REVISTA ISTO É N° Edição: 2370 | 01.Mai.15 - 11:09
Como a crise e a falta de perspectiva ameaçam a juventude mais escolarizada e capacitada que o País já formou.
Camila Brandalise, Fabíola Perez e Raul Montenegro
Há seis meses, o administrador de empresas Carlos Negri, 27 anos, recebeu a notícia mais temida em tempos de crise: a empresa em que trabalhava faria cortes na equipe. Formado em administração de empresas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e com MBA em Riscos e Compliance, o jovem atuava na área de fiscalização e processos da Companhia Siderúrgica Nacional. Com a recessão, as metas de lucro não foram atingidas e ele foi demitido. Assimilado o revés, Negri começou a procurar emprego em sites especializados e a enviar currículos para empresas. Mesmo com formação exemplar e experiência na área, nenhuma empresa o chamou. Neste ano, teve apenas um retorno, mas a vaga não era compatível com seus anseios e ele decidiu procurar mais um pouco. “Contratei até um consultor para ajudar na minha recolocação profissional”, diz. O administrador de empresas faz parte de uma geração de jovens com idade entre 16 e 29 anos, competentes e com bom nível de escolaridade, cujo potencial está deixando de ser aproveitado por causa da crise e do consequente desemprego que assombra o País. Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicado na terça-feira 28 mostrou que a falta de trabalho para essa faixa etária saltou de 12,8% para 15,7% de entre março de 2014 e 2015. Mais de 500 mil jovens estão desocupados nas seis principais metrópoles do País. “A América Latina tem neste momento a geração mais bem educada de sua história e a que mais sofre com as condições irregulares do mercado”, afirma Elizabeth Tinoco, diretora da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para América Latina e Caribe, referindo-se à dificuldade de encontrar vagas e à conseqüente opção pela informalidade. “O desemprego juvenil é elevado, mas é a ponta do iceberg do problema da falta de oportunidades para os iniciantes na vida profissional.”
Neste Dia do Trabalho, comemorado em 1º de maio, os brasileiros não tiveram muito o que celebrar. Segundo o IBGE, aumentou também a taxa geral de desemprego, chegando a 6,2%, maior percentual desde maio de 2011. A crise, claro, é o principal vilão dessa conjuntura. E a população jovem é a que primeiro sente as consequências dos indicadores econômicos ruins. A coordenadora do sistema de pesquisa de emprego e desemprego do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Lúcia Garcia, afirma que há uma redução na presença de jovens no mercado nacional porque as empresas oferecem mais espaço para profissionais maduros. Hoje, a população com menos de 24 anos enfrenta dificuldades por causa da pouca experiência. “As empresas afirmam que eles não têm habilidades e bagagem e eles ainda disputam o espaço no mercado com profissionais com mais conhecimento, na faixa dos 40 e 50 anos.” A apenas dois meses da formatura no curso de Rádio e TV, Guilherme Moitinho, 21 anos, vive a dificuldade de procurar trabalho sem ter exercido nenhuma função na sua área. Nem estágio ele conseguiu, mesmo tentando vagas desde o começo do curso. “Neste ano fiz apenas uma entrevista, mas nem chamado eu fui”, diz. No País, de acordo com a especialista, quase metade dos desempregados são jovens.
Esse fenômeno não é privilégio do Brasil. Em todo o mundo, os profissionais em início de carreira são considerados o segmento mais afetado pelas ondas de desemprego. A crise econômica que abalou o mundo em 2008 fez a taxa de desemprego entre jovens alcançar percentuais entre 40% e 50% em países como Portugal e Espanha. “No Brasil não é diferente, os jovens ganham pouco e têm menos oportunidades no mercado”, afirma Lúcia Garcia, do Dieese. Influenciados por esse conjunto de fatores negativos, eles acabam escolhendo segmentos da economia com menos dificuldades. Segundo ela, muitos buscam o primeiro emprego no setor do comércio e depois não conseguem mudar de área em função da pouca experiência em outras atividades. É o caso de Juliana Thaís Paes dos Santos, 20 anos, técnica em Turismo e Farmácia e atualmente estudante de Química numa escola profissionalizante. Depois de ser demitida do emprego de recepcionista em uma concessionária de veículos importados em São José dos Campos, no interior de São Paulo, em outubro de 2014, já mandou mais de uma centena de currículos, até para setores sem relação com sua formação. “Fiz umas 15 entrevistas, até emprego em caixa de loja já tentei”, diz. “Estou procurando trabalho principalmente para pagar a faculdade de Engenharia Química que quero cursar.”
