ZERO HORA 3 de maio de 2015 | N° 18151
INFORME ESPECIAL | Tulio Milman
Tenho uma proposta impopular de emenda orçamentária para o ano que vem. Investir uma parte do dinheiro que o governo nos toma em uma investigação séria sobre as raízes da crise do Rio Grande do Sul. Quero juiz de fora. Alguém que possa olhar o quadro com distanciamento crítico. Hoje, só me oferecem uma explicação covarde para esse fenômeno: a situação é estrutural e veio se formando ao longo do tempo.
Entendi. A bagunça das nossas finanças é uma espécie de monstro sem pai nem mãe, filho de uma geração espontânea inspirada pelo demônio. Pra cima de mim, não. Em algum momento da História, isso tudo começou. Em algum momento da História, pessoas e instituições deram aquela vantagenzinha aqui, criaram aquele arremedo de lei ali, se omitiram acolá. Essa bagunça não nasceu sozinha.
Se não olharmos com seriedade para o passado, seremos ainda mais cegos no futuro.
Os clichês nos emburrecem, ou se aproveitam de um terreno já fértil. “Não adianta olhar para trás.” Claro que adianta. É a única coisa que adianta nesse festival de irresponsabilidades que nos levou à falência. É preciso dissecar o monstro. Abrir suas entranhas.
Minha motivação não é punitiva. A punição é consequência. Nós, gaúchos e brasileiros, temos o direito de compreender como tudo isso começou e se formou. Não sou tão ingênuo assim. Sei que essa revelação nada divina interessa pouco aos atores do circo político. Ela destruiria o pacto de mediocridade vigente. “Jogamos todos a culpa no sistema e aí estamos livres para suturar mais braços e pernas no Frankstein.” Depois, na hora da eleição, acusamos uns aos outros de corruptos e de ineficientes. Quem ganhar passa a defender automaticamente a tese da união e da valorização da política. Quem perder, continua xingando. E o monstro enchendo a pança.
Vou aplaudir de pé o dia em que alguém tiver coragem de mapear geneticamente essa besta que devora nossas carteiras e nossas esperanças. Ela tem pais e mães. Garanto.
Não prego aqui o dedo no rosto e a caça às bruxas. Quero a compreensão antes do julgamento. Até para que ele seja justo.
Sem isso, até a neodieta orçamentária implantada por José Ivo Sartori vai pro beleléu rapidamente. No próximo governo, ou no último ano de gestão. Não adianta fechar a ponta do cano se o esgoto continua a pressionar o sistema. Vai explodir de novo.
É aquela diferença entre perder peso – para depois achar – e ser mais magro. O Rio Grande do Sul até poderá ficar com menos quilos na balança. Mas a cabeça, a cabeça continuará sendo a de um obeso compulsivo. A menos que a gente queira atacar a causa e não apenas o sintoma.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - O colunista esqueceu de inserir no quadro ilustrativo o número de mortes pelas mãos do crime.
INFORME ESPECIAL | Tulio Milman
Tenho uma proposta impopular de emenda orçamentária para o ano que vem. Investir uma parte do dinheiro que o governo nos toma em uma investigação séria sobre as raízes da crise do Rio Grande do Sul. Quero juiz de fora. Alguém que possa olhar o quadro com distanciamento crítico. Hoje, só me oferecem uma explicação covarde para esse fenômeno: a situação é estrutural e veio se formando ao longo do tempo.
Entendi. A bagunça das nossas finanças é uma espécie de monstro sem pai nem mãe, filho de uma geração espontânea inspirada pelo demônio. Pra cima de mim, não. Em algum momento da História, isso tudo começou. Em algum momento da História, pessoas e instituições deram aquela vantagenzinha aqui, criaram aquele arremedo de lei ali, se omitiram acolá. Essa bagunça não nasceu sozinha.
Se não olharmos com seriedade para o passado, seremos ainda mais cegos no futuro.
Os clichês nos emburrecem, ou se aproveitam de um terreno já fértil. “Não adianta olhar para trás.” Claro que adianta. É a única coisa que adianta nesse festival de irresponsabilidades que nos levou à falência. É preciso dissecar o monstro. Abrir suas entranhas.
Minha motivação não é punitiva. A punição é consequência. Nós, gaúchos e brasileiros, temos o direito de compreender como tudo isso começou e se formou. Não sou tão ingênuo assim. Sei que essa revelação nada divina interessa pouco aos atores do circo político. Ela destruiria o pacto de mediocridade vigente. “Jogamos todos a culpa no sistema e aí estamos livres para suturar mais braços e pernas no Frankstein.” Depois, na hora da eleição, acusamos uns aos outros de corruptos e de ineficientes. Quem ganhar passa a defender automaticamente a tese da união e da valorização da política. Quem perder, continua xingando. E o monstro enchendo a pança.
Vou aplaudir de pé o dia em que alguém tiver coragem de mapear geneticamente essa besta que devora nossas carteiras e nossas esperanças. Ela tem pais e mães. Garanto.
Não prego aqui o dedo no rosto e a caça às bruxas. Quero a compreensão antes do julgamento. Até para que ele seja justo.
Sem isso, até a neodieta orçamentária implantada por José Ivo Sartori vai pro beleléu rapidamente. No próximo governo, ou no último ano de gestão. Não adianta fechar a ponta do cano se o esgoto continua a pressionar o sistema. Vai explodir de novo.
É aquela diferença entre perder peso – para depois achar – e ser mais magro. O Rio Grande do Sul até poderá ficar com menos quilos na balança. Mas a cabeça, a cabeça continuará sendo a de um obeso compulsivo. A menos que a gente queira atacar a causa e não apenas o sintoma.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - O colunista esqueceu de inserir no quadro ilustrativo o número de mortes pelas mãos do crime.
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