REVISTA ISTO É N° Edição: 2322, 23.Mai.14 - 20:50
EDITORIAL
Carlos José Marques, diretor editorial
É insustentável e sempre operou precariamente, para dizer o mínimo, o modelo de mobilidade urbana em vigor no País, que está a exigir urgente reformulação. O sistema de transporte público, principal artéria do processo, foi colocado em xeque. Já ficou claro que ele não atende sequer remotamente as necessidades nacionais. E vem gerando revolta, indignação e protestos de toda ordem.
EDITORIAL
Carlos José Marques, diretor editorial
É insustentável e sempre operou precariamente, para dizer o mínimo, o modelo de mobilidade urbana em vigor no País, que está a exigir urgente reformulação. O sistema de transporte público, principal artéria do processo, foi colocado em xeque. Já ficou claro que ele não atende sequer remotamente as necessidades nacionais. E vem gerando revolta, indignação e protestos de toda ordem.
Rotineiramente a população é tratada como gado em trens, metrôs, ônibus e nas improvisadas vans que circulam pelas ruas, quando não fica sem opção. Os espetáculos de caos e inoperância são tão frequentes que os focos cada vez mais raros de bom funcionamento viram registro digno de nota. Lamentável o estágio que o Brasil alcançou nesse quesito.
O ex-presidente Lula, em mais um infeliz comentário, chegou a dizer dias atrás, numa alusão a obras de mobilidade previstas e não concluídas para a Copa, que “é babaquice chegar de metrô dentro de estádio”. Alegou que quem quer ir aos jogos “vai a pé, vai de jumento, vai de qualquer coisa”. O descaso das autoridades com o assunto mobilidade parece a regra e Lula deu apenas mais uma demonstração nesse sentido. O problema decerto abrange, sem distinção partidária ou de status de poder, as esferas municipal, estadual e federal.
No País inteiro, em meados do ano passado, as manifestações de rua e a mobilização geral tiveram como estopim o aumento nas passagens de ônibus. Só as autoridades, ao que tudo indica, ainda não entenderam o quanto é importante para a sociedade desatar esse nó do transporte. Deveriam aprender com a penosa experiência. A omissão de governantes, que não trazem saídas efetivas para a questão, parece a tônica, muito embora eles tratem do assunto a cada proximidade de eleição. É bandeira prioritária de campanha e de programa de gestão. Mas depois de eleitos deixam a promessa cair no vazio. Quando espocam crises, eles habitualmente partem para o jogo de empurra-empurra político, qualquer que seja o motivo: desde a revelação de esquemas de propina e desvio de recursos nos metrôs da vida até a ação de baderneiros e deliquentes que, quando querem, param a malha de ônibus e estrangulam as chances de locomoção dos usuários.
O Brasil de dimensões continentais ainda não possui sequer um sistema ferroviário à altura do nome. Imperam as falcatruas e a bagunça de oportunistas, como voltou a acontecer na semana passada em São Paulo. Motoristas e cobradores sabotaram deliberadamente e com métodos abomináveis o direito de ir e vir dos paulistanos em nome de uma greve arbitrária, violenta e sem aviso prévio, às fuças de autoridades, que nada fizeram além de reclamar. Um triste retrato da falência do modelo.
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