ZERO HORA 04 de maio de 2015 | N° 18152
EDITORIAL
O grande saldo do debate provocado pelo projeto de lei sobre o ensino do criacionismo nas escolas das redes pública e privada do Estado é que põe em questão o direito à informação, desde que esta não seja imposta. A proposta, apresentada pela deputada Liziane Bayer, somente pode prosperar se permitir a abordagem do assunto sob o ponto de vista do conhecimento, e não como proselitismo religioso. A ressalva é importante, para que a escola não se transforme em espaço de discussão de crenças, até porque, constitucionalmente, todos devem respeitar mutuamente as convicções de fé.
O que a escola pode fazer, desde que tal tema esteja contemplado em currículo, é esclarecer para jovens em formação que o mundo convive com diferentes visões e conceitos de criação e evolução. Esse seria um debate educador. A escola contemporânea não pode se negar a tratar da existência de entendimentos segundo os quais o mundo foi criado por Deus. E, ao mesmo tempo, deve colocar ao lado dessa concepção as informações sobre a criação do Universo segundo o que indica o consenso entre os cientistas. Estudantes têm, sim, o direito de entender por que duas visões que a maioria considera antagônicas, e que muitos julgam ser complementares, ainda dividem a humanidade.
Os limites entre conhecimento e pregação devem ser bem definidos. Não é razoável que alguém proponha que as escolas passem a defender, compulsoriamente, o criacionismo como verdade absoluta sobre o começo da vida. Assim como não se concebe que uma pretensa racionalidade se negue a debater os significados e o alcance de tal percepção, ou a filosofia, a teologia e a cultura em geral não teriam sentido.
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