Para cientistas políticos, discurso do medo do PT dá início a tom radical da campanha. Vídeo foi comparado com um depoimento da atriz Regina Duarte, em 2002, num discurso pró-Serra
EDUARDO BARRETO
O GLOBO
Atualizado:14/05/14 - 13h46
BRASÍLIA - Cientistas políticos avaliam que o vídeo do PT com o mote “Não Podemos Voltar Atrás” se vale de um tom radical, pela primeira vez nessa pré-campanha, para estancar quedas de popularidade de Dilma e iniciar de vez uma campanha dura. O vídeo, que mostra pessoas empregadas e bem de vida confrontadas com seus passados de desemprego e miséria, foi comparado com um depoimento da atriz Regina Duarte 2002, em discurso pró-Serra: “O Brasil, nessa eleição (2002), corre o risco de perder toda a estabilidade que já foi conquistada”, dizia Regina. Já o vídeo petista que vai ao ar na terça-feira afirma que “não podemos deixar que os fantasmas do passado voltem e levem tudo o que conseguimos”.
As quedas constantes de popularidades da presidente são a principal causa do vídeo, avaliam cientistas políticos. As críticas miram na oposição, mas especialmente para Aécio Neves, cujo partido governava o país antes dos 12 anos de PT.
- É mais ou menos de mostrar como a não reeleição da Dilma traria mais consequências para o povo brasileiro. Só que nós sabemos que com a Dilma também tem coisa negativa. Os fantasmas do passado fazem referência ao governo (Fernando Henrique) Cardoso. Já é um radicalismo que pode dar o tom, com certeza, a partir de agora - diz David Fleischer, professor emérito de ciência política da Universidade de Brasília (UnB).
Houve uma mudança de referenciais: se em 2002 a novidade e o risco seriam o PT, agora o mesmo partido luta para permanecer no poder. Este pleito reservará embates duros, contrastando com as duas campanhas passadas, avalia o consultor político André César, para quem os ganhos do governo petista se perderam. Para o consultor político, ainda é preciso esperar para ver a reação da população ao vídeo, que pode considerar o tom muito agressivo. O pequeno filme mostra uma criança indo às lágrimas ao olhar para ela mesma no passado.
- É um exemplo claro de que essa campanha será uma campanha dura, pesada, que nós não assistimos nas últimas campanhas presidenciais. O “Lulinha Paz e Amor” é passado. O medo só mudou de cara. O medo de 2002 era o PT, a novidade era o PT, havia receio do mercado financeiro, medo da instabilidade econômica, a gente vê isso no vídeo da Regina Duarte. Agora, o medo é tirar o PT do governo, e colocar a oposição, seja ela Aécio Neves ou Eduardo Campos, mas a mensagem é a mesma. O PT, nas três eleições que venceu, começou como uma novidade, teve ganhos, e essas novidades acabaram, esses ganhos se perderam. A população está aí frente a escândalos de corrupção. É uma estratégia que não mostra o que você tem de proposta, mas sim para mostrar o que o outro tem ruim. Joga com o medo, mas temos que ver se a recepção vai ser boa, ou se vão achar que foi agressivo demais - afirma César.
Para o cientista político da UnB João Paulo Peixoto, o governo teve que “apelar”, a fim de conseguir mudanças enérgicas nas pesquisas.
- A presidente Dilma tem enfrentado sucessivas quedas de popularidades e o PT tem que, digamos, apelar. É um sinal de fraqueza, quase desespero, para recuperar as pesquisas.
PT aposta no medo na propaganda do partido na TV. Publicidade, que vai ao ar hoje, mostra demissões e crianças sem escola e ao final, um alerta contra a volta de ‘fantasmas do passado’. Eduardo Campos diz que ideia de incutir o medo em propaganda é ‘atrasada’. Para Aécio, inserção mostra fracasso de governo que está no fim
MARIA LIMA
Atualizado:14/05/14 - 13h46
BRASÍLIA - Cientistas políticos avaliam que o vídeo do PT com o mote “Não Podemos Voltar Atrás” se vale de um tom radical, pela primeira vez nessa pré-campanha, para estancar quedas de popularidade de Dilma e iniciar de vez uma campanha dura. O vídeo, que mostra pessoas empregadas e bem de vida confrontadas com seus passados de desemprego e miséria, foi comparado com um depoimento da atriz Regina Duarte 2002, em discurso pró-Serra: “O Brasil, nessa eleição (2002), corre o risco de perder toda a estabilidade que já foi conquistada”, dizia Regina. Já o vídeo petista que vai ao ar na terça-feira afirma que “não podemos deixar que os fantasmas do passado voltem e levem tudo o que conseguimos”.
