VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

VOCÊ ESTÁ BEM REPRESENTADO?


ZERO HORA 16/12/2013 - 03h00

Jorio Dauster



As manifestações populares que abalaram o país foram sepultadas sob os escombros da violência em que se associam falsos anarquistas e marginais de toda índole.

No entanto, aquelas marchas deixaram duas lições. A primeira é que a passividade do povo não deve ser entendida como aceitação, existindo um imenso deficit de representatividade. A segunda é que, dado o descrédito dos partidos e de instituições, as redes sociais mostraram impressionante capacidade de mobilização e passaram a ser fator inarredável do jogo político.

O problema essencial do Brasil é que, diante da multiplicação de partidos sem consistência doutrinária, o imperativo de governar por meio de coalizões oportunistas termina por corromper todos os agentes políticos, envolvendo-os numa incessante troca de interesses em que cargos e favores são a moeda com que se compra o voto de hoje e a traição de amanhã.

Pelo caráter espontâneo, as manifestações tinham quase tantas bandeiras quanto participantes, mas isso não representou uma fraqueza. Na realidade, a diversidade de reivindicações tornou patente que não há soluções tópicas --impõe-se uma solução sistêmica, em cuja base está uma ampla reforma política.

Não é a toa que Dilma Rousseff tentou ressuscitar a ideia de uma constituinte exclusiva com aquele fim, enquanto o Congresso acionou comissões encarregadas de fazer de conta que ali seriam examinadas com urgência questões já relegadas aos relatórios autofágicos que mantêm o status quo.

Como escapar ao impasse? O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, embora se esquive de fazer uma proposta formal devido a seu cargo, lançou uma bela ideia: nas próximas eleições presidenciais, cada candidato deveria, três meses antes, tornar pública sua proposta de reforma política. Assim, "quem escolher o candidato estaria escolhendo o modelo".

Diante dos desafios com que se defronta o país, a qualidade individual dos postulantes ao cargo de presidente não é por si só garantia de governabilidade, que passa também pela escolha de seus principais auxiliares. Até hoje, o mistério que cerca a formação da equipe de governo só se desfaz às vésperas do Ano Novo. Em grande parte, isso decorre das imperfeições de nosso processo político, pois a construção da base de apoio parlamentar extrapola a composição partidária em nível nacional e deve também atender à recomposição de forças decorrente das eleições estaduais. Ou seja, a partir do resultado das urnas, as preferências dos eleitores são substituídas por transações políticas que erodem a essência democrática do processo eleitoral.

A prática de surpreender o país com nomes tirados do bolso do colete se torna agora um risco inaceitável. O lento processo de formação da equipe estimula a especulação financeira e paralisa, durante meses, a administração pública.

Uma forma de mitigar esses efeitos nefastos consistiria em exigir que, antes do primeiro turno, os candidatos revelassem ao menos os nomes de seus quatro ministros-chave: Justiça, Fazenda, Relações Exteriores e Casa Civil.

Como nenhuma dessas ideias será aceita prazerosamente pela classe política, apenas as redes sociais serão capazes de transformá-las em exigências, dando enfim corpo aos protestos indistintos que nascem da angustiante falta de representatividade do cidadão brasileiro.

JORIO DAUSTER, 76, embaixador, é ex-presidente da Vale do Rio Doce

Nenhum comentário: