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domingo, 10 de maio de 2015

CACIQUES DO PMDB VIVEM GUERRA FRIA PELO PODER

ZERO HORA 09/05/2015 | 12h02min


Dispostos a assumir liderança do partido, Temer, Cunha e Renan intercalam ataques e alianças de ocasião, movimentos que ampliam a tensão política e a carga de trabalho no Planalto


por Guilherme Mazui




Na convenção do PMDB, em junho passado, Renan cumprimenta Cunha, ainda líder da bancada, sob olhar de Temer Foto: ANDRÉ DUSEK / AGE


O PMDB diz que cansou de ser apenas o fiador da governabilidade em troca de um latifúndio na máquina federal. Falta saber quem controlará o partido em sua nova fase. A interrogação deflagrou uma disputa entre poderosos: Michel Temer (SP), Eduardo Cunha (RJ) e Renan Calheiros (AL). O vice-presidente da República e os presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente, lutam pela primazia da sigla e o espaço no governo Dilma Rousseff. Cada um com sua estratégia voltada para 2018.


Cunha e Temer desejam a faixa presidencial que o partido usou pela última vez em 1990, com José Sarney. Renan, atento ao quarto mandato de senador, apela ao senso de sobrevivência que o faz participar do poder desde o governo Fernando Collor (1990-1992). Fareja um crepúsculo petista, mas se distancia sem romper.

– Essa disputa extrapola o controle do PMDB – diz o deputado Jarbas Vasconcelos (PE).

Presidente da sigla há 14 anos, Temer quer seguir no posto que definirá um eventual candidato ao Palácio do Planalto. Cunha pretende tirá-lo. Teve o projeto futuro evidenciado por um colega de bancada em fevereiro, quando cartazes que o tratavam como "A voz do Brasil" foram espalhados por Brasília como parte da campanha para a presidência da Câmara.

– Você quer ser presidente da República, né? – questionou o correligionário.

– Não, jamais – respondeu.

Operador do baixo clero, Cunha ascendeu ao derrotar o governo e o PT, avalistas da vitória de Renan. Retaliou o Planalto com a aprovação do Orçamento Impositivo (que determina o pagamento de emendas parlamentares) e forçou a queda de Pepe Vargas (PT-RS) da Secretaria de Relações Institucionais, repassada a Temer. Ainda desalojou Vinicius Lages, afilhado de Renan, do Ministério do Turismo.

A escolha de Henrique Alves (RN) para substituir Lages parecia ter acalmado o deputado, mas, na terça-feira, Cunha voltou a atacar: adiou a votação de medida provisória (MP) do ajuste fiscal, de interesse do Planalto, e emplacou a PEC da Bengala, que impede Dilma de indicar cinco ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) até o final do mandato. Cunha marcou posição, sua característica. Evangélico, já garantiu que não votará projetos sobre aborto, propôs o Dia do Orgulho Hétero e incentiva a redução da maioridade penal. Ofuscado, Renan guinou à esquerda, sinalizou a gaveta para o projeto de redução da maioridade penal, criticou a ampliação da terceirização e o "desajuste fiscal".

A perda do Turismo irritou o senador, que ensaiava entregar a pasta após a aprovação da PEC que limita o número de ministérios. O movimento tentaria mudar a imagem do PMDB de fisiologista para uma sigla eficiente na gestão. Renan respondeu ao nomear Lages seu chefe de gabinete. Antes, o ex-ministro rejeitou convites para assumir a Caixa Econômica Federal ou a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Temer vai ignorar a oratória do presidente do Senado, que ganhará cargos sem consulta. A intenção é levá-lo de volta para o governo à força. Seu aliado na Casa, Eunício Oliveira (CE) já recebeu o Banco do Nordeste. Outro escudeiro de Renan, Romero Jucá (RR) será contemplado, o que gerou o alerta de um amigo petista ao senador:

– Você foi salvo da cassação pelo PT, foi eleito presidente com ajuda do PT, e agora nos critica? Você vai ficar sozinho...

Uma estratégia contra a Lava-Jato

A mudança de rota do senador ocorreu em março, a partir do vazamento de seu nome entre os investigados na Operação Lava-Jato. De imediato, devolveu uma MP enviada pelo Planalto ao Congresso. Há duas semanas, classificou como "ridícula" a decisão de

Dilma cancelar o pronunciamento no Dia do Trabalho e chamou o PMDB de "coordenador de RH" do palácio. Temer rebateu em nota, ao dizer que o país precisa "de políticos à altura dos desafios".

O vice já aguardava as insubordinações. Quando Dilma convidou Eliseu Padilha para articulação política, o grupo de Temer avaliou que seria melhor repassar o posto ao vice, com maior envergadura institucional e partidária. Se pacificar as relações, o paulista quer ser visto como um líder nacional. Para tal, discreto e paciente, planeja novas vitórias em votações. Com distribuição de cargos aos parlamentares fiéis (incluindo a oposição), e punição aos rebeldes, garantiu, na quarta-feira, a aprovação da primeira MP do ajuste fiscal.

