VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

terça-feira, 12 de julho de 2011

O LOTEAMENTO DO ESTADO

EDITORIAL ZERO HORA 12/07/2011

O governo e seus aliados têm a obrigação de responder, mesmo que não venham a ser convincentes, à pergunta formulada pelo escritor Luis Fernando Verissimo em crônica publicada esta semana: quem autorizou o feudo com seu voto? Verissimo indaga-se e dirige-se ao eleitor, abordando com irreverência um desconforto que não é novo para os brasileiros, mas foi ampliado pelos últimos acontecimentos envolvendo o Palácio do Planalto e a chamada base de sustentação. Que lógica perversa é esta que fatiou o governo em pedaços e acomodou, em todos os escalões, apadrinhados de partidos pouco representativos, como o PR do ex-ministro Alfredo Nascimento, dos Transportes?

Noticia-se que, depois do escândalo envolvendo os protegidos de Nascimento em indícios de superfaturamento e propinas, a presidente Dilma Rousseff finalmente tentará livrar o Executivo dos feudos, muitos dos quais herdados de seu antecessor. Se a providência for de fato tomada, o eleitor começará a obter respostas dos próprios responsáveis pela montagem dos loteamentos. Amparado pela mais ampla e frágil base de sustentação já arquitetada no Congresso, o governo é vítima das atrofias desse gigantismo. Para contemplar tantos interesses, cedeu espaços a políticos cujos currículos não recomendam a ocupação de cargos que, além de complexos, envolvem a manipulação de orçamentos tentadores. Tampouco suas agremiações apresentam credenciais para tarefas tão relevantes. Mas são exatamente esses, os redutos com fartura de verbas, os mais disputados por aliados com históricos no mínimo questionáveis, como acontecia nos Transportes.

Por diagnósticos encomendados pela presidente, o Executivo foi informado de que os desmandos não são cometidos necessariamente pelo cooptado que está no topo da hierarquia de um ministério. A promiscuidade é uma prática que se dissemina nos escalões logo abaixo e se espalha pela burocracia de autarquias, repartições e departamentos vulneráveis à rapinagem. O escambo de cargos por apoio político propiciou a apropriação do Estado por grupos que, na verdade, não podem ser vistos com surpresa a cada denúncia de corrupção. São aliados dos quais o único gesto surpreendente seria uma improvável manifestação de decência. O governo é refém dessa base, tão vasta quanto incoerente, que pouco ou em nada contribuiu até agora para a viabilização de projetos relevantes em apreciação pelo Congresso.

A faxina nos feudos, se acontecer, não livrará o governo apenas de incômodos, mas também de oportunistas sem nenhum compromisso com a resolução de questões estratégicas para o país. A crítica pode ser estendida a muitos Estados e municípios que reproduziram os costumes de Brasília e adotaram a mesma tática de formar alianças de ocasião. Por mais tolerante que possa ser com a formação de alianças, sempre com o entendimento de que governar é promover convergências, mesmo entre forças aparentemente inconciliáveis, o eleitor já percebeu que a estratégia de fomentar coalizões a qualquer custo ultrapassou todos os limites. Falta saber se os governantes também pensam assim.

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