VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

sábado, 29 de setembro de 2012

O LEÃO E O SENADOR

CORREIO DO POVO, 29/09/2012

<br /><b>Crédito: </b> ARTE JOÃO LUIS XAVIER
Crédito: ARTE JOÃO LUIS XAVIER   

 JUREMIR MACHADO DA SILVA

Aconteceu, em Palomas, um diálogo entre um senador e o leão da Receita Federal. Foi algo digno de reflexão. O leão praticava a maiêutica socrática. O senador esgrimia a "dialética da malandragem". Um duelo com precedentes.

- Você me deve - disse o leão.

- Não nego, mas não posso pagar.

- Você não me pagou, nos últimos dez anos, nada sobre o décimo quarto e o décimo quinto salários. Precisa pagar.

- Aí é que está o erro.

- Não ter recolhido o imposto, senador?

- Receber décimo quarto e décimo quinto. Precisamos mudar isso com urgência. É um privilégio que ofende a Nação.

- Enquanto isso, senador, o senhor precisa me pagar.

- O erro foi seu, caro leão. Foi da receita.

- Mas o benefício foi do senhor.

- Não posso pagar por um erro que não cometi. Além disso, a Câmara, diante do mesmo fato, já pagou pelos deputados.

- O senhor quer ter o mesmo privilégio?

- Não é justo tratar deputados e senadores diferentemente. Isso cria um privilégio insuportável. Creio que estamos diante de um caso que exige isonomia.

- Isonomia no privilégio? O senhor recebeu indevidamente, embolsou e quer que o contribuinte pague a sua conta?

- Se a Justiça mandar, se decidir, eu pago.

- A sua consciência não lhe serve de justiça?

- A Justiça é soberana. O Ministério Público pode e deve agir. Ninguém, contudo, pode tomar o lugar da Justiça.

- Se o Senado pagar, senador, não haverá pagamento. Será apenas transferência nominal de recursos, passagem de dinheiro de um bolso do Tesouro Nacional para outro. Se me permite, será um engodo, uma anulação da dívida.

- É um ponto de vista. Na democracia, todos os pontos de vista devem ser ouvidos. Depois, a Justiça decide.

- Caro senador, data vênia, tentarei ser mais claro: o senhor está tergiversando, sofismando, protelando...

- Como?

- Enrolando.

- Não tenho como pagar agora.

- Parcele em 60 vezes. Ou use o 14 e do 15 deste ano.

- Não é justo fazer isso.

- O senhor não é contra receber 14 e 15?

- Mas é legal. Tenho contas a pagar, compromissos...

- Isso vai afetar a imagem dos políticos.

- Sei, por isso precisamos acabar com o 14 e o 15.

- O senhor é senador ou sonegador?

- Exijo respeito.

- Eu também exijo respeito, como arrecadador e eleitor. Se não pagar, não terá o meu voto na próxima eleição.

Só em Palomas mesmo.

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