ZERO HORA 13 de dezembro de 2013 | N° 17643
DAVID COIMBRA
Estrangeiros, em geral, acham estranho isso de haver brasileiros contra a realização da Copa do Mundo no Brasil. Porque estrangeiros, em geral, cultivam uma imagem errada do povo brasileiro. Os estrangeiros acreditam que o brasileiro é tolerante. Não é. É leniente.
Mandela e o povo sul-africano foram campeões da tolerância. Eles souberam perdoar. Mas esse foi um ato consciente, intelectual. Houve um exercício de empatia para fazer com que os sul-africanos chegassem aonde chegaram. Quer dizer: eles tentaram entender as razões do outro e, mesmo quando não concordavam com elas, perceberam que, para seguir em frente, teriam de esquecer as coisas ruins do passado.
É só assim que se segue em frente – esquecendo as coisas ruins do passado. Mas se o seu ego é tão grande que você não consegue entender que o outro também tem suas motivações, se o seu ego só lhe permite ver a sua própria dor, você não vai perdoar, você não vai esquecer. E você não vai seguir em frente.
O Brasil não segue em frente porque o brasileiro jamais tenta compreender as razões do outro. O brasileiro sempre tremula em frente ao nariz do outro as coisas ruins que o outro supostamente lhe fez no passado. Isso torna o Brasil um país ideologizado em tudo, embora no Brasil não haja ideologia em nada.
No Brasil, é eles de um lado e nós de outro. Eles são a favor, nós somos contra. Eles são os maus, nós somos os bons. A saúde, a educação, a reforma agrária, tudo é ideologizado no Brasil. O importante não é resolver o problema. O importante é a forma como o problema é resolvido. O brasileiro não procura soluções; procura culpas.
Assim, até a Copa do Mundo é objeto de ideologização. Você é a favor da Copa do Mundo? Então é contra mais verbas para a educação e a saúde. Tão simples. E tão tolo.
Quem mede o mundo em dólares poderia argumentar que a Copa do Mundo é ótima oportunidade para negócios, para ganhar dinheiro e blá-blá-blá. Mas isso não é o mais importante acerca da Copa do Mundo. O mais importante é a natureza da Copa do Mundo: a Copa do Mundo é uma festa. Exatamente, precisamente, fundamentalmente isso: uma festa. E as pessoas precisam de festas em suas vidas. Precisam, às vezes, gastar um dinheiro a mais, beber um pouco mais, rir um pouco mais, se divertir um pouco mais. O Brasil dará uma festa para o mundo, no ano que vem. Em festas, as pessoas se encontram, conversam, riem, se entendem, às vezes até se amam. Festas são coisas boas. Tão simples. E nada tolo.
DAVID COIMBRA
Estrangeiros, em geral, acham estranho isso de haver brasileiros contra a realização da Copa do Mundo no Brasil. Porque estrangeiros, em geral, cultivam uma imagem errada do povo brasileiro. Os estrangeiros acreditam que o brasileiro é tolerante. Não é. É leniente.
Mandela e o povo sul-africano foram campeões da tolerância. Eles souberam perdoar. Mas esse foi um ato consciente, intelectual. Houve um exercício de empatia para fazer com que os sul-africanos chegassem aonde chegaram. Quer dizer: eles tentaram entender as razões do outro e, mesmo quando não concordavam com elas, perceberam que, para seguir em frente, teriam de esquecer as coisas ruins do passado.
É só assim que se segue em frente – esquecendo as coisas ruins do passado. Mas se o seu ego é tão grande que você não consegue entender que o outro também tem suas motivações, se o seu ego só lhe permite ver a sua própria dor, você não vai perdoar, você não vai esquecer. E você não vai seguir em frente.
O Brasil não segue em frente porque o brasileiro jamais tenta compreender as razões do outro. O brasileiro sempre tremula em frente ao nariz do outro as coisas ruins que o outro supostamente lhe fez no passado. Isso torna o Brasil um país ideologizado em tudo, embora no Brasil não haja ideologia em nada.
No Brasil, é eles de um lado e nós de outro. Eles são a favor, nós somos contra. Eles são os maus, nós somos os bons. A saúde, a educação, a reforma agrária, tudo é ideologizado no Brasil. O importante não é resolver o problema. O importante é a forma como o problema é resolvido. O brasileiro não procura soluções; procura culpas.
Assim, até a Copa do Mundo é objeto de ideologização. Você é a favor da Copa do Mundo? Então é contra mais verbas para a educação e a saúde. Tão simples. E tão tolo.
Quem mede o mundo em dólares poderia argumentar que a Copa do Mundo é ótima oportunidade para negócios, para ganhar dinheiro e blá-blá-blá. Mas isso não é o mais importante acerca da Copa do Mundo. O mais importante é a natureza da Copa do Mundo: a Copa do Mundo é uma festa. Exatamente, precisamente, fundamentalmente isso: uma festa. E as pessoas precisam de festas em suas vidas. Precisam, às vezes, gastar um dinheiro a mais, beber um pouco mais, rir um pouco mais, se divertir um pouco mais. O Brasil dará uma festa para o mundo, no ano que vem. Em festas, as pessoas se encontram, conversam, riem, se entendem, às vezes até se amam. Festas são coisas boas. Tão simples. E nada tolo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário