda federal para produzir tilápia na Bahia
Segundo apurou ISTOÉ, a ONG Fazenda Nova Canaã, ligada a Crivella, conta com o apoio da Superintendência do Ministério da Pesca na Bahia e da Secretaria Estadual de Agricultura para dar vida ao criadouro de tilápias. No dia 23 de março, o ministro se reuniu com representantes da Bahia Pesca, órgão do Estado, para discutir a captação de recursos federais para a instalação de oito tanques-rede na ONG. Com a estrutura inicial, a fazenda poderá produzir 13 toneladas por ano, carne de tilápia suficiente para a merenda oferecida na obra social. O maior objetivo, no entanto, é lucrar com o empreendimento a partir da produção de 200 toneladas de tilápia por ano, abastecendo assim o mercado consumidor baiano. A ampliação do consumo de tilápia é o carro-chefe da gestão de Crivella no ministério. Ele tem como meta baratear a carne do peixe de origem africana para competir com o frango.
A superintendência do Ministério da Pesca na Bahia acompanha com cuidado especial os preparativos para a produção de tilápia na fazenda fundada por Crivella. O projeto recebeu estudo de viabilidade em fevereiro e a própria superintendente do Ministério da Pesca na Bahia, Sílvia Cerqueira, visitou a Fazenda Nova Canaã para dar aval oficial para o início da criação. Procurada por ISTOÉ, Sílvia – que também é segunda suplente de senadora pelo PRB, partido de Crivella – não quis comentar o projeto. “São muitos empreendimentos para ter na ponta da língua. É preciso fazer uma consulta”, desconversou. Já o Ministério da Pesca disse que não foi fechado nenhum convênio com a Fazenda Nova Canaã. “Qualquer localidade com água de boa qualidade pode criar tilápia”, afirmou.
Técnicos que atuaram no programa federal Territórios da Cidadania, em Irecê, questionam a viabilidade de um empreendimento hídrico na região, que sofre com a seca. Municípios que ficam às margens do rio São Francisco já tentaram produzir tilápias sem sucesso. Associações de pescadores e criadores das cidades banhadas pelo São Francisco, porém, temem que Irecê se torne uma potência produtora e passe a competir com elas. Apesar de a cidade que abriga a fazenda de Crivella só receber água do rio por meio de adutora, os pescadores sabem que o apoio do ministério tem mais peso para fazer o empreendimento dar certo.
Há 13 anos, o bispo e cantor gospel Marcelo Crivella, atualmente ministro da Pesca, decidiu criar no Polígono das Secas um projeto de irrigação. Crivella, então, lançou um CD, vendeu mais de um milhão de cópias e reverteu o dinheiro para a compra de 450 hectares de terras em Irecê (BA). Assim nasceu a ONG Fazenda Nova Canaã. Do terreno seco, o projeto de irrigação fez brotar frutas e hortaliças, usadas para a merenda de mais de 400 crianças que recebem ensino religioso e aulas do currículo regular oferecidas pela obra social. As ações se transformaram no cartão de visita de Crivella em suas campanhas políticas. Agora, o ministro da Pesca quer fazer brotar mais do que frutas e verduras da terra seca. Aproveitando o crescimento do mercado da carne de tilápia na Bahia, Crivella prepara a ONG ligada a ele para criar peixes. Sim, a ONG do ministro da Pesca vai produzir peixe. A iniciativa seria um daqueles casos que transitariam apenas no terreno das estranhas e suspeitíssimas coincidências não fosse um detalhe essencial: para alavancar o projeto de criação de tilápias, o ministro usa a estrutura do próprio ministério. Ou seja, deixou de ser coincidência para virar uma inequívoca utilização do cargo público em benefício pessoal.
NÃO É HISTÓRIA DE PESCADOR - Organização ligada ao ministro da Pesca, Marcelo Crivella,
conta com ajuda federal para produzir tilápia na Bahia
Segundo apurou ISTOÉ, a ONG Fazenda Nova Canaã, ligada a Crivella, conta com o apoio da Superintendência do Ministério da Pesca na Bahia e da Secretaria Estadual de Agricultura para dar vida ao criadouro de tilápias. No dia 23 de março, o ministro se reuniu com representantes da Bahia Pesca, órgão do Estado, para discutir a captação de recursos federais para a instalação de oito tanques-rede na ONG. Com a estrutura inicial, a fazenda poderá produzir 13 toneladas por ano, carne de tilápia suficiente para a merenda oferecida na obra social. O maior objetivo, no entanto, é lucrar com o empreendimento a partir da produção de 200 toneladas de tilápia por ano, abastecendo assim o mercado consumidor baiano. A ampliação do consumo de tilápia é o carro-chefe da gestão de Crivella no ministério. Ele tem como meta baratear a carne do peixe de origem africana para competir com o frango.
A superintendência do Ministério da Pesca na Bahia acompanha com cuidado especial os preparativos para a produção de tilápia na fazenda fundada por Crivella. O projeto recebeu estudo de viabilidade em fevereiro e a própria superintendente do Ministério da Pesca na Bahia, Sílvia Cerqueira, visitou a Fazenda Nova Canaã para dar aval oficial para o início da criação. Procurada por ISTOÉ, Sílvia – que também é segunda suplente de senadora pelo PRB, partido de Crivella – não quis comentar o projeto. “São muitos empreendimentos para ter na ponta da língua. É preciso fazer uma consulta”, desconversou. Já o Ministério da Pesca disse que não foi fechado nenhum convênio com a Fazenda Nova Canaã. “Qualquer localidade com água de boa qualidade pode criar tilápia”, afirmou.
Técnicos que atuaram no programa federal Territórios da Cidadania, em Irecê, questionam a viabilidade de um empreendimento hídrico na região, que sofre com a seca. Municípios que ficam às margens do rio São Francisco já tentaram produzir tilápias sem sucesso. Associações de pescadores e criadores das cidades banhadas pelo São Francisco, porém, temem que Irecê se torne uma potência produtora e passe a competir com elas. Apesar de a cidade que abriga a fazenda de Crivella só receber água do rio por meio de adutora, os pescadores sabem que o apoio do ministério tem mais peso para fazer o empreendimento dar certo.
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