Ameaça para o bolso dos consumidores. Caso a mobilização se arraste pelas próximas semanas, perdas da indústria e do setor de transporte podem ter reflexos no preço das mercadorias
ERIK FARINA
A greve dos servidores federais começa a fechar as portas do Rio Grande do Sul para entrada e saída de produtos, ameaçando impactar no bolso do consumidor. No porto de Rio Grande, 20 navios aguardam para atracar, já que as autorizações para embarque e desembarque têm demorado seis dias – o dobro do tempo normal. No porto seco de Uruguaiana, dois quilômetros de filas de caminhões aguardam até sete dias para atravessarem a fronteira, procedimento que costuma ocorrer em dois dias.
– Ainda não há problemas de abastecimento no Estado, pois os estoques estavam bem equipados. Mas se a greve permanecer, em duas ou três semanas poderá começar a faltar mercadorias para reposição – afirma o vice-presidente da Fecomércio, Arno Gleisner.
As perdas começam a ser contabilizadas. Mesmo após a Justiça determinar o retorno ao trabalho, há uma semana, os fiscais agropecuários estariam com dificuldades para inspecionar todas mercadorias acumuladas em cinco dias de paralisação. O prejuízo com cargas paradas e perdidas é calculado em R$ 54 milhões nas aduanas gaúchas.
Produtos fármacos, com risco de perecer, têm demorado 15 dias até serem liberados nos portos e nas fronteiras secas, três vezes acima do tempo normal, devido à redução de efetivos da servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Com a paralisação dos fiscais da Receita Federal, que já ultrapassa três meses, começam a empacar nas alfândegas também matérias-primas que a indústria precisa para produzir.
Conforme o presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Heitor José Müller, a demora para liberação de cargas no porto de Rio Grande já retém, por exemplo, chapas de aço utilizadas em embalagens de alimentos em conserva e reagentes utilizados pela indústria química. Sem esse material, a produção é prejudicada. Exportações também são afetadas, afirma o dirigente. Nesse caso, o temor da indústria é perder prazos de entrega e colocar em risco contratos internacionais.
– A greve é contra o governo, mas as vítimas são a sociedade e a economia – analisa Müller.
As paralisações de servidores federais geram um efeito cascata na cadeia de fornecimento e distribuição. Segundo José Carlos Silvano, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado (Setcergs), ao se mobilizarem, os funcionários públicos que atuam nas alfândegas causam atrasos de contratos, perdas de mercadorias e aumento no custo do frete.
– As indústrias e transportadoras podem absorver os prejuízos causados pela greve por alguns dias. Mas esse custo em algum momento será repassado – afirma Silvano.
O impacto por área
FISCAIS AGROPECUÁRIOS - Para a Anffa Sindical, as dificuldades de liberar as mercadorias acumuladas em cinco dias de greve são provocados falta de servidores. Os pontos mais críticos são Uruguaiana e São Borja, na fronteira com a Argentina.
AUDITORES DA RECEITA - A Superintendência do Porto de Rio Grande calcula que a liberação das cargas está levando de 10 a 12 dias a mais do que o normal com a greve. O órgão já busca alternativas para eventual lotação completa do pátio – a lotação atinge 90%. Não está descartada a utilização de novas áreas.
TRABALHADORES DA ANVISA - A paralisação dos auditores, responsáveis pela emissão de certificados para embarque e desembarque de mercadorias, ajuda a atrasar o processo. No porto de Rio Grande, cerca de 270 toneladas de cargas de madeira e grãos estão parados. No porto seco de Uruguaiana, dois quilômetros de filas de caminhões aguardam até sete dias para liberação. Em média, 300 caminhões conseguem entrar no porto seco, quando o normal é 700. Empresas ligadas à área médica têm trabalho afetado pela dificuldade na liberação de mercadorias em portos e principalmente aeroportos, já que parte dos equipamentos utilizados em hospitais e laboratórios é importada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário