VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A INDIGNAÇÃO DO BISPO

A INDIGNAÇÃO DO BISPO - Editorial Zero Hora, 23/12/2010

O gesto do bispo Manuel Edmilson da Cruz, que se recusou a receber a comenda dos Direitos Humanos, outorgada pelo Congresso, foi o mais contundente protesto contra o próprio Legislativo. O corajoso dom Manuel decidiu ir até o Senado para se dirigir sem intermediários aos parlamentares e transformar uma cerimônia num ato constrangedor. Com a recusa, o religioso expressou a indignação da grande maioria dos brasileiros diante do aumento de 61,8% que os congressistas se autoconcederam. Disse dom Manuel em seu discurso que o reajuste representava uma afronta e um atentado aos direitos humanos.

O bispo saiu de Limoeiro do Norte, no Ceará, para devolver a afronta ali onde havia sido gerada. A comenda que recusou tem o nome de dom Hélder Câmara, uma das maiores expressões da Igreja e do humanismo no Brasil. Ao recusar a honraria, dom Manuel procurou preservar a memória de dom Hélder e homenagear o povo brasileiro. Falou em nome de todos os ofendidos pelo aumento absurdo, que já desencadeia, em efeito cascata, outros reajustes irreais e imorais nos Legislativos dos Estados.

O significado maior do protesto de dom Manuel está no fato de que o bispo transformou reações muitas vezes silenciosas em um gesto concreto de repulsa ao acinte dos legisladores. O bispo que preferiu ficar sem a comenda, para preservar sua dignidade, credenciou-se como porta-voz de todos os ofendidos pelos supersalários. Registre-se que seu discurso, num plenário praticamente vazio, foi ouvido por uma minoria de parlamentares, os poucos que ficaram em Brasília e não acompanharam a maioria que abandonou suas atividades antes do início do recesso do Congresso.

Não há motivo para surpresa no fato de que políticos tão ágeis em se autopresentear com vencimentos grandiosos sejam os mesmos que se ausentam de uma homenagem a um reconhecido defensor dos direitos humanos. Dom Manuel flagrou o Congresso em uma das suas tantas contradições, apesar da ressalva de que não atacava a instituição, mas os membros da atual legislatura, preservando também as exceções. O episódio que confrontou os congressistas com suas mazelas tem, pela sua grandeza, valor simbólico também para o que se repete agora nos Estados, onde os deputados reajustam seus salários na mesma proporção.

O discurso de dom Manuel poderia ser reproduzido, sem retoques, na Assembleia gaúcha, que corrigiu os vencimentos dos parlamentares em 73%. Num contexto de economia estável e de baixa inflação, só o desprezo pela indignação popular explica a repetição compulsória e na mesma medida do acinte cometido em Brasília. Parlamentares brasileiros são melhor remunerados que os colegas de economias do Primeiro Mundo. Ganham, além de salários, vantagens que quase multiplicam seus vencimentos por 10. Também é imoral – e um desrespeito com a grande maioria de assalariados honestos – argumentar que ganhando muito bem os políticos estarão livres da tentação da corrupção.

Que dom Manuel se sinta laureado pelos brasileiros com uma comenda de direitos humanos e integridade. E que a atitude do bispo de Li-moeiro tenha o poder de inspirar outros gestos, civilizados e democráticos, contra essa e outras afrontas de ocupantes de cargos públicos.

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