ZERO HORA 08 de maio de 2015 | N° 18156
EDITORIAL
O aspecto deplorável é que a aprovação de medidas impopulares, mas essenciais para o equilíbrio fiscal, envolva velhas práticas, como negociação de cargos.
A aprovação pela Câmara da medida provisória que endurece as regras de acesso ao seguro-desemprego e ao abono salarial expôs as dificuldades que o país terá para implementar o ajuste fiscal. Há resistências de toda ordem: do próprio partido do governo, o PT, que vai dividir com outras agremiações da base o desgaste junto ao eleitorado por renegar bandeiras históricas; da oposição, mais preocupada em desgastar o governo, a ponto de não hesitar em transformar o plenário numa arena de panelaço; e de grupos específicos, que procuram se beneficiar de falhas na legislação, auferindo ganhos indevidos. Ainda assim, por mais efeitos colaterais que produzam, outras batalhas como a da última quarta-feira precisarão ser enfrentadas até o país criar as condições para reequilibrar suas contas e retomar o desenvolvimento.
Mesmo com todos esses entraves, a vitória na Câmara evidenciou que o governo federal ainda tem capacidade de articulação política. Esse potencial precisa assegurar resultados favoráveis também no Senado, que ainda examinará as mudanças. O aspecto deplorável é que, mais uma vez, a aprovação de medidas até certo ponto impopulares, mas essenciais para o equilíbrio das contas públicas, envolva velhas práticas, como negociação de cargos públicos. O próprio governo teria se adiantado nessa questão, argumentando que a nova configuração do setor público estava na dependência da atuação dos partidos na votação. Prevaleceu, portanto, o que um líder partidário da base de apoio definiu como mais pragmatismo e menos ideologia.
Independentemente das diferentes visões sobre a questão em exame pelo Congresso, influenciadas por interesses diversos, o fato é que mudanças como as propostas agora se tornaram inadiáveis. Primeiro, porque é preciso corrigir equívocos motivados por incompetência gerencial e interesses eleitoreiros na condução das contas públicas no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Depois, porque é inconcebível o aumento no uso de recursos do seguro- desemprego, antes mesmo de o país começar a reduzir a oferta de vagas, e na concessão de abonos salariais.
Políticos responsáveis, integrando ou não a base de apoio do governo, têm o dever de levar em conta o que é melhor para o país, não apenas para seus eleitores, como ocorre no caso do ajuste fiscal. Isso significa que devem assumir também os ônus, sem precisar recorrer para isso a subterfúgios como a ocupação da máquina pública.
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