Ainda que a crise econômica seja o desencadeador da falta de emprego, há outro ponto que deve ser levado em consideração quando o assunto é mercado de trabalho: a educação. Nesse quesito, o Brasil vive uma contradição. Embora o ensino superior tenha chegado à classe C e mais pessoas se qualifiquem em faculdades, cursos de extensão e técnicos, o mercado de trabalho apresenta condições ruins para absorver essa nova mão de obra especializada porque o sistema educacional não prepara o aluno para a vida profissional. Desde a formação básica, o ensino brasileiro é pautado no desempenho em provas, como vestibular. “Nosso sistema está falido em termos de formação profissional. Há mais preocupação com o vestibular do que com o mercado de trabalho”, afirma Maurício Sampaio, fundador do Instituto MS de Coaching de Carreira. Para o especialista, a legislação educacional está fora do contexto e não percebe hoje o que o mercado vai exigir do profissional no futuro. “Essa geração tem muito potencial e poderia criar mudanças econômicas e sociais muito maiores do que já está fazendo”, afirma Sampaio, que foi diretor de instituição de ensino por mais de 20 anos. “As escolas e universidades precisam discutir valores, competências socioemocionais, propósitos, identidades. E isso não acontece.”
Uma das consequências mais graves do crescimento da taxa de desemprego é o aumento da informalidade. Um estudo da OIT divulgado na quarta-feira 22 revelou que existem hoje pelo menos 27 milhões de jovens na América Latina que trabalham em condições informais. O relatório estimou que seis em cada dez postos de trabalho disponíveis para essa faixa etária são empregos com baixos salários, sem contratos, estabilidade, proteção social ou direitos trabalhistas. “Estamos diante de um desafio político importante, já que o elevado desemprego e informalidade configuram um quadro de desalento e falta de oportunidades que pode comprometer a trajetória futura dos jovens no mercado”, afirma o especialista em emprego juvenil da OIT, Guillermo Dema. O engenheiro ambiental Johann Constantino Lima, 24 anos, está desde janeiro de 2014 trabalhando sob condições informais. Formado pela Fundação Santo André, em São Paulo, ele fez estágios desde o segundo ano da faculdade. Chegou a atuar por um ano e meio no Instituto Geológico do Estado de São Paulo, mas desde setembro de 2014 presta trabalhos esporádicos. Lima afirma procurar emprego diariamente. Só neste ano, enviou mais de 40 currículos, até agora sem nenhum retorno sequer. “É ruim ficar na informalidade, sem convênio médico e sem ter como comprovar a experiência”, diz ele. “Se a situação não melhorar até o final do ano, pretendo sair do País para trabalhar ou cursar um mestrado.”
Diante de um cenário tão desanimador, a questão é como criar alternativas para resolver o problema. Segundo Ruy Braga, professor da Universidade de São Paulo (USP) especializado em Sociologia do Trabalho, seria preciso regular o mercado de trabalho e não flexibilizá-lo. “Porque cada vez que se flexibiliza também se desestimula a empresa a investir em ciência e tecnologia e em ganhos de produtividade.” Por parte da iniciativa privada, algumas alternativas são criadas para detectar falhas e aproveitar a mão-de-obra disponível. A empresa de consultoria estratégica McKinsey, presente em diferentes países do mundo, por exemplo, elaborou um programa chamado Generation, que detecta as necessidades dos empregadores, seleciona os jovens profissionais e monta cursos para ensinar habilidades e competências necessárias para determinadas vagas. “Estamos criando uma metodologia para possibilitar o ensino em grande escala”, afirma Mona Mourshed, especialista em educação e líder em prática de ensino da McKinsey. Os cursos ensinam habilidades técnicas e comportamentais, como resolução de problemas e capacidade de comunicação para cada área. “Nosso objetivo é que em cinco anos possamos ajudar 1 milhão de jovens de cinco países a conseguir emprego”, diz. Por aqui, o programa está em fase de implantação. “As empresas precisam desenvolver iniciativas para que a juventude tenha total domínio sobre tecnologias e ferramentas básicas de informática”, diz João Baptista Brandão, professor de liderança, gestão de pessoas e carreiras da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “O governo, por sua vez, pode ajudar com programas de qualificação em parceria com instituições privadas.”
Especialistas concordam que além da crise, com recessão econômica e corte de vagas, e das falhas no sistema educacional para formação de profissionais, atualmente as novas gerações não encontram o espaço adequado a seus anseios e habilidades nas empresas, que em muitos casos ainda têm uma mentalidade antiquada em relação ao papel do trabalho na vida das pessoas. “A geração atual prefere seguir o caminho contrário dos pais. Antes, era comum escolher um curso mais tradicional, como administração ou direito, ficar muito tempo na mesma empresa e ver o trabalho apenas como meio de ganhar dinheiro”, afirma o coach Maurício Sampaio. “Mas esses jovens procuram propósitos no ambiente profissional, querem se sentir parte de um grupo que busca resultados. Se não tiverem isso, vão ficar desmotivados.” Em contrapartida, uma das críticas que se faz à atual juventude é que ela tende a pular etapas e por isso é difícil reter essa mão-de-obra. “A companhia perde eficiência e os jovens acabam sem aprender os processos”, afirma Brandão, da FGV.
Para Eduardo Zylberstajn, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a situação deve piorar antes de melhorar. “A dificuldade de entrar no mercado torna mais difícil o ganho de experiência e isso afeta principalmente os mais jovens. Períodos de crise têm impactos de longo prazo na vida dos trabalhadores”, diz. O sociólogo Ruy Braga vê a multidão de jovens desempregados e desiludidos com o desmoronamento de suas expectativas como um barril de pólvora para a política nacional. “Essa insatisfação tem um potencial explosivo muito grande. Os protestos que vimos na Espanha em 2011 e no Brasil em junho de 2013 provavelmente serão vistos de novo em um período bem próximo”, afirma. Deixar de aproveitar essa nova mão de obra para o desenvolvimento do País pode ser algo altamente comprometedor. “Se o desemprego continuar aumentando, teremos problema com a nossa juventude”, diz Lúcia, do Dieese. “Na década de 1990, tivemos uma geração totalmente perdida em função da elevada taxa de desemprego e agora não podemos assistir o mercado se desestruturar novamente.” Previsões mostram que a economia brasileira deverá começar a se reestruturar somente em 2017. Ainda não começamos a viver uma tragédia, atestam os especialistas, mas com o mercado estagnado, o futuro profissional da melhor geração do Brasil está em jogo.
Como a crise e a falta de perspectiva ameaçam a juventude mais escolarizada e capacitada que o País já formou.
Camila Brandalise, Fabíola Perez e Raul Montenegro
Há seis meses, o administrador de empresas Carlos Negri, 27 anos, recebeu a notícia mais temida em tempos de crise: a empresa em que trabalhava faria cortes na equipe. Formado em administração de empresas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e com MBA em Riscos e Compliance, o jovem atuava na área de fiscalização e processos da Companhia Siderúrgica Nacional. Com a recessão, as metas de lucro não foram atingidas e ele foi demitido. Assimilado o revés, Negri começou a procurar emprego em sites especializados e a enviar currículos para empresas. Mesmo com formação exemplar e experiência na área, nenhuma empresa o chamou. Neste ano, teve apenas um retorno, mas a vaga não era compatível com seus anseios e ele decidiu procurar mais um pouco. “Contratei até um consultor para ajudar na minha recolocação profissional”, diz. O administrador de empresas faz parte de uma geração de jovens com idade entre 16 e 29 anos, competentes e com bom nível de escolaridade, cujo potencial está deixando de ser aproveitado por causa da crise e do consequente desemprego que assombra o País. Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicado na terça-feira 28 mostrou que a falta de trabalho para essa faixa etária saltou de 12,8% para 15,7% de entre março de 2014 e 2015. Mais de 500 mil jovens estão desocupados nas seis principais metrópoles do País. “A América Latina tem neste momento a geração mais bem educada de sua história e a que mais sofre com as condições irregulares do mercado”, afirma Elizabeth Tinoco, diretora da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para América Latina e Caribe, referindo-se à dificuldade de encontrar vagas e à conseqüente opção pela informalidade. “O desemprego juvenil é elevado, mas é a ponta do iceberg do problema da falta de oportunidades para os iniciantes na vida profissional.”
Neste Dia do Trabalho, comemorado em 1º de maio, os brasileiros não tiveram muito o que celebrar. Segundo o IBGE, aumentou também a taxa geral de desemprego, chegando a 6,2%, maior percentual desde maio de 2011. A crise, claro, é o principal vilão dessa conjuntura. E a população jovem é a que primeiro sente as consequências dos indicadores econômicos ruins. A coordenadora do sistema de pesquisa de emprego e desemprego do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Lúcia Garcia, afirma que há uma redução na presença de jovens no mercado nacional porque as empresas oferecem mais espaço para profissionais maduros. Hoje, a população com menos de 24 anos enfrenta dificuldades por causa da pouca experiência. “As empresas afirmam que eles não têm habilidades e bagagem e eles ainda disputam o espaço no mercado com profissionais com mais conhecimento, na faixa dos 40 e 50 anos.” A apenas dois meses da formatura no curso de Rádio e TV, Guilherme Moitinho, 21 anos, vive a dificuldade de procurar trabalho sem ter exercido nenhuma função na sua área. Nem estágio ele conseguiu, mesmo tentando vagas desde o começo do curso. “Neste ano fiz apenas uma entrevista, mas nem chamado eu fui”, diz. No País, de acordo com a especialista, quase metade dos desempregados são jovens.
Esse fenômeno não é privilégio do Brasil. Em todo o mundo, os profissionais em início de carreira são considerados o segmento mais afetado pelas ondas de desemprego. A crise econômica que abalou o mundo em 2008 fez a taxa de desemprego entre jovens alcançar percentuais entre 40% e 50% em países como Portugal e Espanha. “No Brasil não é diferente, os jovens ganham pouco e têm menos oportunidades no mercado”, afirma Lúcia Garcia, do Dieese. Influenciados por esse conjunto de fatores negativos, eles acabam escolhendo segmentos da economia com menos dificuldades. Segundo ela, muitos buscam o primeiro emprego no setor do comércio e depois não conseguem mudar de área em função da pouca experiência em outras atividades. É o caso de Juliana Thaís Paes dos Santos, 20 anos, técnica em Turismo e Farmácia e atualmente estudante de Química numa escola profissionalizante. Depois de ser demitida do emprego de recepcionista em uma concessionária de veículos importados em São José dos Campos, no interior de São Paulo, em outubro de 2014, já mandou mais de uma centena de currículos, até para setores sem relação com sua formação. “Fiz umas 15 entrevistas, até emprego em caixa de loja já tentei”, diz. “Estou procurando trabalho principalmente para pagar a faculdade de Engenharia Química que quero cursar.”
Ainda que a crise econômica seja o desencadeador da falta de emprego, há outro ponto que deve ser levado em consideração quando o assunto é mercado de trabalho: a educação. Nesse quesito, o Brasil vive uma contradição. Embora o ensino superior tenha chegado à classe C e mais pessoas se qualifiquem em faculdades, cursos de extensão e técnicos, o mercado de trabalho apresenta condições ruins para absorver essa nova mão de obra especializada porque o sistema educacional não prepara o aluno para a vida profissional. Desde a formação básica, o ensino brasileiro é pautado no desempenho em provas, como vestibular. “Nosso sistema está falido em termos de formação profissional. Há mais preocupação com o vestibular do que com o mercado de trabalho”, afirma Maurício Sampaio, fundador do Instituto MS de Coaching de Carreira. Para o especialista, a legislação educacional está fora do contexto e não percebe hoje o que o mercado vai exigir do profissional no futuro. “Essa geração tem muito potencial e poderia criar mudanças econômicas e sociais muito maiores do que já está fazendo”, afirma Sampaio, que foi diretor de instituição de ensino por mais de 20 anos. “As escolas e universidades precisam discutir valores, competências socioemocionais, propósitos, identidades. E isso não acontece.”
Uma das consequências mais graves do crescimento da taxa de desemprego é o aumento da informalidade. Um estudo da OIT divulgado na quarta-feira 22 revelou que existem hoje pelo menos 27 milhões de jovens na América Latina que trabalham em condições informais. O relatório estimou que seis em cada dez postos de trabalho disponíveis para essa faixa etária são empregos com baixos salários, sem contratos, estabilidade, proteção social ou direitos trabalhistas. “Estamos diante de um desafio político importante, já que o elevado desemprego e informalidade configuram um quadro de desalento e falta de oportunidades que pode comprometer a trajetória futura dos jovens no mercado”, afirma o especialista em emprego juvenil da OIT, Guillermo Dema. O engenheiro ambiental Johann Constantino Lima, 24 anos, está desde janeiro de 2014 trabalhando sob condições informais. Formado pela Fundação Santo André, em São Paulo, ele fez estágios desde o segundo ano da faculdade. Chegou a atuar por um ano e meio no Instituto Geológico do Estado de São Paulo, mas desde setembro de 2014 presta trabalhos esporádicos. Lima afirma procurar emprego diariamente. Só neste ano, enviou mais de 40 currículos, até agora sem nenhum retorno sequer. “É ruim ficar na informalidade, sem convênio médico e sem ter como comprovar a experiência”, diz ele. “Se a situação não melhorar até o final do ano, pretendo sair do País para trabalhar ou cursar um mestrado.”
Diante de um cenário tão desanimador, a questão é como criar alternativas para resolver o problema. Segundo Ruy Braga, professor da Universidade de São Paulo (USP) especializado em Sociologia do Trabalho, seria preciso regular o mercado de trabalho e não flexibilizá-lo. “Porque cada vez que se flexibiliza também se desestimula a empresa a investir em ciência e tecnologia e em ganhos de produtividade.” Por parte da iniciativa privada, algumas alternativas são criadas para detectar falhas e aproveitar a mão-de-obra disponível. A empresa de consultoria estratégica McKinsey, presente em diferentes países do mundo, por exemplo, elaborou um programa chamado Generation, que detecta as necessidades dos empregadores, seleciona os jovens profissionais e monta cursos para ensinar habilidades e competências necessárias para determinadas vagas. “Estamos criando uma metodologia para possibilitar o ensino em grande escala”, afirma Mona Mourshed, especialista em educação e líder em prática de ensino da McKinsey. Os cursos ensinam habilidades técnicas e comportamentais, como resolução de problemas e capacidade de comunicação para cada área. “Nosso objetivo é que em cinco anos possamos ajudar 1 milhão de jovens de cinco países a conseguir emprego”, diz. Por aqui, o programa está em fase de implantação. “As empresas precisam desenvolver iniciativas para que a juventude tenha total domínio sobre tecnologias e ferramentas básicas de informática”, diz João Baptista Brandão, professor de liderança, gestão de pessoas e carreiras da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “O governo, por sua vez, pode ajudar com programas de qualificação em parceria com instituições privadas.”
Especialistas concordam que além da crise, com recessão econômica e corte de vagas, e das falhas no sistema educacional para formação de profissionais, atualmente as novas gerações não encontram o espaço adequado a seus anseios e habilidades nas empresas, que em muitos casos ainda têm uma mentalidade antiquada em relação ao papel do trabalho na vida das pessoas. “A geração atual prefere seguir o caminho contrário dos pais. Antes, era comum escolher um curso mais tradicional, como administração ou direito, ficar muito tempo na mesma empresa e ver o trabalho apenas como meio de ganhar dinheiro”, afirma o coach Maurício Sampaio. “Mas esses jovens procuram propósitos no ambiente profissional, querem se sentir parte de um grupo que busca resultados. Se não tiverem isso, vão ficar desmotivados.” Em contrapartida, uma das críticas que se faz à atual juventude é que ela tende a pular etapas e por isso é difícil reter essa mão-de-obra. “A companhia perde eficiência e os jovens acabam sem aprender os processos”, afirma Brandão, da FGV.
Para Eduardo Zylberstajn, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a situação deve piorar antes de melhorar. “A dificuldade de entrar no mercado torna mais difícil o ganho de experiência e isso afeta principalmente os mais jovens. Períodos de crise têm impactos de longo prazo na vida dos trabalhadores”, diz. O sociólogo Ruy Braga vê a multidão de jovens desempregados e desiludidos com o desmoronamento de suas expectativas como um barril de pólvora para a política nacional. “Essa insatisfação tem um potencial explosivo muito grande. Os protestos que vimos na Espanha em 2011 e no Brasil em junho de 2013 provavelmente serão vistos de novo em um período bem próximo”, afirma. Deixar de aproveitar essa nova mão de obra para o desenvolvimento do País pode ser algo altamente comprometedor. “Se o desemprego continuar aumentando, teremos problema com a nossa juventude”, diz Lúcia, do Dieese. “Na década de 1990, tivemos uma geração totalmente perdida em função da elevada taxa de desemprego e agora não podemos assistir o mercado se desestruturar novamente.” Previsões mostram que a economia brasileira deverá começar a se reestruturar somente em 2017. Ainda não começamos a viver uma tragédia, atestam os especialistas, mas com o mercado estagnado, o futuro profissional da melhor geração do Brasil está em jogo.
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