VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

domingo, 23 de setembro de 2012

POLÍTICA E IRRELEVÂNCIA


ZERO HORA 23 de setembro de 2012 | N° 17201. ARTIGOS

Marcos Rolim*

Consciência política, como todos sabem, é matéria em falta no Brasil. Faz tempo, é verdade. Falar mal da política e dos políticos tornou-se um esporte nacional e a ênfase nas críticas tende a ser maior quanto mais o crítico esquecer suas próprias responsabilidades. A começar, por exemplo, dos votos que já deu. No Brasil, alguns meses após as eleições, grande parte das pessoas – pobres e ricos, analfabetos e pós-graduados – não lembra em quem votou. Diante deste fenômeno, é preciso perguntar: por que a política tornou-se irrelevante para tanta gente no Brasil?

A primeira resposta rápida é aquela que reduz o problema a um processo de sucessivas desilusões. As pessoas teriam se tornado distantes da política, em síntese, porque suas expectativas foram frustradas. O ceticismo dominante seria, então, o “troco” aos políticos e aos partidos, a resposta da impotência e do ressentimento, em que deboche e insulto se confundem. O que há de errado nesta resposta é a separação metafísica entre representados e representantes. Um processo de desilusão com a política é sempre, por definição, uma autocrítica. Quem vota em bobalhões se tapa de bobagens; quem vota em bandidos legitima seus crimes; quem seleciona incompetentes terá o nada que demanda. Errar, é claro, faz parte desse processo e, por isso, em todas as democracias desenvolvidas, eleições servem para afastar maus políticos; momento em que a cidadania realiza um balanço e ajusta contas com quem esteve abaixo das suas expectativas. No Brasil, o processo eleitoral funciona melhor para manter os piores, porque as regras vigentes – do financiamento das campanhas até a distribuição do fundo partidário, do tempo de TV e do voto personalizado – punem as condutas morais e recompensam a falta de escrúpulos. De novo, temos aqui uma interação entre um sistema perverso e a falta de cons- ciência política da maioria.

A segunda resposta rápida é lembrar a educação como solução para a falta de consciência política. Dito assim, sem precisar conteúdos pedagógicos, trata-se de generalidade simplificadora. A alienação política é uma ausência, um vazio, que convive perfeitamente com diplomas universitários. O tema, então, é mais complexo e remete para a postura diante do mundo que permite à cidadania o protagonismo na esfera pública. Dito de uma forma mais simples: a consciência política é o resultado a que chegamos quando percebemos o quanto é possível influenciar uma decisão pública com base em argumentos e nos dedicamos a esta possibilidade. O que há de perturbador na alienação política é que ela naturaliza o fato de as pessoas viverem mergulhadas na esfera privada das suas existências, tratando tão somente dos seus problemas, perseguindo apenas seus próprios objetivos. Uma maldição que, frequentemente, se confunde com a hostilidade diante de tudo aquilo que, por ser público, não cabe no império das causas miúdas. Uma vida dedicada à esfera privada seria, para os antigos, uma vida sem qualquer sentido. Para os modernos, transformou-se na senha para a felicidade. Por isso, a política é cada vez mais marginal no Brasil. Não porque tenha se tornado menos importante, mas porque o espaço que ela inaugura exige cidadãos, não consumidores.

Jornalista

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