As quedas constantes de popularidades da presidente são a principal causa do vídeo, avaliam cientistas políticos. As críticas miram na oposição, mas especialmente para Aécio Neves, cujo partido governava o país antes dos 12 anos de PT.
- É mais ou menos de mostrar como a não reeleição da Dilma traria mais consequências para o povo brasileiro. Só que nós sabemos que com a Dilma também tem coisa negativa. Os fantasmas do passado fazem referência ao governo (Fernando Henrique) Cardoso. Já é um radicalismo que pode dar o tom, com certeza, a partir de agora - diz David Fleischer, professor emérito de ciência política da Universidade de Brasília (UnB).
Houve uma mudança de referenciais: se em 2002 a novidade e o risco seriam o PT, agora o mesmo partido luta para permanecer no poder. Este pleito reservará embates duros, contrastando com as duas campanhas passadas, avalia o consultor político André César, para quem os ganhos do governo petista se perderam. Para o consultor político, ainda é preciso esperar para ver a reação da população ao vídeo, que pode considerar o tom muito agressivo. O pequeno filme mostra uma criança indo às lágrimas ao olhar para ela mesma no passado.
- É um exemplo claro de que essa campanha será uma campanha dura, pesada, que nós não assistimos nas últimas campanhas presidenciais. O “Lulinha Paz e Amor” é passado. O medo só mudou de cara. O medo de 2002 era o PT, a novidade era o PT, havia receio do mercado financeiro, medo da instabilidade econômica, a gente vê isso no vídeo da Regina Duarte. Agora, o medo é tirar o PT do governo, e colocar a oposição, seja ela Aécio Neves ou Eduardo Campos, mas a mensagem é a mesma. O PT, nas três eleições que venceu, começou como uma novidade, teve ganhos, e essas novidades acabaram, esses ganhos se perderam. A população está aí frente a escândalos de corrupção. É uma estratégia que não mostra o que você tem de proposta, mas sim para mostrar o que o outro tem ruim. Joga com o medo, mas temos que ver se a recepção vai ser boa, ou se vão achar que foi agressivo demais - afirma César.
Para o cientista político da UnB João Paulo Peixoto, o governo teve que “apelar”, a fim de conseguir mudanças enérgicas nas pesquisas.
- A presidente Dilma tem enfrentado sucessivas quedas de popularidades e o PT tem que, digamos, apelar. É um sinal de fraqueza, quase desespero, para recuperar as pesquisas.
PT aposta no medo na propaganda do partido na TV. Publicidade, que vai ao ar hoje, mostra demissões e crianças sem escola e ao final, um alerta contra a volta de ‘fantasmas do passado’. Eduardo Campos diz que ideia de incutir o medo em propaganda é ‘atrasada’. Para Aécio, inserção mostra fracasso de governo que está no fim
MARIA LIMA
O GLOBO
Atualizado:13/05/14 - 22h08
BRASÍLIA - Em uma investida que surpreendeu e foi vista pelos adversários como uma tentativa desesperada de estancar a queda da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas de intenção de votos, o marqueteiro João Santana produziu um vídeo plagiando o polêmico e criticado discurso do medo, usado pelo PSDB em 2002 na campanha do tucano José Serra contra Lula, tendo como protagonista a atriz Regina Duarte. Com locução do ator Antônio Grassi, o filmete foi veiculado na noite deste terça-feira e mostra famílias sendo expulsas do campo, trabalhadores perdendo o emprego, e crianças, sem escola, lavando carros em semáforos. No final, aparece na tela um alerta contra a volta dos fantasmas do passado.