Ao contemplar bancadas, Temer tenta neutralizar Cunha e Renan, dispostos a manter imagem de um Congresso forte que peita um governo desgastado. A postura também serve para manter a investigação de ambos na Lava-Jato em segundo plano no noticiário. É uma aliança tática dos presidentes das Casas, que se elogiaram na quinta­feira, na promulgação da PEC da Bengala. Ao adiar a aposentadoria compulsória dos ministros do STF dos 70 para os 75 anos de idade, fizeram um afago nos magistrados que poderão julgá-los no futuro – mais um movimento de um xadrez político que está longe do fim.

Radiografia da disputa

Quem são os brigões

Michel Temer (SP), vice-presidente da República

Vice de Dilma nas duas vitórias eleitorais, Temer, 74 anos, ganhou espaço ao se tornar articulador político do governo. Presidente do PMDB há 14 anos, tem perfil conciliador, que lhe garante trânsito em partidos e na Câmara. Deputado por seis mandatos, presidiu a Casa em três oportunidades. Advogado e professor universitário, ingressou na política no governo de Franco Montoro em São Paulo (1983-1987). Aliado do PSDB na gestão de FHC, aproximou-se do PT quando Lula chegou ao Planalto.

Renan Calheiros (AL), presidente do Senado
No terceiro mandato, Renan, 59 anos, preside o Senado pela quarta vez. Aliado do Planalto, afastou-se após o vazamento do seu nome na lista da Lava-Jato. Foi líder do governo Fernando Collor na Câmara e ministro de FHC. Em 2007, renunciou à presidência do Senado e escapou da cassação duas vezes, após suspeitas de ter contas pagas por lobista de uma construtora, e de usar laranjas para adquirir rádios e um jornal. Retomou espaço e elegeu seu herdeiro, Renan Filho, governador de Alagoas.

Eduardo Cunha (RJ), presidente da Câmara
Aos 57 anos, Cunha derrotou o Planalto ao ser eleito presidente da Câmara com discurso contra a submissão do parlamento ao governo. Está no terceiro mandato. Iniciou a carreira no PP, presidiu a estatal de telecomunicações do Rio de Janeiro nos anos 1990. Ex-líder da bancada, articulou a posse de Leonardo Picciani (RJ) como seu substituto e manteve o controle sobre os deputados. Captador de recursos para campanhas, influencia parlamentares de outras legendas. Está entre os investigados da Lava-Jato.

Os motivos da rixa

Espaço no governo
Apesar do discurso de independência, Renan e Cunha buscam mais cargos e poder. Os dois pressionam o Planalto com críticas ao governo, uma agenda própria de projetos e embaraços em votações. Com maior influência após assumir a articulação política, Temer administra seu quinhão da Esplanada e a distribuição de cargos. Cunha foi contemplado no Ministério do Turismo em detrimento a Renan, que, publicamente, afirma não querer novas vagas e sustenta a tese de redução de ministérios.

Controle do PMDB
Com a possibilidade de o PMDB lançar candidato à Presidência em 2018, quem comandar a executiva terá controle da escolha do concorrente e influenciará decisões nos Estados. Presidente da sigla desde 2001, Temer deseja ficar no posto. Cunha trabalha para que Sérgio Cabral, ex-governador do Rio, ou outro nome de seu grupo substitua Temer. Renan quer participar das decisões da legenda independentemente de quem for o presidente. A eleição na sigla deve ocorrer em 2016.

Eleições de 2018
Cunha e Temer têm pretensões de concorrer ao Planalto. Com o PT enfraquecido e o crescimento da camada conservadora do eleitorado, Cunha planeja voo direto da Câmara para o Planalto – a segunda opção é o governo do Rio. Na articulação política, Temer amplia sua exposição. Pretende construir a imagem do líder que vai pacificar o país e garantir a continuidade do governo Dilma. Renan arquiteta a manutenção de seu poder com o quarto mandato de senador e a reeleição de Renan Filho em Alagoas.

A trincheira de cada um

Vice-presidência da República

Substituto imediato do presidente, o vice auxilia na representação do país e costuma participar de fóruns internacionais. Ao assumir a função de articulador político do governo, Temer responde pelas relações do Planalto com Senado e Câmara. Junto, controla as nomeações dos cargos de segundo escalão na máquina federal.

Presidência da Câmara
Terceiro nome na linha sucessória ao Planalto, atrás apenas do vicepresidente, define quando e quais projetos de lei entram na pauta de votações da Câmara. Também dispõe do poder para arquivar ou dar andamento a eventuais pedidos de impeachment contra o presidente da República. A Casa vota a abertura ou não do processo.

Presidência do Senado
Quarto na linha sucessória ao Planalto, define as pautas do Senado e do Congresso. No Senado, ocorrem as sabatinas dos indicados ao Supremo Tribunal Federal (STF), à Procuradoria-Geral da República (PGR) e outros cargos, que devem ser aprovados em plenário. Um processo de impeachment contra o presidente tramita na Casa.

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