ARTIGOS
Marcello Blaya Perez*
A Constituição Federal de 1988 estabelece que todo brasileiro prestador de serviços a órgãos federais, estaduais ou municipais será obrigado a aposentar-se aos 70 anos.
Nos 25 anos decorridos, assistimos a um aumento do tempo de vida dos humanos e a uma diminuição da natalidade. Temos e teremos, portanto, cada vez mais idosos e menos jovens.
Tentativas vêm sendo feitas de alterar a idade limite de 70 para 75 anos, sem sucesso. Os que se opõem argumentam que, a menos que os idosos sejam afastados, a carreira não terá jovens interessados em iniciá-la. Os que estão a favor lembram que idosos na sua fase mais criativa são afastados e empobrecem as instituições.
O tempo de vida previsível para o homem, 120 anos, pode ser dividido em quatro estações de 30 anos: os anos primaveris, do nascimento aos 30 anos, são a fase de formação e crescimento; o verão, dos 30 aos 60 anos, é a fase de sedimentação e criatividade; no outono, dos 60 aos 90, alguns, e não todos, estão na melhor fase e seus frutos mostram o que cultivaram nas fases anteriores; e, finalmente, o inverno, que se encerra aos 120 anos, é o tempo da jubilación, palavra castelhana para a aposentadoria, com alegria e não tristeza.
Rita Levi-Montalcini (1909-2012), 103 anos, médica neurologista italiana, Prêmio Nobel por suas pesquisas sobre neurônios e cérebro, foi agraciada como senadora vitalícia e colheu os frutos no outono de sua vida. Se fosse professora na UFRGS, teria sido expulsa aos 70 anos. Sua criatividade nos últimos 33 anos, os mais ricos de sua vida, seria vetada.
Oscar Niemeyer (1907-2012), 105, arquiteto convidado por Juscelino Kubitschek, projetou o que de melhor se construiu em Brasília. Convidado e contratado, fez seus melhores projetos, para todo o mundo, no outono e início do inverno do seu viver. Mas só lhe foi possível essa criatividade magnífica por não ser professor de universidade federal, estadual ou municipal.
E temos um professor da UFRGS que foi expulso, perdão, foi aposentado aos 70 anos. Ivan Izquierdo (1937), brasileiro naturalizado, pois nasceu em Buenos Aires, é um pesquisador na mesma área de Rita Levi-Montalcini. Com mais de 600 trabalhos publicados nas melhores revistas científicas do mundo, trabalhos que são dos mais citados por seus colegas pesquisadores. Membro das principais instituições em todo o mundo, que homenageiam seu trabalho, foi afastado da UFRGS para satisfação da Pontifícia Universidade Católica, a PUCRS, que o recebeu de braços abertos.
Reconheço que é um problema de difícil solução, mas vejo que países lúcidos como Estados Unidos e Austrália já encontraram o caminho, abolindo a compulsória.
*PROFESSOR LIVRE-DOCENTE, FACULDADE DE MEDICINA DA UFRGS, 88 ANOS
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