No filmete de 2002, Regina Duarte, com semblante crispado, diz que o Brasil corre o risco de perder a estabilidade conquistada, que o Brasil conseguiu conquistar muita coisa e não dava para “ir tudo para a lata do lixo”. Em outro trecho, ela diz que há dois candidatos, que um, Serra, ela conhece, que é o homem dos medicamentos genéricos e da política de combate a AIDS, o outro, Lula, ela conhecia, mas não conhece mais: “Tudo o que ele dizia, mudou muito. Isso dá medo na gente. Outra coisa que dá medo é a volta da inflação desenfreada. Eu voto em Serra, voto sem medo”, diz o comercial tucano de 2002.
Com mensagem subliminar parecida, o filme do PT mostra o que seriam conquistas exclusivas do governo petista, com mães de famílias com filhos e acesso a escola e remédios, opostas a imagens de desempregados, com olhares tristes e assustados, desempregados e crianças passando fome nas ruas. Essas imagens são associadas aos “fantasmas do passado” que não poderiam retornar .
“Não podemos deixar que os fantasmas do passado voltem e levem tudo o que conseguimos” e “não podemos dar ouvidos a falsas promessas”, diz o locutor, numa referência ao discurso dos adversários Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), que falam em medidas impopulares. Dilma tem batido forte nessas promessas, insinuando que vão trazer desemprego e arrocho salarial.
O uso do discurso do medo em campanhas políticas não é algo novo e não é exclusividade do Brasil. No Chile, em 1988, a campanha pela manutenção da ditadura de Augusto Pinochet também utilizava essa estratégia. A campanha do SIM, pela continuidade de Pinochet no poder, afirmava que os chilenos não podiam deixar que se repetisse o que acontecia no país antes daquele governo, e mostrava pessoas dizendo que não queriam a volta da inflação, pobreza, desemprego e da fome.
Atualizado:13/05/14 - 22h08
BRASÍLIA - Em uma investida que surpreendeu e foi vista pelos adversários como uma tentativa desesperada de estancar a queda da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas de intenção de votos, o marqueteiro João Santana produziu um vídeo plagiando o polêmico e criticado discurso do medo, usado pelo PSDB em 2002 na campanha do tucano José Serra contra Lula, tendo como protagonista a atriz Regina Duarte. Com locução do ator Antônio Grassi, o filmete foi veiculado na noite deste terça-feira e mostra famílias sendo expulsas do campo, trabalhadores perdendo o emprego, e crianças, sem escola, lavando carros em semáforos. No final, aparece na tela um alerta contra a volta dos fantasmas do passado.
No filmete de 2002, Regina Duarte, com semblante crispado, diz que o Brasil corre o risco de perder a estabilidade conquistada, que o Brasil conseguiu conquistar muita coisa e não dava para “ir tudo para a lata do lixo”. Em outro trecho, ela diz que há dois candidatos, que um, Serra, ela conhece, que é o homem dos medicamentos genéricos e da política de combate a AIDS, o outro, Lula, ela conhecia, mas não conhece mais: “Tudo o que ele dizia, mudou muito. Isso dá medo na gente. Outra coisa que dá medo é a volta da inflação desenfreada. Eu voto em Serra, voto sem medo”, diz o comercial tucano de 2002.
Com mensagem subliminar parecida, o filme do PT mostra o que seriam conquistas exclusivas do governo petista, com mães de famílias com filhos e acesso a escola e remédios, opostas a imagens de desempregados, com olhares tristes e assustados, desempregados e crianças passando fome nas ruas. Essas imagens são associadas aos “fantasmas do passado” que não poderiam retornar .
“Não podemos deixar que os fantasmas do passado voltem e levem tudo o que conseguimos” e “não podemos dar ouvidos a falsas promessas”, diz o locutor, numa referência ao discurso dos adversários Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), que falam em medidas impopulares. Dilma tem batido forte nessas promessas, insinuando que vão trazer desemprego e arrocho salarial.
O uso do discurso do medo em campanhas políticas não é algo novo e não é exclusividade do Brasil. No Chile, em 1988, a campanha pela manutenção da ditadura de Augusto Pinochet também utilizava essa estratégia. A campanha do SIM, pela continuidade de Pinochet no poder, afirmava que os chilenos não podiam deixar que se repetisse o que acontecia no país antes daquele governo, e mostrava pessoas dizendo que não queriam a volta da inflação, pobreza, desemprego e da fome.
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